O ex-primeiro-ministro da Itália Matteo Renzi ameaçou derrubar o governo de Giuseppe Conte se o premiê não recuar de seu projeto de confiar a gestão dos recursos do fundo de recuperação da União Europeia a uma força-tarefa.
A declaração está em entrevista publicada nesta sexta-feira (11) pelo jornal espanhol El País e aumenta a tensão na base aliada pouco mais de um ano depois do acordo entre o antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S) e partidos de centro e esquerda para evitar eleições antecipadas.
A crise começou após Conte anunciar a intenção de montar uma força-tarefa de técnicos para gerir os repasses do fundo de recuperação criado pela UE para resgatar a economia do bloco no pós-pandemia. O pacote europeu totaliza 750 bilhões de euros, e a Itália será sua maior beneficiária em números absolutos, com 208,8 bilhões de euros.
“Não podemos aceitar que, em nome da emergência, 10 meses depois de seu início, se dê todos os poderes ao Estado para gastar esses 200 bilhões. Não tiramos Salvini [ex-ministro do Interior e ex-aliado de Conte] para isso”, disse Renzi ao jornal El País.
Em seguida, ao ser questionado se derrubará o governo caso Conte não recue, o ex-primeiro-ministro respondeu: “Sim, no sentido de que esse não é um problema de cargos, como me ofereceram. Não posso aceitar. O mecanismo de debate das regras institucionais não pode ser compensado com um pequeno acordo. O Itália Viva é um pequeno partido, mas somos decisivos para o governo. Se Conte quer plenos poderes, assim como Salvini, eu digo não. É um problema de respeito às regras. E, neste caso, nós retiraremos nosso apoio ao governo”.
Premiê entre fevereiro de 2014 e dezembro de 2016, Renzi é hoje senador da República e líder da legenda de centro Itália Viva (IV), uma dissidência do Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, surgida em setembro de 2019.
Apesar de ter menos de 5% nas pesquisas de intenção de voto e 18 senadores (de um total de 320), o IV é crucial para o governo garantir maioria na “câmara alta”. Sem o apoio de Renzi, Conte não teria votos suficientes no Senado e poderia ser forçado a entregar o cargo.
Durante sua carreira, o ex-primeiro-ministro sempre foi crítico de pequenos partidos que conseguiam colocar governos contra a parede com a ameaça de retirar apoio no Parlamento – situação da qual o próprio Renzi foi vítima.
“Não é aceitável que, em 2017, ainda existam pequenos partidos que vetem [medidas do governo]”, disse o ex-premiê há três anos, já depois de ter deixado o poder.