Sergipe sedia ´III Congresso Brasileiro de Comunicação Pública´ com apoio da Alese

Publicado em: 21/10/2025 01:49

Foi aberto nesta segunda-feira (20), no campus da Universidade Federal de Sergipe (UFS), em São Cristóvão, o “III Congresso Brasileiro de Comunicação Pública (ComPública)”. Organizado pela Associação Brasileira de Comunicação Pública (ABC Pública), o evento reúne, até a próxima quarta-feira (22), cerca de 300 participantes de todas as regiões do país, em uma programação intensa que inclui oficinas, minicursos, mesas de debates, apresentações de pesquisas e a produção de uma carta-manifesto.

A Assembleia Legislativa de Sergipe (Alese) é uma das instituições apoiadoras do evento, por meio do mandato da deputada estadual Linda Brasil (Psol), fortalecendo o compromisso do Parlamento estadual com o direito à informação, à transparência pública e ao enfrentamento das mudanças climáticas.

Com o tema central “Emergência Climática e Direito à Informação”, o congresso se propõe a debater o papel da comunicação pública diante de um dos maiores desafios globais da atualidade: a crise ambiental. O objetivo é discutir como a comunicação pode ser ferramenta de engajamento, conscientização, prevenção e, sobretudo, de promoção da cidadania.

Comunicação pública, cidadania e meio ambiente

Durante a abertura, o presidente da ABC Pública, Jorge Duarte, destacou que o congresso não é apenas um espaço técnico, mas sobretudo um esforço coletivo por uma comunicação mais eficaz, cidadã e inclusiva. Segundo ele, o desafio é garantir que informações relevantes cheguem a todas as pessoas, com clareza e compromisso público.

Jorge Duarte

“Temos uma população com pouco acesso à informação de qualidade, e isso afeta diretamente a capacidade de exercer a cidadania. Quando falamos de emergência climática, não se trata apenas de um alerta científico, mas de uma realidade com impactos diretos na vida das pessoas. Enchentes, queimadas, desastres naturais… tudo isso exige uma população informada e preparada, e isso só é possível com comunicação pública de qualidade. O Estado tem o dever de informar, dialogar e dar acesso ao cidadão”, afirmou.

Jorge também ressaltou a mobilização da equipe local para sediar o evento e agradeceu o apoio da Assembleia Legislativa de Sergipe:

“A escolha de Sergipe como sede nos enche de alegria. A articulação com a UFS foi exemplar, e o apoio institucional de órgãos como a Alese, foi fundamental. Queremos que Aracaju e São Cristóvão se tornem polos permanentes de discussão sobre comunicação pública no Brasil.”

Vivências e expectativas dos participantes

Entre os participantes do congresso está o jornalista Deivid Oliveira, de Poços de Caldas (MG), que atua no Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN). Deivid que é mestre em comunicação e em fase de conclusão de doutorado, veio apresentar um estudo de caso sobre uma campanha de pós-graduação da instituição, e destacou a importância de se debater a comunicação em contextos de crise, especialmente em áreas consideradas sensíveis, como o setor nuclear.

Deivid Oliveira

“Mesmo trabalhando em um contexto pacífico e acadêmico, a área nuclear ainda carrega muitos estigmas e preconceitos. A população, muitas vezes, associa o tema a riscos e catástrofes, por isso precisamos aprender a comunicar de forma precisa, responsável e estratégica. Estou muito interessado nas oficinas e palestras sobre comunicação e crise, justamente porque acredito que nosso papel é informar sem causar pânico, mas também sem omitir riscos. A emergência climática tem uma lógica parecida: não podemos apenas alarmar as pessoas, mas sim mostrar caminhos para que elas ajam de forma consciente e transformadora”, explicou.

Deivid também ressaltou o valor do evento como espaço de troca entre profissionais do setor público.

“Trago aqui experiências do meu dia a dia como comunicador público, e quero ouvir outras vivências. É trocando figurinhas, conhecendo outras realidades, que conseguimos aprimorar nossas práticas. A Compública é esse espaço.”

Formação para o futuro: a visão dos estudantes

A estudante de Jornalismo da UFS, Maria Eduarda, do 6º período, representa a nova geração de comunicadores públicos. Entusiasta da área, ela vê o congresso como uma oportunidade única de aprendizado e amadurecimento profissional, especialmente ao ter contato com especialistas de todo o país.

Maria Eduarda

“A comunicação pública ainda é pouco debatida na graduação. Esse congresso me ajuda a entender como tornar a linguagem institucional mais acessível e próxima da população. Participarei da oficina de “Linguagem Simples” porque sei que a forma como as instituições falam, muitas vezes, afasta as pessoas. E isso precisa mudar.”

Sobre a temática do evento, Maria Eduarda destaca que o papel do comunicador frente à crise climática é essencial para que a população se sinta parte da solução.

“A gente não fala sobre emergência climática todo dia, então é preciso informar bem, explicar com paciência e clareza. O comunicador tem que mostrar que as pessoas podem agir, podem contribuir. E isso se faz com educação e diálogo. Para mim, esse congresso vai marcar minha formação. Vou sair com uma bagagem muito rica.”

Ela também celebrou o fato de Sergipe sediar um evento nacional de grande porte.

“É muito gratificante ver a galera de fora conhecendo nossa cidade, nossa universidade, e vendo que temos uma comunicação forte, tanto pública quanto privada. Um evento como esse mostra que Sergipe está no mapa da comunicação brasileira.”

Comunicação, política e novas tecnologias

Para o assessor de comunicação política Ítalo Duarte, o evento chega em um momento crucial para a área:

Ítalo Duarte

“Vivemos uma transição da comunicação pública do físico para o digital. A sociedade mudou, os canais mudaram, e a comunicação precisa se adaptar, especialmente no poder público. No meu caso, que trabalho com políticos, percebo que a comunicação pública ainda é muito pouco debatida. E é por isso que a Compública é tão relevante. É uma chance de discutir como tornar a comunicação governamental mais eficiente, mais conectada com as pessoas e com os desafios atuais, como a crise climática.”

Ítalo destaca, ainda, o interesse pessoal pelo tema de gerenciamento de crise:

“Quem trabalha com assessoria sabe o quanto somos demandados em momentos críticos. O gerenciamento de crise é uma habilidade essencial para quem atua com comunicação pública. Por isso, quero sair daqui com mais ferramentas, especialmente para tratar temas complexos como mudanças climáticas com mais preparo e responsabilidade.”

Um congresso que conecta universidade, poder público e sociedade

O professor da UFS e organizador local do congresso, Josenildo Luiz Guerra, enfatizou que o evento acontece em um momento importante para a instituição: a implantação do novo curso de doutorado em Comunicação, cujas atividades se iniciam em 2026.

Josenildo Guerra

“É um marco institucional e simbólico. Estamos recebendo profissionais e pesquisadores de todo o Brasil para discutir um tema de enorme relevância social e política. A emergência climática é complexa e, infelizmente, também está sujeita a desinformações. O congresso propõe qualificar esse debate e produzir conhecimento aplicado, que melhore a comunicação pública na prática.”

Josenildo também ressaltou a importância das parcerias institucionais que tornaram possível a realização do evento:

“Tivemos uma rede de apoio fundamental, como o Governo do Estado, a Assembleia Legislativa e vários parceiros privados. Um evento desse porte só acontece com esse esforço coletivo. É uma vitória para Sergipe e para a UFS.”

Emergência climática e direito à informação

Eloísa Galdino

A Comunicóloga, mestra em comunicação e pesquisadora de comunicação política com recorte de gênero e representante da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) em Sergipe, Eloísa Galdino, reforçou que a realização do congresso no estado amplia a visibilidade de um tema ainda pouco compreendido, mas que precisa urgentemente ocupar o centro das discussões públicas:

“A comunicação pública ainda é pouco conhecida pela sociedade, apesar de seu papel essencial. Em tempos de crise democrática, o direito à informação precisa estar no centro da agenda. E a emergência climática tem tudo a ver com isso. Ela impacta diretamente a vida das pessoas, e exige uma comunicação que seja clara, íntegra e responsável. Um congresso como este promove esse debate, aproxima a academia da sociedade e reforça a importância da comunicação pública como pilar da democracia.”

Expectativas e resultados

O congresso deve encerrar sua programação com a leitura de uma Carta Oficial, resultado das reflexões dos três dias de evento. Ainda em definição de nome, Carta de Sergipe ou Carta de Aracaju, o documento trará propostas, diretrizes e reivindicações para fortalecer a comunicação pública no Brasil, com foco na crise climática e no direito à informação.

A ABC Pública, criada em 2017, conta hoje com mais de 430 integrantes em todos os estados brasileiros e tem promovido uma agenda ativa de formação e produção de conteúdo. Segundo Jorge Duarte, o principal diferencial do evento é a motivação dos participantes:

“As pessoas que estão aqui não vieram por obrigação ou formalidade. Vieram porque querem fazer uma comunicação pública melhor. Isso é o que torna esse congresso especial.”

Fotos: Joel Luiz / Agencia de Notícias Alese

Fonte: Agência de Notícias do Estado de SE

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