Na noite da última segunda-feira, 09, o programa Roda Viva, da TV Cultura, recebeu a filósofa, escritora e feminista, Djamila Ribeiro. Logo no começo do programa, a convidada prestou solidariedade à população do Amapá, que está com uma falta de energia elétrica desde a semana passada.
“Por mais que o conselho nacional já tenha alertado sobre a precarização do que acontece no Brasil, é um povo que vem sofrendo com uma série de questões, ainda mais com a invisibilidade”, disse.
Racismo no Brasil
Um dos tópicos discutidos no debate foi o racismo no Brasil. Djamila fala que quando alguém famoso sobre com um ataque racista nas redes sociais, é logo feita uma comoção e falam “nossa, em pleno século 21, o Brasil ainda é racista.”
Mas, a filósofa completa perguntando quando o país não foi racista? “Esse país foi fundado em cima do sangue negro e indígena, um país que teve quatros séculos de escravidão, em que a escravidão foi a base da economia do país. Então falta muitas vezes ao brasileiro o entendimento do racismo como uma estrutura, a investigação sobre a origem social das desigualdades e de romper com essa visão que ficou, infelizmente, muito popular no Brasil porque foi feita para uma elite intelectual”, completa.
Estado omisso com as mulheres negras
Durante o debate, a escritora ainda explicou que existe o pensamento que a mulher negra deve sempre ser “guerreira e forte”, mas que isso acontece pelo fato do poder público ser omisso a elas.
“A gente tem que ser forte porque o Estado é omisso. Naturalizar uma pretensa força da mulher negra é negar as violências sistêmicas às quais elas são vítimas historicamente. Esse lugar de mulher negra forte faz com que mulheres negras tomem menos anestesia, sejam menos tocadas no pré natal.”
Além disso, ela ressalta a importância do feminismo negro para ajudar as mulheres negras que agora, mais do que nunca, estão ganhando voz. “O feminismo negro é muito importante porque, ao contrário do que as pessoas pensam, não é um movimento sectário. Nomear essas opressões é justamente combater uma divisão que já está posta”, afirma.
Polêmica com Preta Parks
Apesar de ter falado de vários tópicos durante o programa, um dos trechos que mais gerou alvoroço nas redes sociais. Foi quando Djamila falou sobre colorismo no Brasil.
Durante uma live com o deputado Marcelo Freixo, Djamila se refere à militante Preta Parks como “clarinha de turbante”.
“Eu acho que muitas pessoas negras que se descobriram negras, muitas vezes recentemente, as vezes elas não entendem a importância desse debate como fundamental. Que pessoas como eu, que são pretas e sempre se souberam pretas passam por uma série de experiências diferentes. A experiência de negritude não é universal e a gente não pode negar isso, por mais que esse tema seja tabu, é fundamental que nós o enfrentemos”, afirmou.
Ela prossegue: “Eu vou muito na linha da Lélia Gonzalez, alguns são negros, outros moreninhos, mulatinhos, sobretudo aqueles que não entendem qual é o peso histórico, muitas vezes, se deixam usar por uma branquitude racista pra atacar pessoas pretas que estão fazendo o seu trabalho honestamente. Então falta ainda para essas pessoas, uma reflexão mais profunda do que é a negritude e qual é o significado de negritude para as pessoas que são pretas.”
Após a fala, a ativista Preta Parks usou suas redes para se posicionar, dizendo que não era a primeira vez que Djamila fazia isso, e usar o termo “mulatinha” era “asqueroso”, e que ela queria ter o direito de resposta.
“Mais uma vez Djamila Ribeiro utilizou o seu prestígio para me insultar. Com a ajuda da @veramagalhaes ela foi no #RodaViva onde fui de novo a “clarinha de turbante”, como se não tivesse nome. Djamila defendeu o que disse e adicionou outros termos asquerosos, como mulatinha.”, escreveu em seu twitter.
O termo mulatinha foi parar nos assuntos mais comentados do Twitter e muitas internautas mostraram repúdio contra a fala da escritora. “uma mulher negra que usa um termo racista, “mulatinha”, para atacar outra. afe”, comentou a jornalista Cynara Menezes.