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Pandemia fez crescer a incidência de ansiedade e tiques em crianças

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A pandemia fez crescer a incidência de ansiedade e TICs nas crianças: saiba identificar os sinais e como tratar

A pandemia aflorou nossas emoções: ficamos mais estressados, ansiosos, deprimidos e com medo do futuro . Esse desconforto emocional, por sua vez, causa de muito sofrimento e, consequentemente, aumenta consideravelmente a incidência de transtornos mentais (como depressão, ansiedade e síndrome do pânico, por exemplo), tanto em adultos quanto em crianças.

Alguns pais começaram a identificar o surgimento ou aumento dos “tiques nervosos” em seus filhos, que nada mais são do que um distúrbio neuropsíquico. A pediatra pós-graduada em Neurologia e Psiquiatria, Gesika Amorim, explica que essa avalanche de sentimentos causada pela pandemia tem gerado tanto um aumento na frequência, quanto na intensidade dos tiques. 

Caroline Arnold, empresária e Relações Públicas, acompanha o processo do enteado Renato, de 10 anos, no enfrentamento da ansiedade. Ela conta que os primeiros sintomas foram a agressividade e o choro frequente, que ocorriam esporadicamente, mas começaram a se tornar quase diários.

“Começamos a perceber que o isolamento estava afetando muito ele, porque ele não tinha vontade nem de fazer as lições da escola”, conta ela. “Primeiro ele foi diagnosticado com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), mas depois veio o diagnóstico de ansiedade”, conta.

Renato não sofre com tiques, mas o Enzo, de 4 anos, filho da Lillian Brezolin, dona de casa, convive com eles. Ela conta que ele começou com estereotipias, que são comportamentos motores ou verbais que se repetem. “Ele mordia o dedo indicador, babava e, aos 2 anos, gritava ‘iii’, isso antes da pandemia”, explica. 

“Com o isolamento, esses comportamentos aumentaram tanto que ele teve um episódio de epilepsia 6 meses após o início da quarentena. Ele começou a morder mais o dedo, voltou a babar, algo que tinha parado de fazer, e começou a tapar os ouvidos”, conta Lilian. Enzo possui a Síndrome do X Frágil, que causa uma deficiência intelectual de leve a grave, e ele faz parte do espectro autista também. Ela aponta ainda que o distanciamento da escola foi um dos agravadores do quadro de ansiedade e tiques. 

“A falta de contato com outras crianças foi o que mais o prejudicou, porque ele passou a ficar mais isolado, com a mente vazia e sem estímulos”, aponta. Os TICs são movimentos musculares involuntários, que obrigam a pessoa a fazer gestos ou vocalizar sons ou palavras. Por serem difíceis de controlar, pelo menos por um longo período, o indivíduo acaba descarregando essa tensão involuntariamente. Sobre a ocorrência de TICs em crianças e como eles podem se desenvolver, a doutora Gesika elucida alguns pontos. 

“Os tiques, em geral, surgem na infância, entre os 4 aos 12 anos de idade, podendo se agravar ou serem abolidos na adolescência. O desenvolvimento dos sintomas pode ser crônico ou passageiro”, explica ela. A doutora acrescenta ainda que os tiques motores e vocais mudam com frequência e, além dos períodos de maior ou menor intensidade, sua complexidade pode aumentar. Os tiques vocais (sons) podem surgir entre 1 e 2 anos depois dos tiques motores terem se manifestado. 

O tratamento, tanto dos tiques quanto do transtorno de ansiedade em si, inclui, quando necessário, medicamentos e terapia cognitivo-comportamental. É recomendado que o paciente também faça psicoterapia, pois assim o fator que estimula os tiques pode ser identificado, permitindo que ele seja diretamente trabalhado para diminuir ou até mesmo sumir. 

Caroline conta que Renato chegou a fazer psicoterapia de maneira remota, e isso o ajudou muito no começo, mas depois tornou-se uma distração. “Chegou um momento em que ele apenas queria brincar com a psicóloga. Ela disse que esse formato não estava sendo suficiente e que o Renato precisava de atendimento presencial. Como a pandemia não possibilita isso ainda, continuamos aplicando as orientações dela, mas ele sofreu certo regresso após a parada a sessões”, diz. 

Já Enzo toma medicamentos e faz terapia. “Ele começou a fazer uso do CBD (canabidiol, uma substância extraída da Cannabis que atua no sistema nervoso central e que apresenta potencial terapêutico para o tratamento de doenças psiquiátricas ou neurodegenerativas, como epilepsia ou ansiedade, no caso de Enzo) depois que teve convulsão. Desde então ele não teve mais esses episódios e com a terapia ele consegue prestar mais atenção nas atividades e se concentrar melhor”, esclarece Lilian. 

Caroline, para auxiliar Renato a lidar com a ansiedade no dia-a-dia, deixa ele gastar energia. “Cumprimos o tempo de aula com ele, fora a pausa de 1 hora para o almoço, e deixamos ele andar de bicicleta e brincar para gastar energia e controlar a rotina dele, assim ele não fica sobrecarregado. Além disso, há momentos em que fazemos algo diferente, como a noite do cinema em casa, por exemplo”, ela explica. 

Lilian segue essa mesma linha com Enzo e procura mantê-lo sempre em atividade. “Conversamos, fazemos algum passeio de carrinho na rua ou à pé, e o pai dele fez balanços e um escorregador para ele brincar em casa”, conta. 

Há formas de prevenir o desenvolvimento dos tiques e do transtorno de ansiedade na infância, principalmente quando os pais começam a notar a incidência de comportamentos diferentes do comum. Algumas ações preventivas são: 

  • Evitar situações de ansiedade e estresse
  • Praticar exercícios físicos
  • Ter bons hábitos (como uma boa noite de sono, leitura regular e alguma prática artística, por exemplo)

“Se você notou que seu filho apresenta algum tique há algum tempo, busque um profissional especialista em saúde mental e neurodesenvolvimento. Assim, todo sofrimento pode ser amenizado”, conclui Gesika Amorim.

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