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Prostituta e mãe de família: Santuzza luta pela regulamentação da profissão


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Santuzza criou o Coletivo Rebu para lutar pelos direitos das prostitutas
Reprodução/Instagram

Santuzza criou o Coletivo Rebu para lutar pelos direitos das prostitutas



A Rua Guaicurus, no centro de Belo Horizonte, é a maior zona de meretrício de Minas Gerais. Segundo estimativa da Associação das Prostitutas de Minas Gerais (Aprosmig), 2.000 garotas atuam em 28 hoteis da região. Nos estabelecimentos, essas mulheres ficam aguardando, na porta dos quartos, que o cliente passe e escolha a que mais lhe agradar. 

Mãe solo, Santuzza, 40, tira seu sustento dessa rua para criar os seus três filhos, de 19, 13 e 9 anos — que sabem sobre a sua profissão. “Contar para eles foi muito natural, porque, além de trabalhadora sexual, sou ativista. Então, eu falo sobre isso. Não escondo de ninguém.”

Trabalhadora sexual desde 2003, Santuzza conhece na pele a realidade das prostitutas e, por isso, batalha pelos direitos de mulheres como ela, através de uma organização batizada de Coletivo Rebu. Para ela, a regulamentacão da profissão, discussão que divide até mesmo as feministas, é uma questão urgente e que ajudaria a mudar o estereótipo que está profundamente associado a essas mulheres — e que, nem sempre, correspondem com a realidade.

“Quando você fala que é trabalhadora sexual, as pessoas já imaginam que você é drogada, que vive bêbada, é uma mulher sofrida, que apanha”. Santuzza não é nada disso: “Eu costumo beber na minha casa, como a maioria das trabalhadoras sexuais. Tem mulheres que bebem e usam entorpecentes, assim como profissionais de outras áreas.” 

Santuzza
Reprodução/Instagram

Santuzza


Feminismo x prostituição

Feministas radicais, quase sempre, são contra a regulamentacão da prostituicão, pois consideram que a atividade reflete a falta de opções de trabalho para mulheres, o que as coloca em uma situção mais vulnerável à violência e à exploração. Parte do movimento feminista, porém, discorda e defende que as mulheres têm o direito de escolher o que fazem com seus corpos — e isso inclui ser uma trabalhadora sexual. Para elas, a regulamentacão da prostituição traria mais garantias trabalhistas, previdenciárias e diminuiria julgamentos morais, fazendo com que essas pessoas tenham mais acesso a serviços sociais e públicos, como atendimento médico.

“Muito se fala que a regulamentação vai favorecer os cafetões. As pessoas falam sem saber qual é a real”, afirma. Apesar de não ser crime no Brasil, o fato de a protituição não ser reconhecida como profissão acaba deixando essas trabalhadoras à mercê de exploração, segundo Santuzza. “E não falo da pessoa me jogar dentro do quarto, fazer eu trepar o dia inteiro e eu não ganhar nada. Estou falando de não pagar uma diária absurda para a casa onde eu trabalho, por exemplo. Ou, se eu estiver em uma boate e o cliente não quiser usar os quartos de lá, ele ter de pagar uma taxa para eu acompanhá-lo a um motel. Se me der um calote, quero ter meios legais de cobrar por isso. Se o dono do estabelecimento me assediar, preciso ter como denunciá-lo”, exemplifica. “A regulamentação não vai aumentar a exploração, vai combatê-la.”

Santuzza diz que há muitas críticas a quem faz sexo por necessidade financeira. “Claro que é necessidade. Quem não trabalha por necessidade? Você conhece alguém que trabalha por hobby? As pessoas trabalham porque precisam comer, se vestir, pagar a prestação da casa… E a gente também. Não entendo a distinção feita entre a prostituição e outras profissões.”

Coletivo Rebu

Santuzza está à frente do Coletivo Rebu, projeto que começou a ser idealizado em 2015 e que, em 2017, iniciou sua atuação. Junto com outras mulheres, ela luta pelos direitos das trabalhadoras sexuais e contra os estigmas da classe.

Reprodução/Instagram

“Eu amo minha mãe e ela é uma trabalhadora sexual”, diz placa do Coletivo Rebu


Ela conta que os movimentos sociais já estão em seu sangue e que decidiu criar o coletivo quando passou a conhecer a realidade da Guaicurus. Por lá, já havia algumas lideranças, mas Santuzza não se encontrou em nenhuma delas. “Estou em uma rua onde trabalham 2.000 mulheres. Acabo de voltar de um Encontro Nacional e elas não sabem da existência desse encontro. Desse movimento que as representa. Então tem alguma coisa errada”, explica, falando sobre o que a incentivou a idealizar o Rebu. 

Sobretudo durante o período de pandemia do novo coronavírus, a ativista conta que a situação não tem sido fácil para as prostitutas. “Muitas tão voltando agora, mesmo sem a gente ter essa vacina, correndo risco, porque, além de muitas não terem condições para acessar o auxílio emergencial, ele é insuficiente”. Por isso, ela e o coletivo sempre fazem campanhas para ajudar as trabalhadoras. Para conhecer mais e colaborar com a causa, você pode acompanhar o Coletivo Rebu no Facebook .

Fonte: IG Mulher

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