O Museu de Arte de Brasília (MAB) recebeu a visita de uma das mais importantes escultoras do país, Ana Maria Tavares. Ela esteve no equipamento da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec) para ajudar a montar o laudo de restauração de sua peça “O Beijo” (1989), prêmio de aquisição que faz parte do acervo da instituição.
A obra, assim como outras da coleção de 1.400 itens, vai passar por um processo de avaliação pela equipe do laboratório de restauração do MAB. Ana Maria conferiu a montagem da peça de aço que remete a um encontro de lábios, tema cuja força encontra abrigo na arte.
“Ana Maria e as museólogas voluntárias Nathalia Gianini Reys e Taiza Naves terminaram um gabarito de medidas e montagem da obra para subsidiar a restauração. Foi muito enriquecedor porque vai permitir ao museu aprimorar sua estratégia de trabalho, o que reverte em benefício do público”, avalia o gerente do MAB, Marcelo Gonczarowska.
O gestor do MAB explica que o laboratório de restauro passo por processo de licitação, decisão que surgiu a partir da recente reinauguração do espaço. Dispõe de três bancadas e seis pias para permitir o trabalho com materiais diferentes, sem misturá-los (por exemplo, papel, pintura, escultura).
Ar-condicionado e tubulação de exaustão do laboratório de restauro são independentes dos sistemas que existem nos espaços expositivos do museu, para evitar a circulação dos vapores dos produtos químicos usados no local.
O laboratório conta ainda com uma sala de descarte de materiais tóxicos, para evitar que seja depositado próximo ao lixo comum. Entre outros avanços, a porta de acesso ao laboratório possui fechadura com biometria, para garantir a segurança do acervo ao ser manipulado.
Ex-aluna de luminares das artes, como Regina Silveira (Faap) e Amílcar de Castro (UFMG), e filha precoce de um engenheiro químico com capacidade de chefe de produção, David Tavares, Ana Maria elogiou o esforço do laboratório de restauração do MAB.
Destacou a busca de diálogo do museu com a artista, o que seria um ponto de partida fundamental para a conservação da obra, com informações sobre conceito, estrutura, materiais.
Um dos aspectos que chamam a atenção de quem se posta diante de “O Beijo” é que a escultura possui rodinhas, quebrando de imediato a noção de que obras do gênero têm de ser pesadas, imóveis e marcadas pelo volume. “Como as narrativas históricas nos monumentos que contam as histórias dos vencedores”, exemplifica a criadora.
“Essas rodinhas lhe dão autonomia e mobilidade”, pontua Ana Maria Tavares, driblando o senso comum. No fundo, tudo na trajetória da artista plástica foge um pouco do padrão – ela entende profundamente de serralheria, de soldas ecléticas (fez curso no Senai), metalurgia, cerâmica, desenho e pintura, inclusive automotiva.
“É um beijo anódino, pois as hastes que representam o movimento dos corpos não se tocam”, comenta Ana Maria. Tudo na obra dessa mineira de Belo Horizonte radicada em São Paulo busca despertar no público reflexões críticas sobre as convicções do dia a dia. Ela situa seus trabalhos no entroncamento modernismo-modernidade-modernização, o que já coloca dúvidas sobre aonde quer chegar.
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A artista explica que o modernismo – o de JK ou da Bossa Nova, por exemplo – tem uma tendência excludente, algo que o sociólogo Jürgen Habermas, por exemplo, criticou quando apontou as limitações do iluminismo. Por eles, argumenta ela, o Brasil se tornou conhecido. Mas o país do futuro continua distante.
Ana Maria advoga que o lugar da arte é o de assoprar uma dúvida onde o design rabisca certezas. “Para o design, uma cadeira tem de funcionar para alguém se sentar. Para a arte, não”. E aponta para “O Beijo”: “aqui temos uma mesa que não serve para nada”, arremata, em referência à forma do artefato.
*Com informações da Secec
Fonte: Agência Brasília