O Governo do Estado vai fornecer alimentos a 907 entidades sociais por meio do programa Compra Direta Paraná. A primeira entrega aconteceu nesta terça-feira (23) para a Santa Casa de Curitiba. Os alimentos repassados pelo programa serão fornecidos por 148 associações e cooperativas da agricultura familiar que se credenciaram por meio de edital de chamada pública. Ao todo, 12,5 mil agricultores estão envolvidos.
“Ter alimento na mesa é tão importante para continuar vivo quanto cuidar da saúde e seguir as orientações de segurança”, disse o secretário da Agricultura e do Abastecimento, Norberto Ortigara. “É tarefa do Estado dar amparo às famílias mais vulneráveis e é isso que estamos fazendo com mais este programa.”
O governo estadual destinou R$ 20 milhões para o Compra Direta, recursos do Fundo Estadual de Combate à Pobreza (Fecop). Entre as entidades beneficiadas estão Centros de Referência em Assistência Social (Cras) e Centros de Referência Especializados de Assistência Social (Creas), que poderão distribuir cestas básicas diretamente à população vulnerável.
O restante é formado por hospitais filantrópicos; unidades de acolhimento para crianças, adolescentes, mulheres vítimas de violência e idosos; unidades terapêuticas; instituições de atendimento a indivíduos em situação de rua; casas de passagem; restaurantes populares; cozinhas comunitárias; bancos de alimentos e similares.
“Neste momento da pandemia da Covid-19, pensar em segurança alimentar e nutricional passa por facilitar o acesso à alimentação para aqueles que mais necessitam”, disse a diretora do Departamento de Segurança Alimentar e Nutricional (Desan) da Secretaria de Estado da Agricultura, Márcia Stolarski. “A manutenção de uma alimentação saudável é fundamental para fortalecer a imunidade e promover a melhoria das condições de saúde, prevenindo doenças oportunistas.”
SANTA CASA – Entre os beneficiados, há 47 hospitais filantrópicos. Um deles é a Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Curitiba. As doações ajudarão a economizar parte dos aproximadamente R$ 200 mil gastos para alimentar cerca de 1,6 mil colaboradores e mil pacientes que se internam todos os meses.
“Uso esse recurso para fazer o trabalho da assistência em si, medicamento, pagamento de médico, de profissionais, insumos”, disse o diretor-geral da entidade, Eduardo Otoni. “Todo tipo de contribuição da sociedade ou do Governo é superimportante para a gente.”
A Santa Casa de Curitiba tem 140 anos de história. “Todos os dias, a Santa Casa esteve com as portas abertas, inclusive agora, quando todo mundo fechou, quem ficou aberto foram os hospitais”, acentuou Otoni. “A sociedade está entendendo a importância das instituições da saúde e vem ajudando como pode.”
PREVENÇÃO – Em Arapongas, serão oferecidas cerca de 700 refeições diárias para quatro entidades que atendem pessoas em situação de vulnerabilidade. “Vai ajudar muito, principalmente para a imunidade das pessoas neste momento de pandemia, com o reforço de frutas e legumes”, disse a secretária municipal de Segurança Alimentar e Nutricional, Niele Cristina Lima de Melo.
Uma das entidades beneficiadas é o Lar São Vicente de Paulo, onde estão 48 idosos. “Eles não têm mais condições de viverem sozinhos, alguns não possuem vínculos familiares ou a família não consegue cuidar, e muitos estão com problemas de saúde”, disse a assistente social da instituição, Beatriz Prado da Silva Domingos.
Ligada ao movimento religioso Vicentinos, o lar conta com a ajuda da sociedade. “Não fossem as doações, acho que não conseguiria se manter”, afirmou a assistente social. Mas, devido à pandemia, muitas pessoas ficaram desempregadas e as contribuições também reduziram.
Para Beatriz, a ajuda do Compra Direta Paraná será importante para garantir alimentação mais saudável. “Muitos são diabéticos, hipertensos, e a gente sabe que esses alimentos vão contribuir para a melhora do serviço, melhora da saúde e para ter uma alimentação mais nutritiva”, salientou.
No mesmo município, o Lar Bom Menino, que tem atividades de contraturno escolar, reduziu o número de crianças no período de pandemia, em decorrência do cancelamento de aulas presenciais, mas ainda há muitas que comparecem diariamente. “Para algumas crianças esta é a principal refeição”, disse o presidente da instituição, Paulo Penacchi.
MESA COLORIDA – Em Maringá, o Mesa Brasil, do Sesc, receberá os alimentos do Compra Direta para entregar a instituições filantrópicas. O Mesa repassa a cerca de 70 entidades e estas preparam as refeições ou entregam os alimentos às famílias, atendendo aproximadamente 16 mil pessoas na cidade.
Segundo a nutricionista do projeto, Gislaine Nazareth Moreno, normalmente as cestas básicas doadas têm mais alimentos não perecíveis. “Os alimentos da agricultura familiar enriquecem muito, por serem colhidos praticamente no mesmo dia e terem valor nutricional muito maior”, disse. “A mesa fica muito mais colorida, muito mais saudável.”
ENTREGA DIRETA – O programa é importante também para os produtores que fornecem o alimento de forma direta. “É uma via direta de comercialização, o produtor consegue um valor agregado maior no produto do que se tivesse um atravessador ou uma empresa de empacotamento”, disse o presidente da Cooperativa de Produtores Orgânicos e de Produção Agroecológica (Coaopa), Luciano Escher.
A cooperativa tem 317 agricultores e é uma das responsáveis pela entrega de alimentos orgânicos à Santa Casa até agosto. “Juntou a fome do agricultor, que estava com o produto parado ou até mesmo perdendo a produção, com a fome do outro lado, de quem precisa ter acesso a esse produto”, afirmou Escher.
EMERGÊNCIA – A presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) no Paraná, Roseli Pittner, disse que o programa era pensado ainda antes da pandemia e precisou ser implantado para o atendimento emergencial.
“Entendemos que atende o seu objetivo principal que é oferecer alimento através de doação para as entidades socioassistenciais, garantindo, neste momento crítico para nossa economia, a comida de verdade para grupos vulneráveis”, afirmou.
Ela também destacou o fato de a compra e a oferta serem feitas localmente. “Cria um circuito curto de comercialização, facilitando a entrega e respeitando o isolamento social”, ponderou.
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