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“Demorei quinze anos para entender que tive depressão pós-parto”


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A depressão pós-parto ainda é um tema que é pouco discutido e permeado por muitos tabus criados pelo senso comum. “Ser mãe é a melhor coisa do mundo, como você não está feliz?”. Essa pergunta e suas variações são frequentemente ouvidas por mulheres que acabaram de ter um filho, o que pode levá-las a ignorar os sintomas de uma possível depressão. 


depressão pós-parto
Instagram/ @umamaepratres

Mônica percebeu que havia sofrido de depressão pós-parto 15 anos depois de ter seu primeiro filho


Segundo o psiquiatra da Beneficiência Portuguesa de São Paulo, Pedro Katz, a depressão pós-parto é mais comum do que se imagina. De acordo com um estudo de 2016 da Fiocruz, 26,3% das mulheres apresentam sintomas da doença no Brasil. Porém, existe um quadro conhecido como “baby blues”, que é bem mais comum e tem sintomas muito parecidos com o da depressão, porém menor intensidade e duração.

“No baby blues a mulher costuma apresentar um humor mais instável, às vezes mais tranquila, às vezes mais irritável, angustiada. Pode ter alteração de apetite e dificuldade para dormir também. Geralmente dura até dois ou três meses depois do parto”, explica o psiquiatra.

“Descobri que tive depressão pós-parto três filhos depois”

Mônica, de 33 anos, é uma das mulheres que enfrentou os sintomas de uma depressão pós-parto calada, por não ter acesso a tanta informação e pela vergonha de desabafar e assumir tudo o que sentia. Na verdade, Mônica só entendeu de verdade que viveu uma depressão pós-parto muitos anos depois do seu primeiro parto, já com outros dois filhos.

“Eu tinha um relacionamento há cinco anos, decidimos ter um filho e nos programamos. O David foi muito esperado, a gravidez foi super tranquila. Nos primeiros dias estava tudo bem, mas eu comecei a me sentir estranha e muito sozinha, porque o pai trabalhava fora e eu ficava em casa com o bebê”, conta a fotógrafa.

Durante nove meses, ela e o parceiro dormiam em camas separadas para que o David dormisse na cama com ela. Isso também intensificou a distância entre eles e o sentimento de solidão. “Hoje eu descobri que ele teve o que chamam de ‘síndrome da Virgem Maria’, que é quando o pai do seu filho passa a te enxergar apenas como a mãe e não como uma mulher, então não tem mais atração sexual. Isso me fez muito mal”, diz Mônica.

Os principais sintomas da fotógrafa foram crises de choro frequentes e até alucinações — ela chegou a ver vultos e sentir presenças estranhas. Durante todos esses meses de sofrimento, ela não se abriu com ninguém e fingia estar bem na presença de outras pessoas. 

“Eu demorei quase quinze anos para entender o que aconteceu comigo, que eu tive depressão pós-parto, que me impediu de amamentar meu filho. Fiquei sem apoio, porque minha mãe estava morando longe e passando por um divórcio. Demorei quinze anos para descobrir que tinha sofrido violência obstétrica… Foi tudo muito duro e eu não tinha consciência”, explica a mãe de David, Théo e Otto.

Apoio e diagnóstico

Alguns sintomas da depressão pós-parto interferem nos sentimentos e na relação que a mãe cria com aquele bebê. Algumas mulheres que passaram por isso relatam que achavam que não eram capazes de amar o próprio filho. Muitas acabam negligenciando o cuidado do bebê por não conseguir cuidar nem de si. 

“Como em todo quadro depressivo, o sono da mãe fica ruim, o apetite fica ruim, o humor fica ruim, não dá vontade de conversar, não dá vontade de sair, de ver televisão. Têm muitos pensamentos ruins, até relacionados à morte. E, nesse caso específico, tem toda a questão do cuidado com o bebê e dela própria, podem vir ideias muito intensas e graves de risco para mãe e para o filho”, afirma Katz.

Ao passar por isso, é muito importante que a mulher tenha apoio, tanto ela quanto os amigos e familiares devem estudar e buscar entender essa doença. Katz recomenda que todas as mães que estão enfrentando algum tipo de tristeza no pós-parto façam o questionário de autoavaliação chamado EPDS (Escala de Depressão Pós-Parto de Edimburgo). “É um questionário indicativo, então ele não te dá o diagnóstico de depressão, mas ele tem uma série de perguntas direcionados que te indicam que é hora de procurar ajuda, sair da espera e falar com alguém”.

Fonte: IG Mulher

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