Foram mais de 30 anos longe das câmeras, desde a realização do documentário Brascuba (1987), uma coprodução entre Brasil e Cuba, até o lançamento de A Idade da Água (2018). Nesse intervalo, o cineasta, roteirista e jornalista Orlando Senna se dedicou à formação de novos diretores, escrita de roteiros e assessorias. Nos últimos dois anos, finalizou um projeto para a televisão paga, Sol da Bahia, sobre a Guerra de Independência do Brasil, e o drama Longe do Paraíso, com o qual concorre na Mostra Oficial do 53º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, em exibição nesta quarta (16), às 23h, no Canal Brasil. Dos seis concorrentes, é a única ficção em competição.
“Fiquei surpreso e, ao mesmo tempo, contente pelo fato de o Festival de Brasília abranger o cinema como um todo, sem a dicotomia ficção/documentário”, comenta o veterano cineasta, de 80 anos. “Sempre fiz filmes híbridos, com exceção dos trabalhos em que participei como roteirista ou dirigidos por outros cineastas”. Uma prova concreta desse estilo de criação está no marco Iracema – Uma Transa Amazônica, dirigido a quatro mãos, nos anos 1970, com Jorge Bodanzky.
Em Longe do Paraíso, Senna decidiu “ficcionar” tudo, trabalhar com atores profissionais, apoiar-se em uma grande equipe e não se afastar muito do roteiro. Na trama, o mito bíblico de Caim e Abel é misturado com a realidade dos camponeses no interior da Bahia, onde líderes são assassinados; o choque com os grandes proprietários de terras, intenso; a impunidade, latente; e o descaso das autoridades, evidente.
“Quis fazer uma experiência comigo mesmo, e aí vem a surpresa: o filme foi selecionado para concorrer com documentários! Achei uma maravilha. Tudo é cinema, filme é filme e ponto final”, resume. “No Brasil, os assassinatos desses líderes crescem dia a dia e, em sua maioria, os pistoleiros são ex-camponeses que se perderam na vida. É com essa história que pretendo comover as pessoas, e acho que o filme pode conseguir isso.”
No elenco, além de nomes consagrados da cena baiana, como Heraldo de Deus, Sonia Dias, Bertrand Duarte e Caco Monteiro, há participação da cantora e atriz Emanuelle Araújo, que divide as telonas com o estreante Ícaro Bittencourt. “Minha expectativa com relação à premiação de 2020 é que, mesmo on-line, o Festival de Brasília sairá fortalecido como o mais importante evento artístico-político do cinema brasileiro”, defende o cineasta.
* Com informações da Secec (Secretaria de Cultura e Economia Criativa)