Belém, no Pará, encerrou o lockdown (fechamento dos serviços não essenciais) no dia 25 de maio. Em 6 de junho, os shoppings centers foram liberados a funcionar durante 8 horas por dia, por um decreto municipal. A partir de então, os números da covid-19 aumentaram significativamente no estado e, num ranking nacional, o Pará já aparece em quarto lugar em número de casos e de óbitos, atrás apenas de São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará.
Os números da Secretaria de Saúde do Pará (Sespa), divulgados nesta quinta-feira (11), confirmaram um total de 64.126 casos da doença e 4.030 óbitos em todo o estado. Só na capital, Belém, eram 32.913 pessoas infectadas até o dia 10 de junho.
Por isso, o estado tem pressa. Por via aérea, o Hospital Geral de Belém recebeu, por empréstimo, dois respiradores artificiais, que vieram do Hospital das Forças Armadas, em Brasília. O Turbo Hélice da Força Aérea Brasileira levou também duas mil máscaras, cinco mil luvas, dois mil capotes e duas mil toucas para os médicos, enfermeiros e fisioterapeutas.
“Vamos apoiar a população brasileira nesse momento tão difícil. Apoiar a ‘Missão Covid’ deixa a gente muito orgulhosos”, afirmou o 1º Tenente Freitas, que pilotou o avião até Belém.
O isolamento social no Pará também decaiu muito desde a reabertura econômica. Apenas 39% das pessoas cumpriram o isolamento social na véspera do feriado, índice muito abaixo do recomendado pela Organização Mundial da Saúde.
No feriado de Corpus Christi, o movimento diminuiu com o fechamento do comércio de rua. Mas, a feira do Ver-o-Peso, com suas coloridas barraquinhas de frutas, ervas e comidas típicas, abriu normalmente. A feirante Gerusa Morais ainda lamenta a ausência de fregueses:
“O movimento ficou fraco e também o modo das pessoas trabalharem mudou, todo mundo se assustou muito. As pessoas têm mais cuidado com os fregueses e até com a gente mesmo. Para a semana, já vai estar bem melhor, o comércio está começando a abrir”, diz esperançosa.
Ela sabe que “os feirantes de frutas, produto perecível, se não venderem tudo no mesmo dia, perdem a mercadoria para o dia seguinte”. Ao lado da feira, no terminal de lanchas que faz a linha Belém-Barcarena, uma viagem fluvial de 50 minutos de duração, o movimento também diminuiu ainda mais no feriado.
“Está mais seguro, agora o número de passageiros é menor, o pessoal está respeitando. Quando chega num número tolerável, eles param de vender passagem. Eu moro em Barcarena, venho sempre em Belém fazer compras”, disse o técnico agrícola Carlos Gomes.
Além de restringir a venda de passagens, a companhia que opera a linha fluvial obedece a um decreto do governo local: uma declaração do passageiro para poder embarcar.
“Eu vim ontem para Belém por necessidade, eles exigem declaração, se você não especificar, você não pode embarcar. Eu vim numa consulta. Como eu tenho necessidade de vir, tive que vir. Estava todo mundo de máscara, mas não vi ninguém passando álcool gel, além disso estava todo mundo sentado um ao lado do outro”, reclama a assistente administrativa Rejane Gomes.
O comandante Silas Ferreira, que pilota o Expresso Marusa – a lancha rápida que liga a capital a uma das ilhas mais populosas da baía do Guajará – diz que o movimento caiu muito. “Aquele fluxo de gente diminuiu. De 100%, diminuiu para faixa de 40%. Hoje, num feriado desses, não tem 30 pessoas”.
Além disso, outra medida do governo local em tempos de pandemia, é que a lancha é obrigada a abrir as janelas e deixar o ar circular livremente. “Uma lancha dessas não pode ligar o ar-condicionado, a lei diz que a partir de agora não pode mais fechar a lancha, tem que deixar a janela aberta, para o ar circular. Mas, o passageiro não entende e ainda reclama”.
É dessa forma, entre reclamações e adequações, que Belém vem tentando se adaptar ao cenário pós-quarentena.
*O repórter viajou a convite do Ministério da Defesa.
Edição: Bruna Saniele