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Museu Nacional abre mostra panorâmica de Fayga Ostrower

Mezanino do Museu Nacional da República, onde pode ser vista até 5 de dezembro a mostra panorâmica da obra de Fayga Ostrower | Foto: Secec-DF

O Museu Nacional da República (MUN) apresenta a partir desta sexta-feira (10), no mezanino, Fayga Ostrower – Centenário, exposição panorâmica do trabalho da artista plástica brasileira nascida na Polônia Fayga Ostrower (1920-2001). Ao mesmo tempo, outra mostra com vasto acervo de Maria Inês da Silva ocupa a Galeria Principal.

De Fayga Ostrower estão sendo exibidos 45 trabalhos doados pelos filhos da artista, Ana Leonor (Noni) e Carl Robert, ao espaço administrado pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec), acrescidos de peças da multiartista – pintora, desenhista, ilustradora – que fazem parte do acervo do Museu de Arte de Brasília (MAB).

“Temos a honra de apresentar essas peças aqui reunidas, que traçam a trajetória da produção artística de uma das pioneiras e principais expoentes da gravura abstrata no Brasil”, apresenta no texto curatorial a diretora do MUN, Sara Seilert.

Dificuldades fazem parte da história de Fayga, cuja família judia teve de cruzar a pé, durante a noite, a fronteira entre Alemanha e Bélgica, fugindo dos nazistas

Sara explica que Fayga libertou a gravura da função ilustrativa, dando-lhe autonomia como obra de arte autônoma, ao migrar para o abstracionismo, depois de passagem pelo figurativo no movimento estético do expressionismo, com o qual ilustrou, por exemplo, a edição de 1944 da obra O Cortiço, de Aluísio Azevedo.

A curadora destaca que a artista, teórica da arte e professora, cujas obras estão espalhadas em duas dezenas de instituições no Brasil e mais que o dobro disso no exterior, sempre experimentou muito com metal nas técnicas de água forte, água tinta e ponta seca, por exemplo, além dos trabalhos em madeira (xilografia).

No documentário Paixão pela Arte (2012), sobre Fayga, com roteiro, produção e direção da filha Noni, fica registrado que a artista fazia de erros na produção de gravuras acertos na construção de sua arte. Fayga é citada como tendo sofrido com críticas à sua arte quando deixou as ilustrações para mergulhar no abstrato. No vídeo, fica claro que ela não se intimidou com isso, e decidiu seguir adiante.

Fayga Ostrower em imagem do documentário ‘Paixão pela Arte’ (2012), realizado pela filha dela, Noni | Foto: Reprodução

Trajetória vitoriosa

Dificuldades fazem parte da história de Fayga, cuja família judia teve de cruzar a pé, durante a noite, a fronteira entre Alemanha e Bélgica, fugindo dos nazistas, antes de conseguir embarcar para o Rio, aonde chegou em 1934, indo se instalar em Nilópolis, nos subúrbios da capital.

Conhecedora de cinco idiomas, Fayga conseguiu emprego como secretária e conciliou o trabalho com cursos de desenho e arte, que a levaram ao sucesso no mercado de editoração e nas artes plásticas.

A paixão pelo desenho já havia se manifestado na longa travessia de navio vindo da Europa, quando aproveitou para desenhar passageiros e até o capitão da embarcação, trabalho pelo qual recebia em troca chocolates, divididos com os três irmãos.

“A mostra busca oferecer inspiração na forma insubmissa, irônica, mágica e deliciosa de ver o mundo revelada pelo encantador e fundamental trabalho de Miriam Inez da Silva”Bernardo Mosqueira, curador

Mais tarde, no Rio de Janeiro, a artista subiu a favela para desenhar crianças (convencidas a posar em troca de balas) e lavadeiras que achavam curioso a moça de olhos claros a fazer esquetes.

O texto curatorial anota que Fayga escreveu vários livros sobre arte e criação artística, citando Criatividade e Processos de Criação (1978), Universos da Arte (1983), Acasos e Criação Artística (1990) e A Sensibilidade do Intelecto (1998, Prêmio Jabuti).

Fayga Ostrower foi laureada ainda com o Grande Prêmio Nacional de Gravura, na Bienal de São Paulo (1957) e com o Grande Prêmio Internacional de Gravura, na Bienal de Veneza (1958).

Lecionou a disciplina Composição e Análise Crítica no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e, na década de 1960, trabalhou como docente em instituições nos EUA e Grã-Bretanha. Durante esses anos, também desenvolveu cursos para operários e centros comunitários a fim de divulgar noções de arte.

Obras que integram a mostra dedicada à artista goiana Maria Inês da Silva, em cartaz na Galeria Principal do museu | Fotos: Reprodução

Foi casada com Heinz Ostrower, historiador cuja biblioteca foi doada para o Arquivo Edgard Leuenroth, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em São Paulo.

O mundo de Maria Inês da Silva

A exposição sobre a arte de Maria Inês da Silva (1939-1996) traz ao MUN a vasta produção da artista goiana, nascida em Trindade, que migrou para o Rio de Janeiro, onde teve orientação artística de Ivan Serpa. A mostra traz a tensão entre o desenvolvimento da região goiana, com a construção das cidades de Goiânia e Brasília, e as influências da metrópole fluminense.

“Reunindo mais de 300 obras e extensa documentação – esta é a maior retrospectiva já desenvolvida a partir da obra da artista – a mostra busca oferecer inspiração na forma insubmissa, irônica, mágica e deliciosa de ver o mundo revelado pelo encantador e fundamental trabalho de Miriam Inez da Silva”, escreve o curador Bernardo Mosqueira, que pesquisa a artista desde 2015.

A escolha em dialogar com formas de arte entendidas como “tradicionais” – como a xilogravura, o cordel e a arte votiva – foi também uma maneira de inserir nelas suas críticas à hipocrisia e à normatividade que regulavam a sociedade em que vivia.

Serviço
Fayga Ostrower – Centenário (Mezanino)
Maria Inês da Silva (Galeria Principal)
De 10 de setembro a 5 de dezembro
Horário de visitação: sextas, sábados e domingos das 10h às 16h – horário reduzido em atendimento ao protocolo de segurança para enfrentamento da pandemia (o horário de visitação poderá sofrer alteração)
Telefone: (61) 3325-5220
Entrada gratuita

*Com informações da Secec-DF

Fonte: Agência Brasília

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