Regina Souza Bispo, 53 anos, sentiu o sangue gelar ao receber o diagnóstico de câncer de mama entre 2023 e 2024. Mesmo após quatro mamografias e ecografias sem indícios da doença, ela notava algo diferente no próprio corpo. “Eu sentia uma diferença entre as mamas e fiquei incomodada. Minha ginecologista disse que eram cistos por conta da menopausa”, conta.
Após o diagnóstico de câncer, Regina Souza Bispo conseguiu se recuperar após exames e tratamento pela rede pública de saúde | Foto: Alberto Ruy/IgesDF
Hoje, depois de uma cirurgia e sessões de quimioterapia e radioterapia, todas realizadas pelo SUS, Regina relembra os momentos mais dolorosos e celebra a vitória da vida e da medicina. “Minha ginecologista me encaminhou para uma mastologista, que foi quem sugeriu fazermos uma punção, depois de mais duas mamografias que não apontavam o câncer maligno”, conta.
Com o diagnóstico de câncer finalmente confirmado, Regina sentiu como se aquilo fosse uma sentença. “Aí o inferno congela, né? Você pensa que vai morrer, porque é câncer. Foi então que a médica solicitou a cirurgia e o encaminhamento para a oncologia”, conta. Após entrar na fila da regulação da Secretaria da Saúde, Regina foi chamada para realizar a cirurgia no Hospital de Sobradinho.

“Não são todos os países que oferecem tratamento gratuito, não. Sempre há o que melhorar. Porém, o que eu tenho hoje de respaldo no meu tratamento, eu encontrei aqui”, afirma Regina, que fez quimioterapia e radioterapia pelo SUS
Após o período de recuperação da cirurgia, Regina chegou ao Hospital de Base encaminhada para o início das sessões de quimioterapia. “A primeira vez que você vai fazer quimioterapia, dá a impressão de que você vai morrer. Sentia uma sensação estranha no rosto, como se eu estivesse tendo uma crise de sinusite”, lembra. “Depois de algumas sessões, essa sensação passa”, conta Regina.
Com o tempo, os efeitos colaterais se intensificaram. “Engordei 15 quilos por causa dos remédios. Tive enjoo, vômitos e, na penúltima quimio, fui diagnosticada com neuropatia periférica. Sentia as mãos e pernas dormentes, como se estivessem sendo esmagadas”. A reação adversa é considerada comum em algumas pessoas que passam pelo tratamento.
Após a quimioterapia, Regina iniciou sessões de radioterapia no Hospital Santa Lúcia, também pelo SUS. “Foram 15 dias seguidos. Eles marcam a pele com caneta e colocam esparadrapos. A pele fica muito sensível. Durante e depois do tratamento, nada de sol”, explica. “Os médicos disseram que o efeito da radioterapia é eterno”.
A rotina mudou completamente. “Antes, eu era cabeleireira e tirava até R$ 10 mil por mês. De repente, parei de trabalhar. Todo o dinheiro que eu tinha foi usado com transporte para o tratamento.” Apesar das dificuldades, ela se considera uma sobrevivente. “Muita gente descobre tarde demais.”
O apoio do marido foi fundamental, conta ela: “Ele esteve ao meu lado em tudo. Me dava banho, fazia minha comida, me levantava. Trabalhava à noite e, mesmo cansado, cuidava de mim. Já meus amigos e familiares desapareceram”.
O SUS e o atendimento no Hospital de Base

Regina elogia o atendimento que recebeu no Hospital de Base: “Todos os médicos que passaram por mim me atenderam bem. Todos os exames que eu precisei fazer, eu fiz”
Regina avaliou como muito bom o atendimento que recebeu durante o seu tratamento no Hospital de Base do Distrito Federal e agradece pela existência do Sistema Único de Saúde. “Se eu tivesse que pagar tudo o que eu fiz, se vendesse minha casa, meu carro, mesmo assim não dava pra pagar o tratamento. Cada quimioterapia que eu fiz custava R$ 25 mil. É muito dinheiro, né? Uma cirurgia, as sessões de radioterapia, não teria dinheiro nunca para isso”, lembra.
“Quando eu cheguei aqui no Hospital de Base, descobri que esses médicos têm muita empatia pelos doentes, sabe? Os médicos olham pra você com amor, com respeito. Eles se doam de verdade”, sentencia Regina. “Para trabalhar em hospital, tem que ter muito amor. Eu fui muito bem-atendida por todos. Fiquei internada três dias na UTI, e seis dias no décimo andar. Todos os médicos que passaram por mim me atenderam bem. Todos os exames que eu precisei fazer, eu fiz. Bendito seja o SUS.”
“Se eu tivesse que pagar tudo o que eu fiz, se vendesse minha casa, meu carro, mesmo assim não dava pra pagar o tratamento. Cada quimioterapia que eu fiz custava R$ 25 mil. É muito dinheiro, né? Uma cirurgia, as sessões de radioterapia, não teria dinheiro nunca para isso”
Regina Souza Bispo
De acordo com Regina, sem o SUS, a maioria das pessoas nunca iria conseguir fazer um tratamento digno. “Não são todos os países que oferecem tratamento gratuito, não. Sempre há o que melhorar. Porém, o que eu tenho hoje de respaldo no meu tratamento, eu encontrei aqui”, lembra.
Regina faz questão de agradecer o cuidado que recebeu dos médicos do ambulatório de oncologia do Hospital de Base. “Queria agradecer às doutoras Ana Carolina, Milena Macedo Couto, Juliana Moura Ribeiro, Thatiani Dini e Maritha Araújo, e também a Leonardo Guerra, pelo carinho que tiveram comigo esse tempo todo. Foram todos maravilhosos comigo, sempre me dando toda a atenção e me ajudando a encarar o tratamento”, lembra.
Ao final da entrevista, Regina não consegue mais segurar as lágrimas. “O câncer não foi um atestado de óbito para mim. É uma chance que você tem na vida de melhorar como pessoa. Você tem a oportunidade de enxergar a vida com outros olhos e de ver que Deus existe de verdade. E você não escuta a voz dele só quando você não quer. Quando você se fecha, você não consegue escutar nem você mesmo, mas quando abre os olhos e o coração, Deus fala nitidamente. É amor. É só amor”, conclui Regina.
*Com informações do IgesDF
Fonte: Agência Brasília