O “Projetar o Futuro”, que leva sessões de cinema para mulheres privadas de liberdade custodiadas nos Centros de Recuperação Femininos (CRF) do Estado, foi inscrito, na terça-feira (23), no Prêmio Innovare, que objetiva identificar, divulgar e difundir práticas que contribuem para o aprimoramento da Justiça do Brasil. O projeto é uma realização do Governo do Pará, por meio da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap), em parceria com a Associação de Críticos de Cinema do Pará (Accpa).
As sessões têm sido uma ferramenta poderosa na reinserção social das mulheres privadas de liberdade custodiadas nos Centros de Recuperação Femininos (CRF) do Estado, além de ser uma forma de instrução, educação e reflexão. Por meio do projeto, as detentas podem aproveitar o filme e fazer uma análise, o que visa despertar uma visão crítica e incentiva o exercício mental. A atividade gera, principalmente, remição de pena.
As sessões de cinema são realizadas às sextas-feiras para internas participantes do projeto, com o intuito de resgatar valores humanos como amor, respeito, paz e harmonia do convívio em sociedade, e a construção de vínculos familiares, socieducativos e culturais.
Além de oportunizar a construção da cidadania e também acesso à cultura, a ação busca favorecer as internas dos CRFs de Ananindeua, Santarém e Marabá um viés educativo de produção de resenhas críticas sobre os filmes, que são previamente definidas pela Accpa, com cronogramas mensais que levam em consideração temas atuais e reflexivos. Os exercícios semanais garantem remição de pena pela participação e alcance dos critérios da avaliação feita pela equipe multidisciplinar.
Sandra Postilho, 33, custodiada há sete meses e reincidente após passar dois anos em cumprimento de pena, é uma das participantes do projeto. Por meio da iniciativa, ela voltou a ter esperança e perceber a realidade. Sandra também já sonha com a vida fora do cárcere e lembra das oportunidades que perdeu, mas que podem ser recuperação com estudos e trabalho.
“Depois que eu vim presa, eu perdi muita oportunidade. Eu cursei até o segundo ano de Administração. Tenho 12 certificados de 12 cursos que eu já fiz e tenho muita vontade de continuar estudando. Pretendo continuar, quando sair daqui, e seguir minha vida. Terminar a faculdade e obter outras conquistas também que eu desejo. Eu acho que eu tenho um mundo grande pela frente e só falta eu me permitir, não vim mais nesse lugar e tomar a vida diferente de uma outra forma. Eu acredito que não existe outro caminho. Esse é o melhor”, conta.
A iniciativa, inédita no Brasil, dará frutos: um livro em formato de biografia que contará a história de algumas mulheres participantes do projeto.
O diretor de Reinserção Social, Belchior Machado, explica como funciona o projeto. “Enquanto atividade pedagógica, este projeto se assemelha à “Remição de Pena Pela Leitura”, encontrando respaldo na Recomendação 44, do CNJ. Dessa forma, mensalmente são realizadas quatro sessões, sendo necessário a confecção de resenhas pelas participantes. Após avaliação, a custodiada pode receber até quatro dias de remição pelo mês, sendo, portanto, no máximo 48 dias de remição a cada ano”, afirmou.
A chefe de gabinete da Seap, Sheila Faro, idealizadora do projeto, ressaltou o objetivo do “Projetar o Futuro”. “O projeto vai muito além de uma simples projeção de filmes para o lazer dos custodiados ou custodiadas. Ele está ali como um programa de reinserção social, com objetivo de diminuir o índice de criminalidade e de melhor convivência dentro das unidades”, pontuou.
