Em Mato Grosso do Sul, o Dia Estadual do Voluntário foi instituído pela Lei nº 5.556, de 17 de agosto de 2020, para ser comemorado anualmente no dia 28 de agosto. Mas o que significa ser voluntário?
No dicionário Michaelis, um dos significados da palavra voluntário é o “indivíduo que realiza um trabalho apenas para prestar ajuda ao próximo ou a uma instituição, sem receber remuneração”, entretanto para três servidoras estaduais de MS o voluntariado é muito mais do que isso. É uma ação que transmite amor, gera aprendizado e proporciona mudanças positivas na vida de cada uma delas.
Juliana Benfatti, servidora da sede administrativa da Agepen, atua como voluntária em dois locais: Escolinha da Tia More, que atende cerca de 60 crianças de 02 a 14 anos no contraturno escolar, fornecendo alimentação e cuidados, de forma gratuita e na Central Única das Favelas (CUFA/MS), que possui mais de 20 anos de atuação em territórios de favela e periferia por meio de projetos culturais, artísticos, esportivos, educacionais e de responsabilidade social em todos os Estados.
Apesar de ter começado a atuar de forma mais intensa e frequente no ano passado, a servidora conta que teve contato com ações de solidariedade desde muito jovem, através dos ensinamentos de seus pais e por sempre ter estudado em escolas com formação religiosa.
“A minha formação familiar tem grande incentivo na vontade de realizar trabalhos voluntários. Minha mãe, que é psicóloga, já trabalhou com assistência e meu pai era professor em escolas públicas e particulares. Eu e meu irmão sempre fomos encorajados a ter empatia, enxergar fora da nossa bolha e a valorizar o quanto somos privilegiados por termos tido acesso à educação de qualidade, saúde, moradia confortável, lazer, alimentação saudável, etc.”, analisou.
E foi esse olhar especial ao próximo que fez com que a história de Juliana com a Escolinha da Tia More começasse. Durante uma entrega de brinquedos produzidos por custodiados da Agepen para diversas instituições que atendem crianças, a servidora conheceu a responsável pelo projeto da Escolinha, dona Edileuza.
“Pude observar que são crianças e famílias extremamente vulneráveis e com muitas necessidades. Desde então, a dona Edileuza me mantém informada quanto ao estoque de alimentos, gás e produtos de limpeza. De tempos em tempos, organizo com familiares e amigos campanha de arrecadação para tentarmos suprir as necessidades”, contou.
Já o interesse pela instituição CUFA surgiu durante o período de pandemia. Juliana buscou informações sobre a regional de MS, após ver posts nas redes sociais e campanhas de arrecadação para a instituição. “Na CUFA, por se tratar de uma organização maior, nesse momento de pandemia, estamos colaborando com logística. Ajudamos a transportar os alimentos e roupas doados pelas pessoas, dos locais de arrecadação até a sede da instituição, onde são separados para a distribuição nas comunidades”.
Outra servidora que utiliza o seu tempo para ajudar o próximo é Laura Evelynne Barbosa Yassumoto, assistente administrativo da Procuradoria-Geral do Estado. Há quase quatro anos, ela colabora com o movimento ‘Amigos da Fabi’, que realiza visitas na pediatria da Santa Casa e na quimioteca do Hospital Regional para levar desenhos de colorir e realizar brincadeiras.
Ela conta que também conviveu com filantropia desde a infância, mas que decidiu se engajar no ato de solidariedade ao próximo após superar um momento delicado de sua vida. “No momento que me curei da depressão, percebi que precisava de mudanças em minha vida e, principalmente, levar amor ao próximo. O voluntariado me trouxe muitos aprendizados, mas principalmente valorizar a família, amigos e a vida como um todo. Pequenas coisas constroem grandes momentos”, declarou Laura.
O último e não menos importante exemplo de amor ao próximo vem da servidora da Subsecretaria de Comunicação de Mato Grosso do Sul, Mireli Gonçalves Obando. Há quatro anos ela se tornou a Dona Clotilde, a Bruxa do 71 da Turma do Chaves, na Liga do Bem.
Com cerca de 200 voluntários, o grupo tem como trabalho de base visitas em hospitais e casas de repouso, e atua com alguns projetos especiais como o MC Dia Feliz que acontece anualmente em todo País, e em Mato Grosso do Sul, apoiam a Associação dos Amigos das Crianças com Câncer (AACC) durante toda a campanha.
Assim como Juliana, a servidora Mireli também teve o seu primeiro contato com a Liga do Bem durante o seu expediente no Governo do Estado. “Em agosto de 2016 conheci a Liga do Bem após uma visita deles na SAD, secretaria onde eu atuava na época. Nos dias que sucederam essa visita, acompanhei os heróis na divulgação e venda de tickets nas outras secretarias no Parque dos Poderes. Uma semana de ação foi suficiente para eu me encantar com tamanha doação e comprometimento dos voluntários, organização e seriedade do grupo.”
Mireli relembra que o voluntariado marcou a sua vida em diferentes fases, entre elas a infância, período em que viu a mãe se dedicar ao trabalho voluntário com aulas de reforço escolar em uma pequena favela ao lado do bairro onde morava em Bela Vista.
“Em datas comemorativas como Natal, Páscoa e dia das crianças, diversos grupos e organizações faziam ações para essa comunidade, e eu e meus irmãos sempre participávamos, e além dos presentes, recebíamos toda essa energia positiva que vem junto com o trabalho voluntário. Isso me marcou, e eu sempre quis retribuir o que fizeram por mim quando criança. Acredito que o bem que fazemos ao próximo, seja bem material ou doação de tempo, sempre volta para a gente de alguma forma”.
Já como voluntária, algumas histórias marcaram a vida da servidora e ficarão guardadas em sua memória. “Cada missão é única. Basta sair de casa com o coração aberto. Eu sempre saio, então são tantas. Já teve reencontro com uma senhora que era vizinha da minha vó quando eu era criança, já teve paciente de UTI reagindo ao meu cantar, conheci a menina Maitê que tem uma doença rara e os médicos deram a ela só alguns meses de vida (ela fez 2 anos esse mês), então os pais que são fãs de Chaves vivem intensamente cada novo mês. São tantas que é difícil citar a que mais marcou, mas uma coisa é fato, a cada missão, Deus fala comigo de alguma forma. E eu sempre volto para casa com o coração preenchido por uma sensação enorme de paz.”
A servidora da Subcom ainda relata que o trabalho desenvolvido pela Liga do Bem envolve na grande maioria das vezes a doação pessoal, como tempo, conversa e especialmente o ouvir. E ela acredita que esse belo trabalho modificou o seu pensamento sobre a vida e até mesmo em relação ao serviço público.
“Eu costumo dizer que o voluntariado nos aproxima de Deus. São nas missões que nos aproximamos de realidades totalmente diferentes da que estamos acostumados, e que muitas vezes está tão pertinho. Com isso, passei a dar mais valor a pequenas coisas, reclamar menos, e também aprendi a ter mais empatia. Acredito que tudo que muda o nosso interior, consequentemente irá contribuir com tudo ao nosso redor, incluindo o trabalho”, destacou.
E quando se trata de descrever a sensação de contribuir com um gesto tão belo como o voluntariado e sobre recomendar a experiência para as outras pessoas, as respostas das três servidoras são as mais positivas e seguem em sintonia.
“Eu acredito que o maior ‘benefício’ de realizar algum tipo de trabalho voluntário é começar a valorizar a vida de uma forma diferente. O coração se aquece a cada sorriso das crianças e das famílias ajudadas. As pequenas coisas levam a eles uma alegria tão grande, que eu, como voluntária, passo a enxergar que não tenho problemas, não tenho do que reclamar. E é importante sabermos que não precisa de muito, não precisa querer mudar o mundo todo de uma vez só. Cada pessoa pode fazer a diferença na vida de outra”, ressalta Juliana.
Para Laura a sensação é de realização. “A cada visita, meu coração se enchia de amor e felicidade. Recomendo o trabalho voluntário, porque além de tantos aprendizados, o voluntariado nos torna seres humanos muito melhores, aprendemos a termos mais empatia e, principalmente, a valorizar momentos e coisas simples”.
“O serviço voluntário é de uma grandeza sem fim para quem se permite viver a experiência. É sempre muito gratificante voltar para a casa sabendo que fiz a diferença no dia de alguém. Na maioria das vezes há uma troca, então sempre retorno para casa com a sensação de que fui mais beneficiada com a missão que o próprio paciente”, finaliza Mireli.
Ana Letícia Gaúna, SAD