Dias, um mês, dois meses ou mais. Quanto tempo um recém-nascido pode ficar internado em uma unidade de terapia intensiva neonatal? A resposta para essa pergunta é incerta. Mas a existência de uma rede estruturada para apoiar a amamentação e a doação de leite contribui, certamente, na recuperação dos bebês, ajudando a salvar a vida dos pequenos.
Referência estadual, o banco de leite humano do Hospital Geral Dr. César Cals (HGCC), unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), promove políticas de aleitamento materno e incentivo à doação de leite para bebês da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN). Além disso, o hospital é responsável pela pasteurização do leite humano doado de outros postos de coleta de Fortaleza e do interior do Ceará.
“Temos um contrato de parceria com os nossos postos de coleta. Esse contrato é único. A gente atende à demanda deles, até porque muitos têm UTI neonatal e precisam do leite. Com a pasteurização, nós conseguimos beneficiar outras unidades. Os frutos que a gente colhe estão na contribuição que damos a estes hospitais”, destaca Rejane Santana, coordenadora do banco de leite do HGCC.
Os postos de coleta foram criados para fortalecer as doações, mas ganharam outra proporção. O banco responsável pela pasteurização, até pela maior demanda, ficaria com parte do leite doado. O que não acontece, já que o HGCC decidiu contribuir para que mais bebês recebam o leite doado pasteurizado nos hospitais de cada posto.
Ao todo, dez hospitais, entre públicos e privados, enviam leite humano ao HGCC para a pasteurização. São seis em Fortaleza e quatro no Interior, nas cidades de Canindé, Itapipoca, Cascavel e Baturité. Toda semana chega leite ao Hospital César Cals. “O leite é enviado de acordo com a demanda de cada posto. A gente recebe aqui no Hospital e faz o processamento”, conta a bioquímica Sthefanny Linhares. Ele passa pelo processo de qualidade composto pelas etapas de recepção, análise, pasteurização e classificação.
“Após a chegada do leite humano ordenhado cru, ele é devidamente identificado e armazenado para a pasteurização. Depois do processo e aprovação das amostras pelo controle de qualidade físico-químico, o leite estará disponível para o recolhimento, feito pelos postos, 48 horas após a pasteurização”, acrescenta Sthefanny.
Coleta e acondicionamento
É dessa forma que acontece no Hospital Geral Dr. Waldemar de Alcântara (HGWA), também da Rede Sesa. “Aqui, nós fazemos a coleta e acondicionamento do leite doado e enviamos para o BLH (Banco de Leite Humano) do HGCC. Toda a equipe do HGCC promove esse apoio ao nosso posto. Com o trabalho deles, é possível ofertar o leite pasteurizado, tão importante para a recuperação dos nossos recém-nascidos”, explica a nutricionista Fernanda Fernandes.
Uma das mães doadoras é Jeani da Silva, de 23 anos. Ela é mãe do pequeno Joab, que nasceu prematuro, com 34 semanas. Além de doar para o filho, Jeani também se preocupa em doar para os demais bebês, já que tem uma intensa produção de leite. Ela sabe bem da importância do gesto. “Já cheguei a doar quatro vidros, dos maiores. No início, meu bebê não podia tomar. Então a doação era ainda maior. Assim como eu tenho um filho prematuro, sei que existem muitas mães que não podem fazer o mesmo para os seus”, reconhece Jeani.
O aleitamento materno é essencial para a recuperação dos bebês. “O trabalho de apoiar e incentivar o aleitamento materno passa pelo processo de acolher e orientar as mães quanto à importância do leite para seus bebês, bem como esclarecer a importância do leite doado”, ressalta a nutricionista.
O cuidado começa logo após o nascimento. “Muitos bebês não podem receber o leite das suas mamães, principalmente nos seus primeiros dias de vida, e é nesse momento que a doação de leite é tão importante”, continua.