A presidente interina da Bolívia, Jeanine Añez, anunciou sua desistência da disputa eleitoral na noite desta quinta-feira (17) para o pleito que será realizado no próximo dia 18 de outubro. Segundo a mandatária, a decisão foi tomada “pelo bem maior” e para evitar dispersar os votos da direita.
“Hoje, deixo de lado a minha candidatura à presidência da Bolívia para cuidar da democracia. Se não nos unirmos, voltará [Evo] Morales, voltará a ditadura. Faço isso para ajudar a vitória de quem não quer a ditadura e em homenagem à luta do povo boliviano para que a ditadura vá embora para sempre”, disse em pronunciamento transmitido pela televisão.
Añez havia anunciado que disputaria a Presidência ainda em janeiro, antes mesmo de definir a data das eleições, algo que foi feito apenas no fim de junho. Ao lado de Samuel Doria Medina, ela unia os partidos Democratas e Unidade Nacional.
Ao fazer o anúncio de que estava se candidatando, a boliviana foi acusada por diversos partidos – de direita e de esquerda – de que ela estava demorando para anunciar a data das eleições para se perpetuar no poder.
A presidente assumiu a função em novembro de 2019 após a saída de Morales, que tinha ganhado sua quarta eleição consecutiva em resultado que foi contestado. Ela foi levada ao posto por conta do forte apoio que tinha dos militares bolivianos.
O anúncio da desistência ocorreu um dia depois da primeira pesquisa eleitoral mostrar que o ex-ministro de Economia de Morales Luis Arce, do partido Movimento para o Socialismo (MAS), venceria a disputa ainda no primeiro turno, com 40,3% dos votos.
O candidato da direita, o ex-presidente Carlos Mesa, apareceu com 26,2% e Añez tinha apenas 10,6%. Na Bolívia, um candidato à Presidência pode ser eleito no primeiro turno quem tiver mais de 40% dos votos e 10% de diferença para o segundo colocado.
Resposta de Morales
Assim que o anúncio foi ao ar, o ex-presidente boliviano Evo Morales usou sua conta no Twitter para responder Añez e dizer que a mandatária fez uma “dupla traição aos seus militantes e aos candidatos”.
“Faz muito tempo que estava decidido, só faltava negociar sua impunidade. Está claro que o preço de sua nova aliança é a impunidade pelos escandalosos casos de corrupção em meio a pandemia, pelo genocídio de Senkata e Sacaba e pelo economicídio a que submeteu o país”, escreveu Morales.
Segundo o ex-presidente, “aqueles que protagonizam a crise neoliberal” na Bolívia, “querem continuar os saques mediante à reedição da tristemente famosa mega coalizão em meio à situação crítica que vivemos”.