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Elese promove segundo dia de programação da ‘Semana da Consciência Negra” sobre culinária africana
A Assembleia Legislativa de Sergipe (Alese), por meio da Escola do Legislativo (Elese), deu continuidade nesta terça-feira (18) à programação da Semana da Consciência Negra 2025 – “Presença, Permanência, Respeito e Afirmação”. A iniciativa, que se estende até quarta-feira (19), no Auditório da Elese, busca ampliar os espaços de diálogo sobre a contribuição histórica, cultural e espiritual do povo negro na formação do Brasil, além de fortalecer ações de enfrentamento ao racismo e de valorização da identidade afro-brasileira.
No segundo dia de atividades, a programação contou com a palestra “Comida que veio da África”, ministrada pela chefe de cozinha do restaurante Casa do Dendê, Bianca Oliveira, que abordou as raízes africanas presentes na culinária brasileira. O público também acompanhou a apresentação artística do Grupo Diversificartt, formado por alunos do Centro de Excelência Professor João Carlos de Souza, que apresentou a performance “O Peso do Sagrado”, emocionando os presentes e reforçando a potência da expressão cultural afro-brasileira.
A diretora da Escola do Legislativo, Thelma Pimentel, destacou a relevância do Dia da Consciência Negra como uma oportunidade essencial para que os jovens compreendam sua própria história e reconheçam a contribuição do povo negro na construção do país. “É um evento que eu espero todo ano. Acho inspirador, rico em ideias e ensinamentos, e que chama atenção para a importância de valorizar a contribuição do povo negro para o nosso Brasil. Mesmo quem não quer se aprofundar na história percebe no dia a dia: ele está presente na nossa culinária, no nosso vocabulário, na nossa aparência. Basta olhar a árvore genealógica de qualquer pessoa que lá se encontra um negro. Por que não aceitar essa pluralidade e reconhecer essa dívida histórica, abrindo mais espaços para discussões como essa?”, afirmou. Ela ressaltou ainda que debates sobre o tema não devem acontecer apenas em novembro, destacando iniciativas como o projeto Quintas Negras, que promove palestras, oficinas e diálogos contínuos com foco principalmente nos jovens.
Thelma Pimentel também enfatizou o caráter educativo e transformador da programação especial, reforçando que o aprendizado acontece diariamente. “A gente entende que, quando esses jovens estão aqui, eles vão refletir sobre o papel deles nesse contexto e sobre como podem mudar essa realidade. Ontem tivemos uma apresentação belíssima de capoeira com o grupo do mestre Zeq’ Olliver, e hoje seguimos com discussões importantes, inclusive sobre a culinária brasileira, que carrega fortemente a influência negra. Outro dia, conversando com um professor, aprendi que a capoeira é genuinamente brasileira, algo que eu nunca imaginei. É por isso que não deixamos de realizar esses eventos. Esta é a terceira edição da Semana da Consciência Negra, organizada com muito carinho, buscando palestrantes e temas diversos para que possamos aprender e aprofundar cada vez mais essa discussão”, concluiu.
O coordenador de Assuntos Culturais da Elese, Beneti Nascimento, destacou a importância de abordar a cultura afro-brasileira de forma prática e acessível durante a programação da Semana da Consciência Negra. “Eu sempre fui curioso para entender de onde vinha tudo isso: as comidas, as danças, os costumes. No dia a dia, a gente come acarajé, bobó, xinxim de galinha, bolos e assados, mas muitas vezes não sabe a origem dessas comidas. Por isso convidamos uma chefe de cozinha que abriu, em Aracaju, o restaurante Casa do Dendê, dedicado justamente a esse universo da culinária típica que veio da África e que está presente em nossa mesa, nas nossas celebrações, mesmo quando desconhecemos sua história. Os alunos que vierem hoje vão aprender e talvez cheguem em casa dizendo: ‘Mãe, aquela comida que a senhora faz veio da África’, porque cada prato tem uma narrativa.”
Beneti Nascimento também ressaltou o papel educativo e participativo das apresentações culturais que integram o evento. “Além da palestra com essa pesquisadora e profunda conhecedora da culinária africana que influencia o Brasil, teremos a participação de um grupo de alunos do Centro de Excelência Professor José Carlos de Souza. Eles desenvolvem temáticas relacionadas ao aprendizado escolar e vão dançar elementos da cultura africana e do nosso cotidiano. A ideia é que a Semana da Consciência Negra não traga apenas o pesquisador de cima para baixo, mas também dê espaço ao aluno, para que ele reflita sobre o que ouve, sente, estuda e pesquisa. Essa é a proposta da Escola do Legislativo ao produzir o evento: reunir diversas manifestações culturais presentes em nosso estado e promover um aprendizado significativo e transformador”, afirmou.
A chefe de cozinha Bianca Oliveira destacou a força e a profundidade da culinária afrodiaspórica, especialmente sua chegada e expansão a partir da Bahia. “A culinária afrodiaspórica desembarca diretamente na Bahia, onde os tabuleiros, as baianas e toda a movimentação cultural fortaleceram essa cozinha que hoje se espalha por todo o Nordeste e pelo Brasil. Ela não conta apenas a história das pessoas escravizadas que vieram da África, mas também a continuidade deixada por seus filhos, netos e bisnetos. Eu, assim como outras chefes, tenho o papel de manter essa culinária viva, valorizando cada prato e levando essa herança cada vez mais longe. Muitas das comidas que apreciamos no dia a dia — acarajé, bobó, xinxim — carregam narrativas que muita gente desconhece”, afirmou. Bianca ressaltou ainda que grande parte desses pratos nasceu da resistência: “Os escravizados não tinham direito à alimentação e precisaram usar da inteligência para transformar restos da casa-grande em preparos que se tornaram símbolos nacionais, como a feijoada, que surgiu do que era descartado dos porcos. É uma culinária marcada pela dor, mas também pela genialidade e pela preservação da vida”.
Ela destacou que compreender essas raízes é fundamental para que as novas gerações conheçam sua própria história. “Hoje, muitos jovens comem esses pratos sem saber de onde vieram. Quando eles aprendem, chegam em casa dizendo: ‘Mãe, aquela comida que a senhora faz veio da África’. Isso é poderoso, porque mostra que essa culinária não é apenas memória de sofrimento, mas também de continuidade, de identidade e de orgulho. Ao entender de onde veio cada alimento, a gente entende também de onde veio cada um de nós”, concluiu.
Foto: Jadilson Simões| Agência de Notícias Alese
