O Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) vai apurar as publicações que o coordenador da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, fez em sua conta no Twitter, na última terça-feira (21), sobre a operação deflagrada contra José Serra por suspeita de caixa 2 e lavagem de dinheiro.
Em sua conta, Dallagnol fez críticas ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, por conta da suspenção do mandato de busca e apreensão no gabinete de Serra.
“Com todo o respeito ao STF e seu presidente, trata-se de solução casuísta que está equivocada juridicamente e que, independentemente de sua motivação, a qual não se questiona, tem por efeito dificultar a investigação de poderosos contra quem pesam evidências de crimes”, disse o procurador da Lava Jato.
O despacho do CNMP foi assinado nesta quarta-feira (22) pelo corregedor Rinaldo Reis Lima. O CNMP tem o objetivo de fiscalizar a atuação de procuradores no Brasil.
Veja os tweets de Dallagnol na sequência:
Toffoli proibiu o cumprimento de busca e apreensão no gabinete de José Serra no Senado por entender que poderia haver a “apreensão de documentos relacionados ao desempenho da atividade parlamentar”. Entenda por que a decisão é muito equivocada na thread: https://t.co/hcPNdy2SMq
— Deltan Dallagnol (@deltanmd) July 21, 2020
1. O STF limitou o foro privilegiado para crimes praticados no exercício e em razão da função em 03/05/18. É pacífico que José Serra não tem foro privilegiado para os crimes específicos que a Justiça Eleitoral investiga na operação de hoje. O STF não tem competência sobre o caso.
— Deltan Dallagnol (@deltanmd) July 21, 2020
2. O ambiente parlamentar, assim como qualquer outro ambiente, não pode funcionar como um bunker que permita a ocultação de crimes. Não há qualquer regra constitucional ou legal que ampare a ideia de um foro privilegiado de imóvel.
— Deltan Dallagnol (@deltanmd) July 21, 2020
3. Se for feita a busca no gabinete do Senado e se encontrar fortuitamente alguma prova de crime submetido à jurisdição do STF (crime praticado no exercício e em razão da função), a Justiça remeterá tais provas ao STF, o que é suficiente para preservar a jurisdição do tribunal.
— Deltan Dallagnol (@deltanmd) July 21, 2020
4. Se a preocupação do STF está em impedir prejuízo à continuidade da atividade parlamentar, a solução é determinar que a Polícia entregue imediatamente cópia de todo o material para o Senado e não impedir que provas de crimes sejam procuradas e apreendidas.
— Deltan Dallagnol (@deltanmd) July 21, 2020
5. “Se a moda pega”: o mesmo argumento de Toffoli poderia ser utilizado contra buscas e apreensões em quaisquer lugares, pelo risco de prejuízo à atividade empresarial, judicial, advocatícia, ministerial etc., dignas de igual proteção, o que inviabilizaria a apuração de crimes.
— Deltan Dallagnol (@deltanmd) July 21, 2020
6. Com todo o respeito ao STF e seu presidente, trata-se de solução casuísta que está equivocada juridicamente e que, independentemente de sua motivação, a qual não se questiona, tem por efeito dificultar a investigação de poderosos contra quem pesam evidências de crimes.
— Deltan Dallagnol (@deltanmd) July 21, 2020
“Disclaimer”: as instituições são essenciais para a democracia e desempenham em medida relevante seus papeis. A crítica a parte de suas decisões é um instrumento para o o aperfeiçoamento das instituições. A liberdade de expressão crítica é aliás um pilar da própria democracia.
— Deltan Dallagnol (@deltanmd) July 21, 2020