Destinação correta do lodo de esgoto vira exemplo de sustentabilidade da Sanepar

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Garantir destinação adequada ao esgoto gerado pela população é parte da solução para este resíduo. E, no Paraná, a título de exemplo, isso equivale ao plantio de 207 mil árvores em apenas um projeto.


Esse fenômeno acontece na CS Bioenergia, empresa formada por uma associação entre a Sanepar e a Bio Cattalini. Ela presta serviços de reciclagem de resíduos orgânicos a partir das estações de tratamento, que agrupam toneladas de lodo que precisam ter destinação apropriada. É este material, além de restos de alimentos, óleos vegetais e outros compostos orgânicos vindos de dezenas de indústrias, que abastece a empresa.


A decomposição controlada deste resíduo, rico em carbono, acontece em enormes digestores e o biogás gerado neste processo é tratado, armazenado e convertido em energia elétrica.


Essa atividade foi objeto de um estudo do Programa de Energia pelo Brasil (Brazil Energy Pogramme – BEP), ligado ao Reino Unido, que avalia fontes de energia renováveis no Brasil e fomenta tanto o uso de tecnologias inovadoras como a transição energética para atividades de baixo carbono.


Um grupo de pesquisadores avaliou 12 projetos de energia renovável no Paraná, São Paulo e Minas Gerais. O resultado revela números animadores sobre a mitigação da emissão de gases de efeito estufa com a atividade da CS Bioenergia. Em 2020, de acordo com a pesquisa, a redução da emissão a partir do aproveitamento destes resíduos na geração de eletricidade foi o equivalente ao plantio de algumas florestas, tornando o projeto um exemplo global.


“A recuperação dos recursos provenientes do processamento de resíduos é a tradução mais sincera do que é o conceito de sustentabilidade, abrangendo a geração de valor para a sociedade. Os projetos de aproveitamento energético de biogás podem resultar em impactos positivos de ordem ambiental, social e financeira para as organizações e partes interessadas. Ser mais eficiente significa prestar um serviço de melhor qualidade”, afirma o gerente em Pesquisa e Inovação da Sanepar, Gustavo Possetti.




No estudo sobre a CS Bioenergia foi realizada a avaliação do ciclo de vida (ACV), desde o combustível utilizado no transporte do resíduo, como explica Leidiane Ferronato Mariani, coordenadora do programa. “Observamos todo impacto positivo ou negativo que pode ocorrer no processo de manejo e tratamento, assim como o impacto evitado a partir do momento em que temos energia elétrica gerada a partir de uma fonte renovável, deixando de usar da matriz convencional”, afirma.


A empresa fica em São José dos Pinhais, ao lado da Estação de Tratamento de Esgotos Belém, da Sanepar. É de lá que saem diariamente cerca de 840 metros cúbicos de lodo. Indústrias de alimento e a Ceasa de Curitiba enviam em torno de 40 toneladas de matéria orgânica todos os dias. 




Depois de passar por todas as etapas de processamento na ETE Belém, esse material gera aproximadamente 21,7 MW/dia, cerca de 650 MW/mês, capaz de abastecer 2,2 mil residências. A empresa tem capacidade para receber 900 metros cúbicos por dia de lodo e 150 toneladas de alimentos, podendo gerar até 2,8 MW de energia.


O trabalho do Programa de Energia pelo Brasil foi fazer uma avaliação detalhada do processo, realizado pelas especialistas Marcela Lange e Karina do Amaral. De todos os empreendimentos analisados, a CS Bioenergia é a única que realiza a co-digestão de duas fontes. “Os outros empreendimentos pesquisados possuem somente um tipo de resíduo, como fezes de animais”, destaca Karina.


O diretor técnico da CS Bio, Orlando Hernandez, revela que restos de legumes, soro e gordura melhoram o desempenho dos microrganismos que decompõem esses resíduos. “Eles variam o cardápio desses microrganismos e ajudam a incrementar o gás, seja na qualidade ou na proporção de metano dentro do biogás”, explica.


EXCELÊNCIA – O Brazil Energy Pogramme estudou três cenários distintos. O envio do material para o aterro sanitário serviu como base. A partir daí, os especialistas compararam com o uso para geração de biogás usado na produção de energia elétrica e de biometano.


“Foi uma surpresa, porque mesmo quando contabilizamos os impactos negativos ainda houve uma redução acima de 100%, ou seja, os impactos evitados foram maiores que os impactos efetivamente ocorridos”, comemora Karina.


A partir desse exemplo, a Sanepar se prepara para implementar projetos de uso energético do biogás proveniente do lodo em pelo menos mais oito estações de tratamento nos próximos anos. O gerente em Pesquisa e Inovação da Sanepar, Gustavo Possetti, enfatiza que a companhia busca a excelência de suas atividades e investe em estudos de técnicas inovadoras.


“O biogás ajuda na promoção do saneamento ambiental em bases sustentáveis. Essa experiência contribui para o desenvolvimento de novos modelos para o Paraná, pautados nos princípios das economias circular e de baixo carbono. Outras organizações podem aproveitar os conceitos técnicos e conhecimentos gerados, adaptando-os em suas realidades locais”, afirma.


“Buscamos desenvolver projetos e parcerias para solidificarmos nossos conhecimentos, para iniciativas como essa serem uma alternativa para toda a região e podermos até exportar nossa experiência”, ressalta Hernandez, da CS Bio.




A energia da empresa é consumida internamente e o excedente vai para a rede elétrica da Copel e retorna em créditos. Eles são, atualmente, usados a título de compensação em outras 189 unidades da Sanepar. Além do consumo na empresa, esses créditos ainda são utilizados em outras 185 unidades da Sanepar, prédios administrativos e pequenas estações de tratamento.


O consumo anual de energia elétrica da Sanepar supera o patamar de 700 GWh. A maior demanda vem dos milhares de motores e bombas usados no tratamento e distribuição de água e esgoto no Paraná. Por isso a empresa executa ações voltadas para a eficientização energética de seus processos e possui projetos voltados para a geração de energia limpa a partir de recursos renováveis, como solar, hidroenergia, além do biogás.


Indústrias de alimento e a Ceasa de Curitiba enviam em torno de 40 toneladas de matéria orgânica todos os dias. Foto: Alessandro Vieira/AEN


DESTAQUE – No levantamento feito pelo Programa Energia pelo Brasil, o Paraná se destacou pela diversidade. No Estado, empresas têm gerado energia elétrica a partir de resíduos da pecuária, da agricultura, da indústria e do saneamento. “O Paraná é uma referência na questão de uso de biogás, é um dos estados que mais tem plantas, é bastante inovador e pioneiro nesse processo”, destaca a coordenadora Leidiane Ferronato Mariani.




Ela afirma que o resultado mostra o quanto trabalhos como esses são importantes na busca pela redução de emissão de gases de efeito estufa, em especial no setor de saneamento. “O nosso objetivo é que essa informação seja usada como ferramenta em nível estadual e federal para balizar programas de política pública e programas de transição energética”, finaliza Mariani.

Fonte: Agência Estadual de Notícias