Faperj investe em produção de colágeno marinho
10 de outubro de 2020
Compostos extraídos de espécies marinhas podem oferecer um alto valor agregado tanto na fabricação de cosméticos, como na produção de medicamentos e na indústria alimentícia. Os colágenos podem ser obtidos de diferentes fontes como as animais, de bovino e suíno, porém podem provocar alergia e doenças autoimunes, além de serem potenciais vetores de doenças transmissíveis como encefalopatia espongiforme bovina, febre aftosa, entre outras. Os de fonte marinha que, normalmente, estão presentes em partes destes animais descartadas pelos aquacultores e podem ser fontes de diversos compostos com baixo risco de transmissão de doenças aos seres humanos.
Pensando nisso, o pesquisador Felipe Castro de Oliveira de Brito Teixeira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), propôs projeto para alavancar uma empresa de biotecnologia, na área de espécies marinhas: a Grisea Biotecnologia. O autor do projeto foi um dos contemplados com uma bolsa dentro do edital “Doutor Empreendedor” da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).
A ideia, segundo Felipe, é produzir colágeno a partir das vísceras do molusco Nodipecten nodosus, vulgarmente conhecido como vieira, cultivado em larga escala por aquacultores no Rio de Janeiro, cujas vísceras são normalmente descartadas após a retirada do músculo, que é vendido para restaurantes.
Pesquisas científicas revelam que, a cada ano, diversos agentes bioativos com propriedades anticâncer, anticoagulantes, anti-inflamatórias são identificados nas esponjas do mar, moluscos, algas, pepinos-do-mar e outros organismos marinhos. E o laboratório da UFRJ, no qual Felipe Castro atua há anos, estuda a atividade biológica dessas moléculas oriundas de diferentes espécies marinhas, tendo identificado propriedades anti-inflamatória e anticâncer.
Felipe Castro terá direito a uma bolsa “Doutor Empreendedor”, para despesas de subsistência, e uma bolsa de iniciação tecnológica, para contratar um graduando na área do projeto, por até 24 meses. Além disso, receberá um auxílio de até 50 mil reais para adquirir itens necessários ao desenvolvimento inicial da empresa. Em contrapartida, o edital demanda que os contemplados no edital se instalem em algum mecanismo de geração de empreendimentos inovadores. No caso do Felipe, a empresa Grisea Biotecnologia, que contará ainda com uma parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Para o diretor de tecnologia da Faperj, Maurício Guedes, o edital “Doutor Empreendedor”, que investirá R$ 5 milhões em projetos inovadores, a iniciativa visa avançar em uma mudança cultural no Brasil.
– Ao contrário do que se imagina entre nós, a maior parte dos pesquisadores no mundo trabalha em empresas. Somos recordistas mundiais em concentração de pesquisadores nas universidades. Isto nos posiciona bem no ranking mundial da produção científica, mas ficamos numa posição vergonhosa quando se fala em capacidade de inovação da economia. Este edital mostra aos jovens doutorandos que buscar a transformação de conhecimento em emprego, renda e produtos inovadores é uma opção de carreira extremamente nobre e desafiadora, afirma Guedes.