“O que tenho vivido como cidadão e médico este ano, não esperava jamais presenciar. Quando ouvi pela primeira vez sobre a Covid-19, lembro que foi em dezembro do ano passado e não acreditava que chegaria no Brasil, muito menos em Aracaju”, foi o que declarou o médico Adriano Souza Tavares, que atua na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) 2, do Hospital de Urgências de Sergipe Governador João Alves Filho. O médico faz um relato emocionante de como é tratar um paciente vítima do coronavírus e que depende de um leito intensivo para lutar pela sobrevivência.
“Lembro bem o quão misterioso e difícil de entender era a doença que não tem medicamento específico para a cura. Tínhamos muito receio, muito medo, dúvidas, condutas que fomos estudar para a proteção da equipe e melhor assistência ao paciente como intubação, reanimação cardiopulmonar, paramentação, desparamentação, tudo estudado e treinado em março para enfrentar a doença. Vi o quanto foi importante estarmos preparados para diagnosticar e tratar precocemente tal doença”, explicou o médico.
Já são dez meses de pandemia e o médico Adriano Souza ainda vive muitas emoções, seja como profissional ou como ser humano. Referência Técnica da UTI 2 do Huse, ele relembra o início da pandemia e da luta em ver os colegas de profissão se afastarem por conta da doença e do cuidado para não haver desassistência ao paciente. Um momento de desespero, segundo o médico.
“Como RT, tive que dar e pedir ajuda aos que ficaram comigo nessa luta para completar escala, a fim de não deixarmos de prestar assistência aos pacientes. Entretanto, esses médicos são meus amigos do dia a dia e vê-los doentes foi um momento muito apreensivo. Lembro quando um deles foi entubado, foi um momento de desespero e medo, já que estava aos poucos perdendo amigos, eu pensava que poderia ser o próximo a precisar de ajuda. Lembro muito bem quando levei o médico para a UTI, meu chão desabou e eu precisei colocar pra fora em forma de choro”, revelou o médico.
O nascimento da filha foi um momento de alegria e muito agradecimento a Deus, diante da pandemia que o mundo estava vivendo. “Foi em meio a pandemia que a minha esposa descobriu a gravidez da nossa primeira filha. A minha filha Alícia e minha esposa Carolina foram meu alicerce para continuar a lutar e fazer aquilo que mais amo na vida, que é ser médico de terapia intensiva, ou seja, de UTI. Quando eu caia nas fraquezas elas me levantavam e por isso serei eternamente grato”, enfatizou o médico.
Entubação
O médico Adriano Souza relembra como é a admissão de alguns pacientes na UTI e revela que muitos deles sabem o que está acontecendo à sua volta e quais os procedimentos que vão ser submetidos em decorrência da doença. O paciente da Covid-19, em 99% dos casos, antes de sofrerem a intubação estão cientes de todo o processo, o que torna o procedimento ainda mais sentimental.
“Vou lembrar sempre da forma como os pacientes chegam na admissão, alguns conscientes, lúcidos e orientados, evoluindo satisfatoriamente e sem necessidade de suporte ventilatório. Outros, infelizmente, com os mesmos medicamentos e mesmas ações, evoluem com a necessidade de serem intubados e estão cientes de tudo que está passando em volta. A gente conversa com ele, orienta a necessidade do procedimento, tirar suas angústias, seus medos, e dá o máximo de esperança possível para que ele confie no profissional”, disse Adriano Souza.
Os sentimentos vividos pelo médico dentro da UTI 2 do Huse jamais serão esquecidos. “Lembro que muitos perguntaram a mim se sobreviveriam, se acordariam novamente, se viriam a família. Eu dizia para confiar em Deus que ele comandava tudo na nossa vida. Lembro de muitos rostos que pude ver sair de ventilação e terem alta para casa, jovens, idosos, pacientes com e sem comorbidades. Como também vi rostos que não puderam mais se despedir de seus entes queridos, pelo seu corpo não aguentar e falecer por essa doença”, declarou.
Alerta
O médico Adriano Souza fez um alerta para a população quanto aos cuidados com a doença e agradeceu ao apoio da equipe que trabalha incansavelmente para salvar vidas e combater a Covid-19. “Meu conselho é que se cuidem. Sigam as orientações e façam o isolamento social. Meu agradecimento aos amigos médicos, fisioterapeutas, enfermeiros, serviço social, nutricionistas, secretários, psicólogos, técnicos de enfermagem, pessoal da limpeza, fonoaudiólogos e a todos os profissionais que são fundamentais nessa luta. Não existe função mais importante que a outra, e sim um trabalho em equipe que se torna fundamental na luta dessa pandemia. Obrigado e que Deus continue abençoando nosso esforço a cada dia”, concluiu Adriano Souza.