O feriado de carnaval está aí. Para muitos, serão quatro dias longe do trabalho. Em tempos de pandemia do coronavírus, a folia foi cancelada por todo o país, inclusive no Distrito Federal.
No entanto, trata-se de um período em que muitos brasilienses aproveitam para fazer uma boa viagem. Na visão da médica infectologista e referência distrital da Secretaria de Saúde, Lívia Ribeiro, não é o mais recomendado para o momento, em virtude do risco de contágio pela Covid-19.
Todavia, se for buscar novos ares, é fundamental tomar alguns cuidados para não voltar para casa com uma virose. Não só a Covid-19, mas também outros tipos de doenças transmitidas por vírus.
São muitos os tipos de viroses. Elas podem ser transmitidas por vias aéreas, pela alimentação, por via sexual, entre outras. Não custa lembrar que a prevenção continua sendo o melhor caminho. “Lavar sempre as mãos e higienizar os objetos tocados com frequência é sempre importante. Além de tomar cuidado com a alimentação, que é uma premissa básica”, alerta a infectologista.
E se o destino for o exterior, a lista de recomendações aumenta. Lívia Ribeiro indica inclusive uma consulta médica antes do embarque, para que o viajante possa ir mais tranquilo e seguro.
Confira os trechos da entrevista:
O que são viroses e quais são as mais comuns no Brasil?
São todas as doenças que podem ser causadas por vírus. Vez por outra escutamos que quando há um quadro de febre ou quando o organismo está debilitado e não há um diagnóstico definido. Então, provavelmente, é virose. Vírus são microrganismos que nem sempre a gente consegue identificar, diferente das bactérias. Os grupos ou famílias de vírus podem causar as mais diferentes doenças. Podemos citar vírus como o HIV, transmissor da AIDS, os que causam as hepatites virais e também as arboviroses (dengue, zika, chikungunya e febre-amarela), os respiratórios como o Sars- Cov-2 – responsável pelo coronavírus, os que transmitem a Influenza e, ainda, as viroses gastrointestinais. A maior ocorrência depende muito do tipo de exposição e da faixa etária. Temos infecção viral por via sexual, ou por contato com as mucosas, como herpes labial, vaginal. Temos as de transição respiratória, como a Influenza e o rinovírus. É importante saber que tanto a Covid-19 como uma diarreia causada pelo rotavírus são consideradas viroses.
Como saber se estou com virose? Existe algum sinal ou sintoma específico?
É difícil diferenciar, apenas com sinais e sintomas, uma infecção viral de uma bacteriana. Ou ainda de outra doença com sintomas semelhantes. Mas a febre é um excelente marcador, um alerta pra dizer que tem algo errado, que existe um sinal inflamatório. Indica que o corpo está lutando contra microorganismos. A febre persistente, a cefaleia (dor de cabeça), dor abdominal, diarreia, tosse, dor de garganta são sinais de uma infecção viral ou abertura de uma doença crônica. Agora, a diferenciação de um mal causado por vírus ou bactéria não é feito por uma pessoa leiga. Deve-se procurar um profissional de saúde.
O feriado de carnaval está aí e muitas pessoas vão viajar. Como se prevenir, por exemplo, do contágio pela Covid-19?
Em primeiro lugar, é preciso reforçar pra população que ainda estamos em pandemia. As pessoas estão um pouco cansadas desse assunto. Mas vale lembrar que quase todo mundo teve algum tipo de perda – seja financeira, afetiva ou emocional. Assistimos a um aumento de casos em várias capitais do país. Temos também a circulação de novas variantes do coronavírus em alguns locais. O ideal é não viajar no momento. Mas, para quem vai deixar a cidade, é necessário manter os cuidados. Até mesmo os que já tiveram a doença, é preciso manter o distanciamento social, o uso de máscaras de proteção, a higiene frequente de mãos e dos objetos tocados com frequência.
Qual o maior risco nesse período?
Oficialmente, a gente sabe que não vai haver festa de carnaval nos estados. Mas as pessoas promovem um churrasco, se juntam em casa. E tem também as festas clandestinas. Todo tipo de aglomeração pode favorecer a transmissão da Covid-19 e outras doenças respiratórias. Algumas pessoas já estão sendo vacinadas como profissionais de saúde e idosos. Ainda que vacinadas, a proteção efetiva, segura, contra o coronavírus só vêm após duas semanas da segunda dose da vacina. Portanto, não é o momento de descuidar.
O ideal é não viajar no momento. Mas, para quem vai deixar a cidade, é necessário manter os cuidados. Até mesmo os que já tiveram a doença, é preciso manter o distanciamento social, o uso de máscaras de proteção, a higiene frequente de mãos e dos objetos tocados com frequência
Como se prevenir de doenças em locais de uso coletivo como banheiros, hotéis, piscinas, campings, etc?
Em primeiro lugar, fazer a higiene frequente das mãos e dos objetos tocados com frequência. Por exemplo, se for a um restaurante ou a um café, veja se alguém higienizou a mesa da refeição. Sempre higienizar as mãos após utilizar o banheiro. Os botões de descarga, torneiras, são sempre tocados e devem ser higienizados pelos estabelecimentos. Nossas mãos são carregadores, transportam microrganismos de um lugar para o outro e assim se tornam grandes vilãs nesse processo. Em relação à piscina, as que possuem água clorada são as mais adequadas pois evitam a transmissão dos microrganismos pela água. A aglomeração em vestiários é mais preocupante, pois são locais bem propícios à transmissão da Influenza, do coronavírus. E outras infecções por vias aéreas. No caso de acampar, divida barracas com pessoas com as quais tenha convivência diária ou familiares. E leve o repelente para essas áreas não-urbanas, com objetivo de evitar a transmissão de arboviroses como a dengue ou a febre-amarela. São medidas para evitar a picada de vetores que transmitem a doença, como o Aedes Aegypti.
E nas praias? Que tipo de cuidado precisamos ter?
As praias são locais onde devemos nos preocupar com a procedência dos alimentos, já que há muitos ambulantes comercializando. Ficar atento à comida que se ingere ali. Outra questão é com relação à Covid-19. Como venta muito nas praias e muitas pessoas não costumam usar a máscara, é recomendável se posicionar de forma a garantir o distanciamento social. Estar a uma distância de pelo menos 2 metros dos outros banhistas. Um cuidado adicional é levar o seu próprio álcool líquido e higienizar as mãos com frequência. A pessoa pode achar que a água do mar lava as mãos. Porém, a higienização ideal é com água e sabão ou álcool 70%.
É recomendável levar medicamentos para a viagem? Quais?
Sim, podem ajudar. Alguns medicamentos como o antitérmico, analgésico, um kit de primeiros socorros para um curativo são úteis. Mas é sempre importante ouvir a orientação médica. Agora, se o indivíduo está com uma febre persistente, após 48 horas, ou superior a 39º C, se possui manchas pelo corpo, dor articular, diarreia, é preciso correr para uma unidade de saúde. Lá, ele fará um exame físico e será diagnosticado. Nessas viagens de ecoturismo, em matas e locais distantes dos centros urbanos, é mandatório levar o repelente. Não se pode esquecer ainda dos remédios de uso contínuo, como os de hipertensão, por exemplo.
E no caso de uma viagem pro exterior, qual a melhor forma de prevenção? Como evitar retornar para casa com uma virose?
Em grandes viagens, como as internacionais, recomendamos que a pessoa se consulte antes de ir. É o que chamamos de medicina dos viajantes, que é feita por um médico infectologista. Algo que não é da cultura do brasileiro. Mas, que é interessante para saber da epidemiologia do local, como será o acesso à alimentação, as exposições que ele terá naquela localidade. São lugares totalmente desconhecidos, né? Dependendo da localidade e com uma orientação, o viajante pode levar um medicamento guiado, por exemplo. É uma forma de planejar melhor a viagem. A pessoa usa seu tempo apenas para usufruto do passeio. Se acontecer uma intercorrência, ela estará preparada. Se precisar de um apoio ou de um socorro em um país com cultura diferente, com outro idioma, isso acaba se tornando um problema gigante em um momento de lazer.