Dia das Mulheres e Meninas na Ciência: data marca igualdade de direitos
11 de fevereiro de 2021
Por Raquel Faillace
Para marcar a importância da contribuição feminina na área científica ao longo da história, foi instituído em 2015, pela Assembleia das Nações Unidas, o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, comemorado em 11 de fevereiro. A data é um marco para a promoção da igualdade de direitos entre homens e mulheres em todos os níveis do sistema educacional.
De acordo com dados da Unesco, atualmente, somente 28% dos pesquisadores em todo o mundo são mulheres. Ainda segundo a Organização, as mulheres têm menos acesso a investimentos, a redes de estudo e até mesmo a cargos “sênior” nas empresas, o que as coloca em profunda desvantagem.
Contrariando as estatísticas, a jovem Ana Beatriz Pimenta, de 17 anos, aluna da Escola Técnica Estadual Henrique Lage, unidade pertencente à Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec), em Niterói, Região Metropolitana do Rio, desde cedo está inserida no mundo da Ciência. Ela é integrante do projeto intitulado como Medidor de Temperatura via Wi-Fi. A invenção conquistou a 14ª Fecti – a maior feira de ciências voltada para a Educação Básica do Estado do Rio de Janeiro – e foi indicada para a Feira Brasileira de Ciências e Engenharia de Criatividade e Inovação (Febrace), da USP, em março. O medidor de temperatura é a grande aposta dos alunos da Faetec na área da saúde.
Capaz de identificar se uma pessoa está com febre e informar em tempo real para o smartphone do responsável, o dispositivo criado por Ana Beatriz, Millena Santos e Ana Clara Antunes, sob a orientação do professor Altair dos Santos, poderá se tornar um aliado no tratamento da Covid-19 e de diversas doenças.
– O monitoramento da febre se tornou uma grande preocupação da população no mundo, e muitas pessoas não são capazes de medir sua própria temperatura, seja por alguma deficiência ou até mesmo por falta de conhecimento. Por isso, acreditamos que o dispositivo ajudará a identificar a presença do sintoma de quem precisa de um cuidado especial e que nem sempre está sob a supervisão de alguém – avalia Ana Beatriz.
A estudante falou sobre a importância de incentivar nas meninas o interesse pela Ciência.
– Desde pequenas nós somos acostumadas a ver figuras masculinas atuando na área de eletrônica. Às vezes, a gente acha interessante, mas não tem a chance de ter acesso a essas disciplinas. Trabalhar com eletrônica me fez ver que isso não é algo masculino, e eu queria que muitas meninas tivessem a chance de enxergar isso também.
Veterinária brilha em festival
Pós-doutoranda na Universidade Federal Fluminense (UFF) com bolsa da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj), a médica veterinária Gabriela Ramos Leal, de 34 anos, venceu na categoria “escolha do público” o Farmelab, maior festival de divulgação científica do mundo e organizado pelo British Council. Trata-se de uma competição entre centenas de jovens cientistas sobre a capacidade de comunicar ao público não especializado, e em apenas três minutos, os dados mais importantes de um projeto de pesquisa socialmente relevante e quase sempre bastante complexo.
A narrativa de Gabriela foi sobre a “magia” da Ciência na criopreservação de embriões, com direito a comparações e referências às “princesas da Disney” que habitavam seu quarto na infância. Ela também foi vencedora da etapa nacional da competição. Gabriela acredita que a desigualdade de gênero é uma realidade em diversas áreas, e na Ciência não seria diferente
– Por muitos anos, oportunidades e conquistas foram negadas ou bem limitadas a muitas mulheres que vieram antes de nós, e esse reflexo está presente na nossa sociedade. Nós ainda temos um grande caminho pela frente. A representatividade feminina na Ciência está aumentando. E foi por conta da luta de muitas que vieram antes de nós que hoje podemos estar em alguns espaços, contribuindo para que a estrutura social seja transformada e de forma que essa desigualdade se reduza ao longo do tempo. Ainda existe a questão da raça associada ao gênero. Embora as mulheres representem um bom percentual de docentes do Ensino Superior no Brasil, por exemplo, é importante perceber também que a minoria dessas mulheres é preta e parda, o que altera ainda mais a configuração social pré- estabelecida há tantos anos – destacou a pesquisadora.
Gabriela ressaltou ainda que é preciso melhorar a forma de comunicar às meninas, desde a pré-escola, o que é a Ciência e incentivá-las a ter interesse pela área.
– Eu acredito que existe uma dificuldade de comunicar para crianças o que é um cientista. Encontrar um mecanismo de deixá-las entender que elas podem ser médicas, professoras, engenheiras e cientistas. De forma geral, a Ciência é vista como algo distante da sociedade. A imagem de um cientista para algumas crianças ainda é “aquele homem branco, velho, num jaleco”. A aproximação de exemplos é fundamental para que as nossas meninas entendam que os cientistas têm todas as idades, todos os gêneros e todas as cores – observou.
Doutoranda e mestre em Psicologia Social pela Uerj, Evlyn Rodrigues Oliveira tinha desde criança muita sede pelo conhecimento e recebeu incentivo dos pais para se aprofundar nos estudos. Ela desenvolveu toda a sua trajetória acadêmica na rede pública e conheceu professores que até hoje são fontes de inspiração.
– Apesar de muitas dificuldades ao longo do caminho, consegui a tão sonhada vaga em Psicologia na Uerj, que configura um divisor de águas na minha vida e que permitiu a abertura de incontáveis oportunidades. Desde o segundo período da graduação passei a fazer parte de um grupo de pesquisa coordenado por uma professora que muito me ensinou e apoiou na desafiadora jornada científica. A luta das pesquisadoras à frente de seu tempo nos permitiu chegar até aqui e, hoje, continuamos firmes na luta por nós e por aquelas que ainda virão, que podem agora estar lendo este texto, fazendo seus trabalhos de casa, conversando sobre Ciência ou contribuindo para um mundo mais ético e melhor – enfatizou.