Um dos fatores apontados como determinantes para o bom desempenho do Ceará no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2019, tanto na rede estadual como nas municipais, foi o trabalho desenvolvido buscando a equidade. Na prática, significa que a estratégia de direcionar atenções de forma individualizada a cada aluno, visando que todos tenham suas necessidades de aprendizagem específicas atendidas, está trazendo resultados positivos. Desta forma, mesmo sendo um estado considerado pobre, o Ceará está à frente de outras unidades federativas, tidas como ricas. Ao longo dos últimos dez anos, foram registradas mudanças para melhor em todos os municípios.
Para além da necessidade de universalizar o atendimento, é essencial garantir a permanência e a aprendizagem dos estudantes. Assim, as escolas trabalham direcionando atenções, por exemplo, ao combate ao abandono e ao fortalecimento do vínculo com os alunos. O reflexo destas políticas vem se evidenciando no crescimento contínuo no Ideb, em todas as etapas do ensino.
Em 2011, a nota obtida pelo estado nos anos iniciais do Ensino Fundamental foi de 4,7. Em 2019, a pontuação passou a 6,3. Nos anos finais desta mesma etapa, o resultado obtido em 2011 foi de 3,9. Na avaliação de 2019, houve mudança para 5,2. Em relação ao Ensino Médio, a nota passou de 3,4 para 4,4 no mesmo intervalo de tempo.
A secretária da Educação, Eliana Estrela, enumera algumas das iniciativas desenvolvidas em rede que vêm gerando repercussão direta nos resultados do Ideb. “O Governo do Ceará pretende investir, cada vez mais, no desenvolvimento de programas como o Tempo Integral, o Projeto Professor Diretor de Turma e a formação para professores de Matemática, que fortalecem a aprendizagem e promovem a superação de desafios. São planejadas avaliações com o objetivo de detectar distorções e criar novas estratégias de ensino para corrigir os déficits de aprendizagem”, destaca.
O secretário executivo do Ensino Médio e Profissional, Rogers Mendes, pontua que a educação pública é o principal vetor de redução da desigualdade social de qualquer país. “Em hipótese alguma, podemos ter na educação a reprodução dessa desigualdade. Nessa perspectiva, a equidade é um princípio. A política educacional precisa criar estratégias para que a efetividade do ensino consiga atingir a todos, independentemente da renda. A equidade é uma finalidade em si mesma”, considera.
Olhar individualizado
O secretário executivo de Cooperação com os Municípios, Márcio Brito, lembra que um dos principais objetivos do Programa Aprendizagem na Idade Certa (Mais Paic) é promover a qualidade da educação com equidade. “Ou seja: sem deixar nem um aluno para trás. Não adianta os resultados de avaliação e as notas médias serem muito boas a custo de uma grande desigualdade, com percentual elevado de alunos com baixo desempenho, e alguns poucos alunos com alto desempenho. Este não é o cenário que a gente busca. Produzir equidade significa tratar os municípios e as escolas de acordo com as suas necessidades, identificando de forma detalhada e individual o que cada uma precisa. Não dá pra dizer, em um estado tão grande, que todos têm o mesmo tipo de dificuldade de aprendizagem e de infraestrutura”, pondera.
Márcio esclarece que ações como a formação de professores e a estruturação de material de apoio, oferecendo ao educador um guia para a condução dos conteúdos, têm feito a diferença na aprendizagem das crianças e jovens. “São esses os fatores que se refletem nos bons resultados de educação do Ceará, que é o estado menos desigual do país. Esse, para mim, é o principal resultado do Ideb”, salienta.
Avanço geral
O cientista chefe da Secretaria da Educação (Seduc) e professor do Departamento de Matemática da Universidade Federal do Ceará (UFC), Jorge Lira, argumenta que aprendizagem não é sinônimo de escolaridade. “É preciso que haja mobilização de conhecimentos e o desenvolvimento de habilidades complexas que façam frente aos desafios postos pelo mundo do trabalho. Essa exigência é um componente fundamental para a inclusão na cidadania. Equidade significa que pessoas de diferentes estratos socioeconômicos, que vivem em contextos que representam diferentes perfis, terão acesso à aprendizagem garantido por um sistema educacional eficiente”, explica.
Jorge Lira observa, ainda, que o crescimento do Ceará tem se dado de forma equânime nas três etapas da educação básica (anos iniciais e finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio). Além disso, ele lembra, o avanço vem sendo registrado entre todas as Regionais.
“Os resultados positivos não podem aparecer apenas em nichos ou em detrimento de outros aspectos. É necessário que exista um crescimento equitativo. No Ceará, o trabalho é coeso e sistêmico e nenhuma das etapas cresce sem que o mesmo aconteça com as demais. A gestão tem buscado nas evidências um apoio para tomadas de decisão, repensando práticas gerenciais, definições metodológicas, escolhas curriculares e desenhos de avaliação. É neste sentido que a equipe do Cientista Chefe trabalha, em parceria com a Secretaria, para fornecer subsídios, pensar modelos e acompanhar as decisões, de forma a aprimorar a garantia à equidade em todos os municípios e em todos os níveis de escolaridade”, conclui.
O superintendente executivo do Instituto Unibanco, Ricardo Henriques, percebe que existe um caminho de melhora sustentável sendo percorrido pelo Ceará. “Sendo um estado do Nordeste, com várias limitações do ponto de vista socioeconômico frente a estados do Sudeste e do Sul, o Ceará é um sinal para o Brasil. Ou seja, o resultado não está associado diretamente à renda per capita ao PIB, ao parque industrial instalado, mas, à política pública consistente”, frisa.