Índios, negros e pobres. Lembra desses dizeres sobre o bandeirão do Brasil em verde e rosa que a Mangueira levou à Sapucaí em seu desfile campeão de 2019? Um dos maiores símbolos do carnaval político feito pela escola, que jogou luz sobre uma parte da história apagada do país, foi alçado ao posto de obra de arte. A bandeira será a peça-âncora de uma ocupação que o o carnavalesco Leandro Vieira promoverá no Museu de Arte Moderna a partir de janeiro. A intervenção acontecerá dentro da exposição “Hélio Oiticica — A dança na minha experiência”.
Para entender melhor a importância da ocupação verde e rosa no MAM é preciso voltar um pouco no tempo. Em 1965, passistas e ritmistas negros da Estação Primeira foram barrados na porta da instituição carioca, quando Oiticica tentou apresentar seu “Parangolé Mangueira” nos salões do espaço durante a abertura da histórica exposição “Opinião 65”. A performance acabou tendo que acontecer do lado de fora, nos pilotis. Agora, mais de 50 anos depois, os artistas da Mangueira terão o lugar de destaque que merecem dentro do museu carioca. Eles serão as estrelas da ocupação pensada por Leandro, curador convidado.
— Um artista da magnitude de Oiticica reconheceu que sua experiência com a Mangueira se deu, sobretudo, pelo contato com os corpos pretos da escola. Quem não entendeu isso foi a instituição que reforçava a visão colonial e preconceituosa que marca nossa sociedade — diz Leandro. — Levarei os saberes desses corpos negros lá para dentro. Será uma ocupação em que a dança do passista, do mestre-sala e da porta-bandeira, e a musicalidade negra serão protagonistas. Muita gente preta vai ocupar o MAM.
A rainha de bateria da escola, Evelyn Bastos dará oficinas de samba, o mestre de bateria, Wesley, de percussão. Ainda acontecerão outros workshops e debates sobre a importância do carnaval como atividade artística e social.