Em uma live promovida pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), na tarde de ontem (07.05), a taekwondista Débora Menezes, da classe K44 (para amputados de braço), falou sobre carreira, entrada no mundo das artes marciais e, é claro, dos Jogos Paralímpicos de Tóquio (Japão). Com uma má-formação congênita no braço direito, a atleta começou a prática esportiva em 2013. “Foi no final da graduação de educação física. Conheci o paradesporto na faculdade. Foram 12 anos de futsal. Participei também do atletismo e do lançamento do dardo”, recorda.
Foi justamente no atletismo que começou o aprendizado de superação. “Tive uma frustração muito grande com o cancelamento de uma competição que valeria o índice para os Jogos do Rio (2016). Me preparei por cinco meses para o campeonato. Mas, infelizmente, a competição foi cancelada. A frustração foi grande, pensei até em parar. Fiquei quatro meses sem ir na academia. Mas vi que era aquilo que eu queria. E não podia desistir”.
O contato com as artes marciais começou também dentro da faculdade, e não foi no parataekwondo. “Foi no boxe. No último semestre de Educação Física, um professor propôs um trabalho acadêmico sobre lutas para pessoas com deficiência. E eu era a única no nosso grupo”.
Na ocasião, o atual técnico da seleção brasileira de parataekwondo, Alan Nascimento, começou a fazer diferença na vida da atleta. “Ele foi meu colega de curso. E sempre me incentivou demais na prática esportiva. Comecei mais como hobbie, não pensava em competir. Até que fui me impondo e colocando para fora o melhor de mim. As coisas não caem do céu. Você deve seguir o seu coração. E aí o professor Alan me ajudou bastante” recorda a medalhista de prata nos Jogos Parapan-americanos de Lima em 2019.
O técnico Alan também guarda recordações desta época. “Não estávamos na mesma sala. Mas tivemos uma matéria de lutas e capoeira na faculdade. Tivemos que apresentar esse trabalho. Eu fiz sobre aikido. Depois, ela começou [a treinar] comigo quando ainda estávamos na Federação Brasileira de Parataekwondo (CBTKD). Eu até convidei a Débora para treinar na minha equipe. E ela ficou lá até 2018. Enxergava nela a gana de vitória. Sabia que algo bom viria pela frente”, relata.
Em 2019, Débora conquistou a medalha de ouro no Campeonato Mundial da modalidade, em Antália (Turquia), na categoria acima de 58 quilos da classe K44. “O ouro no mundial foi a minha conquista mais especial até agora, era algo que eu sonhava. O primeiro mundial de parataekwondo foi em 2017, eu fiquei em quinto lugar, treinei muito e fui determinada a trazer o ouro para o Brasil”.
Também no ano passado, a modalidade estreou nos Jogos Parapan-Americanos, em Lima (Peru), e Débora conquistou a medalha de prata.
A atleta já está classificada para os Jogos Paralímpicos de Tóquio, adiados para o período de 24 de agosto a 5 de setembro de 2021. A confirmação veio pelo ranking mundial (ela fechou o período qualificatório em segundo lugar. Os quatro primeiros garantem presença nos Jogos). “Sempre pensei e trabalhei a longo prazo. A minha meta era me classificar para Tóquio pelo ranking. Minha equipe técnica e eu fizemos um trabalho tático para que eu conquistasse os pontos necessários a cada competição para ficar bem posicionada”, contou.
A pandemia do novo coronavírus (covid 19) está sendo mais um desafio para a taekwondista. ” O momento é desafiador. Precisamos nos reinventar. Mas o meu trabalho tem o foco no longo prazo. Tento fazer o possível em casa todos os dias, com o acompanhamento à distância da comissão multidisciplinar. Penso todos os dias na medalha dourada que eu quero trazer de Tóquio. Isso me incentiva demais”, revela.
Equipe brasileira de taekwodo
Além da Débora Menezes (categoria acima de 58 kg), o Brasil terá outros dois atletas na estreia da modalidade nos Jogos de Tóquio: Silvana Fernandes (categoria até 58 kg) e Nathan Torquato (até 61 kg). A dupla ganhou a medalha de ouro no Pan-Americano de Parataekwondo e se garantiram nos Jogos Paralímpicos. A competição aconteceu em Heredia (Costa Rica) e era o último torneio qualificatório das Américas. Pelas regras, o campeão por categoria de peso na disputa garantia a vaga direta.
O parataekwondo fará sua estreia no programa paralímpico na capital japonesa e apenas atletas da categoria K44 (com comprometimento no membro superior) poderão participar.
Edição: Cláudia Soares Rodrigues