Declarando-se radicalmente contrário à volta às aulas enquanto perdurar a pandemia, o professor emérito da UFMG afirmou que o que mais aterroriza hoje não é o vírus, mas o Estado, que está sendo desmontado enquanto entidade garantidora de direitos e convertido em instrumento de criminalização da juventude negra e dos movimentos sociais.
Citando o ensaio “A Cruel Pedagogia do Vírus”, do sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, Arroyo disse que o terremoto político pelo qual o país está passando faz aflorar “verdades, valores e contravalores que estavam soterrados”. E que, para alunos que lutam diariamente pela sobrevivência, essas verdades fazem muito mais sentido do que a Base Nacional Comum. “Quando a vida está ameaçada, que sentido têm a gramática?”, exemplificou.
“Estamos em tempo de “Pedagogia do Oprimido”, não de “Pedagogia da Esperança””, afirmou, aludindo à obra do Patrono da Educação Brasileira. “O que marcou Paulo Freire internacionalmente foi o conceito de que os oprimidos experimentam a desumanização como regra. E, resistindo, eles se humanizam.”
Contra a dominação, o golpe, o capitalismo, o racismo, a misoginia, a LGBTfobia, Arroyo invoca outro conceito de Freire, que é “o direito à raiva”, uma justa raiva fundada na revolta pela negação do “direito de ser mais”, que está inscrito na natureza dos seres humanos.