Amplo, plural e “abarcativo”. Com essas três palavras, o curador e diretor artístico da 53ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (FBCB), Silvio Tendler, define o perfil da maior festa do audiovisual brasileiro em 2020. Trinta filmes diferenciados nas temáticas e linguagens serão transmitidos no festival, que ocorre entre os dias 15 e 20 deste mês, com transmissão pelo Canal Brasil e streaming Canais Globo.
Na lista dos filmes selecionados, publicada no Diário Oficial do Distrito Federal (DODF) desta sexta-feira (4) pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec), destaca-se uma novidade: a divulgação de dois novos curtas-metragens na categoria oficial do gênero, em substituição a dois trabalhos que não cumpriram o regulamento do FBCB, segundo o qual é imprescindível o ineditismo local.
“Estou muito satisfeito com o conjunto da seleção”, afirma Silvio Tendler. “Isso é o Festival de Brasília, que é a maior festa do cinema brasileiro. É uma vitrine do cinema no país. Em 30 filmes, conseguimos mostrar essa diversidade; os filmes se complementam.”
“Em 30 filmes, conseguimos mostrar essa diversidade; os filmes se complementam”Silvio Tendler, curador do 53º FBCB
O secretário de Cultura e Economia Criativa, Bartolomeu Rodrigues, reforça: “A cada passo que damos, avançamos rumo à realização de uma edição que nasce histórica. Vamos executar o Festival de Brasília, um patrimônio brasileiro, num ano em que vimos eventos similares serem interrompidos. Estou orgulhoso da garra de todos os envolvidos”.
“A cada passo que damos, avançamos rumo à realização de uma edição que nasce histórica”Bartolomeu Rodrigues, secretário de Cultura e Economia Criativa
Desde que foi convidado para assumir a curadoria e direção artística do evento, Tendler tinha esse conceito de amplitude e onipresença da realidade audiovisual e social nacional mapeado na cabeça. A ideia era não apenas abraçar todos os gêneros e estéticas possíveis, mas que todos os temas brasileiros fossem contemplados, elegendo produções que falassem do negro, do indígena, da mulher, da comunidade LBGTQIAP+, dos problemas da nação. Para tanto, ele deu plena autonomia aos 13 membros das três comissões de seleção da Mostra Oficial (longas e curtas) e da Mostra Brasília.
“Os júris foram muito diversificados, com total liberdade de ação e decisão; foram completamente autônomos e soberanos, não me meti em nada”, revela o diretor. “Eles resolveram os filmes e as temáticas. E houve muita discussão por conta dos filmes e das temáticas.”
Dos seis filmes selecionados para a Mostra Oficial de Longa-metragem, cinco são documentários, dando vazão a homenagens viscerais ao cinema nacional e ao diálogo com figuras emblemáticas da cultura nacional.
Abaixo, conheça os longas da Mostra Oficial.
Espero que esta te encontre e que esteja bem
(Natara Ney, documentário, PE/RJ/MS, 83 min)
Por onde anda Makunaíma?
(Rodrigo Séllos, documentário, RR, 84 min)
A luz de Mario Carneiro
(Betse de Paula, documentário, RJ, 73 min)
Longe do Paraíso
(Orlando Senna, ficção, BA, 106 min)
Entre nós talvez estejam multidões
(Aiano Bemfica e Pedro Maia de Brito, documentário, MG/PE, 92 min)
Ivan, o TerríVel
(Mario Abbade, documentário, RJ, 103min)
Estarão presentes desde a abordagem do atual momento do país – como mostra a produção mineiro-pernambucana Entre nós talvez estejam multidões – a homenagens a grandes ícones da nossa cultura. Da literatura, o modernista Mário de Andrade é representado em Por onde anda Makunaíma?; já Ivan Cardoso, inventor do subgênero “terrir”, aparece em Ivan, o TerríVel, enquanto o cineasta, diretor de fotografia e pintor Mario Carneiro é o inspirador de A luz de Mario Carneiro.
Silvio Tendler aponta que o resultado dos longas é reflexo não apenas do atual mercado do audiovisual, mas da realidade do planeta, com a pandemia da Covid-19. Cita como exemplo a escolha de dois documentários na briga por vaga de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar 2021: o brasileiro Babenco, de Bárbara Paz, e o chileno O espião, de Maite Alberdi.
“Na verdade, o que está acontecendo é que o cinema documentário, nesse momento, não sei se por conta da pandemia ou se é uma nova estética que está surgindo, está assumindo um protagonismo mundial”, observa. “Fazer ficção hoje em dia está muito caro, muito difícil, o mercado está complicado, produzindo para as redes de televisão, e estão priorizando os documentários. Acho que é uma realidade.”
Seleção dos curtas
No período recursal, foi apontado que dois curtas pré-selecionados descumpriram um item do edital sujeito à desclassificação: o de ineditismo no Distrito Federal. Assim, os filmes À beira do planeta Mainha soprou a gente (BA) e Mãtãnãg, a encantadora (MG) foram substituídos por Noite de seresta (CE) e Inabitáveis (ES), os dois mais bem-pontuados da sequência. “Não é uma decisão nossa”, explica Tender. “Consta no regulamento que os filmes têm que ser inéditos em Brasília, tivemos que tirar esses dois trabalhos”.
Conheça, abaixo, os curtas da Mostra Oficial.
A morte branca do feiticeiro negro
(Rodrigo Ribeiro, documentário, SC, 11min)
A Tradicional Família Brasileira KATU
(Rodrigo Sena, documentário, RN, 25min)
Distopia
(Lilih Curi, ficção, BA, 10m38s)
Guardião dos caminhos
(Milena Manfredini, experimental, RJ, 3 min)
Inabitável
(Matheus Faria e Enock Carvalho, ficção, PE, 19min57s)
Inabitáveis
(Anderson Bardot, ficção, ES, 25min)
Noite de seresta
(Muniz Filho, Sávio Fernandes, documentário, CE, 19min)
Ouro para o bem do Brasil
(Gregory Baltz, RJ, documentário, 17min24s)
Pausa para o café
(Tamiris Tertuliano, ficção, PR, 5min)
República
(Grace Passô, ficção, SP, 15min30s)
Quanto pesa
(Breno Nina, ficção, MA, 23min)
Vitória
(Ricardo Alves Jr. ficção, MG, 14min)
Planos diversificados
A prestigiada Mostra Brasília, que ocorre desde 1996 no FBCB, teve 12 filmes selecionados. Quatro documentários concorrem na categoria longa-metragem, a exemplo de Candango: Memórias do Festival e Utopia e distopia, do veterano Jorge Bodanzky.
O primeiro, dirigido por Lino Meirelles, é um mosaico de depoimentos de cineastas, atores, organizadores e jornalistas sobre o mais importante festival de cinema do país. O segundo, recheado de imagens em Super 8 e registros fotográficos da época de estudante do diretor, traz uma reflexão sobre os primeiros anos da capital federal e da Universidade de Brasília (UnB).
Conheça os longas da Mostra Brasília.
O mergulho na piscina vazia
(Edson Fogaça, documentário, 83min)
Cadê Edson?
(Dácia Ibiapina, documentário, 72 min)
Candango: Memórias do Festival
(Lino Meirelles, documentário, 119 min)
Utopia e distopia
(Jorge Bodanzky, documentário, 74 minutos)
Abaixo, conheça os curtas da Mostra Brasília.
Algoritmo
(Thiago Foresti, ficção, 20min)
Questão de bom senso
(Péterson Paim, documentário, 29min53s)
Do outro lado
(David Murad, ficção, 15min36s)
Rosas do asfalto
(Daiane Cortes, documentário, 19min57s)
Eric
(Letícia Castanheira, documentário, 13min50s)
Brasília 60 + 60: do sonho ao futuro
(Raquel Piantino, animação, 13mim)
Delfini Brasília, olhar operário
(Maria do Socorro Madeira, documentário, 22m58s)
Curumins
(Pablo Ravi, documentário, 17m14s)
* Com informações da Secec