Em um país marcado pela diversidade cultural e étnica não dá para falar em antirracismo sem trazer a luta dos povos e comunidades tradicionais que enfrentam, até hoje, preconceito, perseguição étnica e racismo. Neste novembro negro, a Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos (SPS) promove o Curso Relações Étnico Raciais na Sociedade Brasileira e Cearense traz na discussão sobre o racismo a fala de lideranças indígenas, quilombolas e ciganos. A capacitação, que teve mais de 700 inscritos, foi iniciada nesta quarta, através de iniciativa da Coordenadoria Especial de Políticas Públicas para Igualdade Racial (Ceppir) e segue até próximo dia 19. A transmissão será sempre às terças e quintas, às 14h às 17h, pelo canal SPS Ceará no Youtube. Para se inscrever, basta acessar o link.
Na segunda aula, a Ceppir reuniu três lideranças de povos tradicionais que estarão participando da formação para compartilharem suas lutas diárias pela preservação de sua cultura e tradição.
“É importante lembrar que assim como na Campanha Ceará Sem Racismo, nossa abordagem não será centrada exclusivamente no racismo direcionado a nós, pessoas negras, mas também aos povos tradicionais, que são historicamente discriminados”, destaca a coordenadora Zelma Madeira.
A coordenadora da Federação dos Povos e Organizações Indígenas do Ceará e assistente técnica da Ceppir, Ceiça Pitaguary, destaca a luta dos povos indígenas para manter viva suas tradições. “Infelizmente, ainda somos vistos por muitos como folclore e não como povos originários que contribuíram e seguem contribuindo para a construção deste País. Enquanto mulher indígena eu vivo na pele esse preconceito que se fortalece quando atravessa a questão de gênero. Todos os dias temos que reafirmar nossa identidade e lembrar a sociedade que o nosso lugar são todos os lugares, não é à toa que estamos ocupando a política, as universidades, a gestão pública e todos os espaços que nos foram negados durante tantos anos”, frisa Ceiça Pitaguary, que media o debate desta quinta-feira (05), com o tema Territórios e lutas: povos indígenas e povos ciganos no Ceará.
Presidente da Associação de Preservação de Cultura Cigana do Estado do Ceará, José Eudo, participa também nesta quinta (05), da segunda aula do curso. “Nós, povo cigano, somos itinerantes e estamos na busca constante por nossa sobrevivência e para manter sempre vivo os nossos costumes”, destaca ele.
“Aqui em Sítios Novos nós já sofremos muito preconceito, assim que chegamos até abaixo-assinado os moradores fizeram para que fossemos embora, e tudo isso pelo fato de sermos ciganos. O julgamento estava no olhar das pessoas, que nem nos conheciam, mas já tinham uma opinião pré-estabelecida”, explica José Eudo, que criou os sete filhos e os seis netos dentro dos costumes de seu povo.
“Eu sempre reforço para eles como é importante lutar para manter nossas tradições vivas, seja nas músicas, danças, roupas coloridas e tudo que nos representa. É uma alegria para mim ver minha netinha dançando uma música do nosso povo e se reconhecendo dentro dessa identidade”, observa ele, lembrando que a luta pelos direitos e reconhecimento do povo cigano é o que o motiva a seguir combatendo o racismo e todas as formas de opressões.
Programação
04/11 (Quarta-feira)
Abertura : Socorro França – Secretária titular da SPS
Módulo 1 – As relações étnico raciais e os desafios da implementação da Política de Igualdade Racial no Brasil e Ceará
Palestrantes: Zelma Madeira (coordenadora Ceppir) e prof Ilzver Matos (professor e doutor em direito pela PUC/Rio)
Mediação: Wanessa Brandão (Ceppir)
05/11 (Quinta-feira)
Módulo 2 – Diálogos sobre territórios e lutas: povos indígenas e povos ciganos no Ceará
Palestrantes: Dourado Tapeba; Eliane Tabajara, Lucas Guerra, José Eudo e Phillipe Cupertino Salloum e Silva
Mediação: Ceiça Pitaguary
10/11 (Terça-feira)
Módulo 3 – População negra e Povos e Comunidades Tradicionais (PCTs) do Ceará
Palestrantes: Hilário Ferreira, Cícera Barbosa, Ogan Leno Farias, Mãe Hélia da Cabloca Mariana, Tatiana Ramalho e João do Cumbe
Mediação: Fernando Sanha
12/11 (Quinta-feira)
Módulo 4 – Mulheres negras, indígenas, quilombolas e de terreiro: conquistas e desafios no Brasil e Ceará
Vera Rodrigues, Marciane Tapeba, Cristina Quilombola, Aurila Quilombola e Ana Andrade
Mediação: Wanessa Brandão e Lourdes Vieira
17/11 (Terça feira)
Módulo 5 – Conversando com as juventudes do Ceará
Ezequiel Tremembé, Tainara Eugenio, André Luís, e Wellington Nascimento
Mediação: Ceiça Pitaguary
19/11 (Quinta feira)
Módulo 6 – Uma Década de Estatuto da igualdade Racial: por mais reconhecimento étnico e justiça racial
Palestrante: Zelma Madeira
Mediação: Lourdes Vieira