A uma semana do segundo turno da eleição para prefeito de São Paulo , o candidato Guilherme Boulos (PSOL) faz campanha com foco na adesão do eleitorado ao movimento de virada em relação à vantagem construída pelo atual prefeito Bruno Covas (PSDB) – que alcançou 32,85% dos votos válidos contra 20,24% do psolista.
Apesar de ter a campanha com maior engajamento virtual, Boulos tem um grande desafio pela frente. Nos 32 anos de eleições municipais em São Paulo, desde a redemocratização, o único candidato a alcançar a virada em relação às pesquisas de intenção de votos e ao resultado do primeiro turno foi o ex-prefeito Fernando Haddad (PT), que venceu com 55,57% dos votos válidos o tucano José Serra contra (PSDB) que obteve 44,43% dos votos.
Serra havia vencido o primeiro turno com 30,75% contra 28,98% do petista. Um dos elementos que garantiram a vitória de Haddad naquele ano foi a construção de uma aliança com o Partido Progresista (PP) e o apoio do seu líder Paulo Maluf . Neste ano, Boulos conta com a construção de uma frente ampla de esquerda que já garante o apoio das lideranças de PT, PDT, PCdoB, PSTU, PCB e UP, além de buscar o apoio do PSB de Márcio França .
Em 2012, antes de alcançar o feito, Haddad nem aparecia nas pesquisas como um dos mais cotados para avançar ao segundo turno. A última pesquisa Datafolha antes da eleição, divulgada no dia 6 de outubro de 2012, dava 24% da intenção de votos para o petista, contra 27% para Celso Russomanno (PRB) e 28% José Serra (PSDB).
Em certa medida, Boulos já protagonizou uma virada em relação às pesquisas eleitorais que apontavam um segundo turno entre Covas e Russomanno, muito embora a maioria dos institutos de pesquisa já indicassem a possibilidade do psolista seguir na disputa há uma semana da eleição.
Com 1.080.736 votos, Boulos carimbou a passagem para o segundo turno, mas ainda precisa recuperar mais de 700 mil votos e conquistar o rescaldo de políticos de centro, como Márcio França (PSB) , e de direita, como Russomanno, Joice Hasselman (PSL) e Artur do Val (Patriota), que ficaram entre os seis mais votados, assim como Jilmar Tatto (PT) que já declarou apoio ao socialista.
Quais as chances?
Para o cientista político Sergio Praça, doutor em ciência política pela USP (Universidade de São Paulo) e pesquisador do CPDOC (Centro de Pesquisa e Documentação da História) da Fundação Getúlio Vargas, as chances de uma possível virada de Boulos estão ligadas a uma guinada ao centro e ao eventual agravamento da crise do novo coronavírus na cidade.
“São Paulo, às vezes, elege prefeitos de esquerda, mas é uma cidade bastante conservadora. O Boulos , ainda mais não tendo um partido grande por trás e uma campanha com pouco dinheiro, teria pouca chance. Mas a pandemia pode ajudá-lo a virar o jogo. Ele precisa vir mais para o centro para tirar essa pecha de radical que colaram a ele , e assim conquistar os eleitores do Márcio França (PSB). E algo precisa acontecer para aumentar a rejeição ao Covas “, analisa Praça.
Além da mudança da mudança de perfil, o candidato do PSOL pode faturar com o agravamento da pandemia em São Paulo. A capital paulista registrou um aumento de 29,5% dos novos casos de Covid-19 nos primeiros 17 dias de novembro comparado ao mesmo intervalo no mês anterior. Segundo o site da Fundação Seade, foram 15.794 novos caso em novembro. A cidade convive com a possibilidade de uma segunda onda da doença em hospitais particulares de eleite e classe média já apresentam lotação.
“A pandemia pode ajudar a virar o jogo para o Boulos. Hospitais lotados e mais casos podem tirar votos do Covas, embora não sejam tantos”, afirma.
Erros e bombas políticas
Há ainda outros elementos multifatoriais que podem resultar em viradas, indo desde erros estratégicos à bombas políticas nas vésperas do pleitos e, até mesmo, deslizes em debates na televisão aberta , como aponta Marcos Juliboni, mestre em ciência política pela USP.
“Viradas acontecem por alguns fatores,os principais são escândalos e denúncias de última hora . Sejam elas falsas ou verdadeira, o eleitor acaba abandonando esse candidato na última hora. Outro fator são os erros cometidos pelo próprio candidato, como declarações polêmicas “, afirma.
Segundo o cientista político, Boulos tem um outro ponto a seu favor que pode acabar colaborando para virar o jogo que é a militância dedicada ao convencimento de eleitores indecisos e propensos a mudarem o voto.
“A militância aguerrida pode gerar viradas. Neste ano a gente deve não ter por causa da pandemia. O isolamento social faz com que os eleitores circulam menos pela cidade e vejam menos campanhas”, aponta.
Menos abstenções
“Um grande fator que também pode gerar virada é a abstenção no dia da votação. Embora a votação seja obrigatória, não é todo mundo que está disposto a ir votar, com medo do contágio pelo novo coronavírus. A abstenção pode ajudar ou prejudicar determinados candidatos. Se isso acontecer em bairros em que as bases de alguns candidatos, a gente pode ter surpresas”, afirma.
Analistas já apontaram para o fato da grande abstenção em São Paulo, de 29,5% neste ano, principalmente entre os eleitores mais velhos e escolarizados, que geralmente compõem a base do PSDB, podem ter levado Bruno Covas a obter 32% dos votos, diferente dos 38% e 37% estimados por Ibope e Datafolha respectivamente.
Quem conseguir mobilizar a base, agitar a militância e adequar o discurso para prejudicar o adversário no campo do enfrentamente à pandemia pode ser eleito prefeito de São Paulo pelos próximos quatro anos, no próximo dia 29 de outubro.