Intensificação foi a palavra utilizada mais de uma vez pelo produtor Maciano Bezerra, 41 anos, natural do município de Russas e atualmente um dos principais fornecedores de sementes (raquetes) de palma para o projeto do Governo do Ceará de distribuição de sementes e mudas, o Hora de Plantar. A palavra intensificar não é usada à toa. Ela representa o que há de mais moderno no manejo de uma propriedade de pequeno ou médio porte. Significa o bom uso dos recursos disponíveis, do solo à água e tecnologia, planejamento e o aproveitamento técnico e humano desse material, alcançando bons resultados a custos menores. A série de reportagens Novos Sertões acompanhou com exclusividade essa experiência.
No último dia 6 de outubro, diretores da Ematerce (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará) visitaram a Valle Verde Agropecuária, propriedade do agricultor Maciano Bezerra, uma das bem sucedidas experiências de uso integrado de produção agropecuária, com 100% de aproveitamento do potencial animal, vegetal e tecnológico.
Com um total plantado de 18,5 hectares de palma forrageira irrigada, 14 de mandioca, 18,5 de sorgo, 1,5 de capim capiaçu e dois de quatro variedades de uva, Maciano gerencia um potencial que cresce a cada ano, emprega diretamente com carteira assinada 12 pessoas e indiretamente cerca de 60. Nos próximos meses, ele venderá 18 toneladas de sementes de sorgo para o Projeto Hora de Plantar, do Governo do Ceará, executado pela Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA), em parceria com a Ematerce. Em 2021, o Hora de Plantar beneficiará cerca de 160 mil agricultores familiares com sementes de feijão, milho, sorgo, palma, maniva de mandioca, mudas nativas e frutíferas.
O Hora de Plantar completa em 2021 34 anos de existência ininterrupta, como uma das políticas públicas estruturantes voltadas para a agricultura familiar no Estado do Ceará. A visita foi acompanhada pelo presidente da Ematerce Antônio Amorim, o diretor técnico Itamar Lemos e o engenheiro agrônomo Henrique Araújo Lima.
Além das 18 toneladas de sorgo, o produtor também se organizada para entregar ao programa cerca de 10 toneladas de palma, hoje comercializada por R$7,00 o quilo, aproximadamente. “Pra o ano que vem, estou comprando uma plantadeira e uma arrancadeira, vou ampliar a área de plantio, porque também temos demanda cada vez mais crescente”, explicar Maciano.
Dia de campo
Para os próximos meses, técnicos da Ematerce e Sebrae (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) planejam um Dia de Campo sobre o cultivo da mandioca adensada, onde o produtor poderá demonstrará técnicas de manejo dessa cultura em sua propriedade, com alta produtividade e o seu uso não apenas para o consumo humano, mas para a ração bovina.
Toda essa experiência de arriscar, conhecer a produção e o seu manejo, estruturar o trabalho, a mão de obra, começou lá atrás, há mais de seis anos, segundo o produtor, com o acompanhamento do diretor Itamar Lemos, do coordenador de Pecuária da SDA, Márcio Peixoto, e do especialista de sementes da SDA, Marcos Vinícius, entusiastas do cultivo da palma forrageira como alternativa para reserva estratégica alimentar animal.
“Quando começamos, poucos acreditavam que a palma daria certo. Iniciamos com a cultivar gigante, porque não encontramos outro material. Seis meses depois de um contato com o Márcio pelo Hora de Plantar, demos início à plantação da espécie Orelha de Elefante, Miúda e Sertânia, trazidas de Pernambuco e resistentes a praga da cochonilha do carmim. Hoje, está aí o sucesso. Assim, estamos fazendo também com a mandioca. Erramos em alguns processos, mas isso faz parte da aprendizagem, do crescimento; não podemos parar nas primeiras dificuldades”, diz empolgado Maciano.
De olho no mercado
Quando a visita técnica chega na plantação de sorgo, Maciano reforça a experiência de observar a movimentação do mercado e como aproveitar ao máximo as oportunidades para gerar mais emprego, renda e trabalho. “Sergipe, Alagoas e Bahia que não tem tradição na produção de sorgo, já estão se articulando para atender o mercado.”, confirma Maciano.
Observar as tendências e oportunidades é o que produtor de Russas mais tem feito nos últimos anos. Com o aumento da procura da uva, já se organiza para destinar mais hectares para o plantio da fruta. Enquanto demonstrava a experiência com a produção de leite e criação de 60 animais confinados, um comprador do município de Mossoró/RN aguardava para a compra de uva. O jovem empresário é apenas um dos que comercializam a fruta produzida no Ceará. Pernambuco é outro destino de uma das espécies cultivadas no Valle Verde.
Sustentável, produtiva e rentável
A intensificação da atividade na Valle Verde pode ser identificada em cada metro quadrado. As 85 placas fotovoltaicas que produzem energia solar no total de 3.600 kilowatts (kW) representam mais do que economia de uma conta de quase R$2mil, significam mais em investimento, em crescimento e trabalho e produção limpa e sustentável. As placas foram adquiridas via financiamento pelo Banco do Nordeste.
Para o leite vendido para beneficiamento à empresa Betânia e uma queijaria local, o produtor já articula uma outra movimentação para atender ao mercado. Investiu na raça Jersey, uma espécie dócil, de genética reconhecida e que em breve trabalha para venda dos animais. “Hoje, eu tenho uma produção inicial de cerca de 230 litros/dia, mas quero atingir mil litros a partir do confinamento, do balanceamento na alimentação, quero estabilizar a produção do leite e passar a ganhar com a venda dos animais, que já tem um melhoramento genético com a inseminação”, explica o produtor, que pretende investir cada vez mais na atividade integrada da propriedade entre agropecuária e fruticultura. Atualmente, garante Maciano, já existe segurança para ampliar o cultivo de uva, a palma, sorgo e agora a mandioca.