Kuya abre as portas do Brasil para celebrar o design latinoamericano

Ver uma exposição que é também um retrato da produção mais relevante do design latinoamericano. Participar de oficinas que passeiam pelo universo dos zines, dos letterings para camisetas e dos pôsteres políticos. Refletir como o design pode ser uma ferramenta valiosa para a economia criativa e a transformação social. Esta é a proposta da Abertura LADawards na Kuya – Expo Brasil, um evento gratuito com mais de 30 horas de programação a ser realizado nos próximos dias 14, 15 e 16 de dezembro, em Fortaleza, pela Kuya – Centro de Design do Ceará, equipamento da Secretaria da Cultura do Ceará, gerido em parceria com o Instituto Mirante de Cultura e Arte.

O evento é um momento para celebrar e conhecer a diversidade do design latinoamericano, feito no Ceará e fora dele. É a primeira vez que serão expostos no país os trabalhos vencedores do Prêmio Latino-americano de Design – 2023 (Latin American Design Awards), uma das principais premiações da área na América Latina, que reconhece a excelência dos melhores trabalhos gráficos realizados durante o ano por designers, estúdios, criativos e artistas visuais. Ao todo, 213 projetos de profissionais e estudantes de 13 países foram selecionados em dez categorias. O Brasil foi o grande destaque, com mais de 100 projetos premiados. Entre os vencedores, está o projeto do Museu da Imagem e do Som do Ceará (MIS), realizado pelo designer cearense Renan Costa Lima, do Estúdio Tropical.

Exposição traz a potência do design na América Latina

A exposição com os vencedores da premiação ficará em cartaz na KUYA de 14 de dezembro até o mês de fevereiro, mas, durante o festival, o público poderá interagir ao vivo com seis estúdios vencedores, do Brasil e de outros cinco países, que apresentarão seus projetos de forma remota. A programação também conta com a participação do fundador do LADAwards, Richars Meza, e a diretora do Prêmio Brasileiro de Design – BDA, Vanessa Queiroz.

“É importante vermos a potência desta produção e nos identificar também como designers latino-americanos. Trazer o prêmio para o Ceará cria um momento de estreitamento de laços, de aproximação desses projetos”, explica o diretor da KUYA – Centro de Design do Ceará, Rodrigo Costa Lima. O encontro é uma oportunidade de compartilhar experiências, mas também refletir sobre o papel do design nas políticas e economias do sul global.

“A vinda da exposição do LADawards para a KUYA marca a primeira vez em que a premiação acontecerá fora do seu país de origem. Para além disso, é um momento simbólico e importante para colocarmos o Ceará e o Nordeste no eixo do design nacional, uma tomada de consciência para nos compreendermos como tal e para grifar que o design brasileiro também parte daqui. Faz-se necessária a participação ativa da comunidade do design para que possamos refletir sobre nosso contexto local e possíveis iniciativas”, afirma a Coordenadora de Design e Estratégia da Kuya, Monica Rodrigues.

Mesas de debate com o impacto do design nas políticas públicas e na economia

Nesta perspectiva, o evento discute o design na América Latina, no Brasil e no Ceará nos três dias do evento, respectivamente. As mesas de debates passam pela produção do design latinoamericano, assim como pelo seu potencial como ferramenta de inovação e seu impacto nas políticas públicas e transformações econômicas. Globalização, precarização do trabalho, economia criativa e a potência das comunidades em rede também estarão em destaque.

Outro ponto alto é discutir o design latinoamericano produzido e concebido no Ceará, abordando da qualidade da produção às desigualdades territoriais. “Como é a produção do designer feita no Ceará, mas fazendo um design brasileiro? A gente discute essa produção, e as diferenças de valorização e de reconhecimento dessa produção”, afirma Rodrigo.

Oficinas para experimentar zines, lettering para camisetas e pôsteres políticos

O público também poderá se inscrever gratuitamente em oficinas para experimentar este universo. O pernambucano Eduardo Souza ministrará a oficina “Zine com Corita Kent” e conduzirá a produção de um zine colaborativo inspirado nas ideias da freira e artista americana, que se tornou símbolo no ensino das artes e uma voz firme pelo ativismo social ao transformar arte em esperança e justiça nos anos 1960.

Já as designers cearenses Lorena Araújo e Ana Cartazista ministrarão a oficina de “Lettering e Camisetas Decoloniais”, na qual os participantes aprenderão a criar letras e camisetas originais que valorizam as culturas e identidades dos povos originários e afrodescendentes. A oficina “Pôsteres políticos e experimentações gráficas”, por sua vez, ficará a cargo do designer Renan Costa Lima.

O festival espera atrair designers do Ceará e de outros estados do país, mas também o público em geral. Para isso, a exposição dos trabalhos vencedores do LADawards 2023 busca trazer um aspecto mais didático para traduzir as categorias dos trabalhos, como por exemplo branding e tipografia, e aproximar a população do campo do design, presente desde as logomarcas dos produtos que consumimos até em soluções criativas e inovadoras para a cidade. A mostra também contará com linguagem de libras e audiodescrição para garantir acessibilidade a todos os públicos.

Feira autoral para escoar a produção e música!

Durante todo o evento, a Feira Kuya de Design Autoral mostrará o trabalho de cearenses, que poderá ser adquirido pelo público do evento, que contará ainda com apresentações musicais de DJs durante a noite. “A gente está aqui estimulando essa venda, comercialização e dando essa possibilidade para alimentar esse ciclo de produção e comercialização, escoamento dessa produção e se incluindo, se inserindo nesse contexto também da economia criativa”, destaca o diretor da Kuya.

É um momento para ver a maturidade do design latinoamericano e um convite para perceber que a produção cearense não deixa a desejar. Também é uma forma de mostrar como o design pode ser ferramenta valiosa no pensamento, na construção de economias criativas e de políticas de desenvolvimento para o Estado do Ceará.

Sobre a KUYA

A Kuya é um equipamento público construído a partir de uma provocação para inserir este campo de atuação no pensamento da gestão e do desenvolvimento das cidades cearenses a partir da chancela da capital Fortaleza como cidade criativa do Design concedida pela Unesco. Acomodado no Complexo Cultural Estação das Artes, o equipamento visa pensar e fomentar a cultura do design no Ceará. “A gente tem muitas experiências privadas onde o design é visto sempre como um negócio, mas esse posicionamento do design como cultura a gente tem poucas referências no mundo”, pontua o diretor Rodrigo.

Depois de muito dialogar com associações de designers, universidades, mercado, profissionais e autodidatas, a Kuya foi alicerçada em quatro pilares: o design decolonial (que respeita os saberes ancestrais, a cultura local e as necessidades do território e das pessoas); o design ecoeficiente (que preza pelo respeito ao meio ambiente, à ecologia e ao planeta); o design regenerativo (que visa ações regenerativas para o planeta), e o design político (que é a consciência crítica de que o projeto vai impactar em outras vidas, em outros territórios).

No segundo ano de funcionamento, o equipamento desenvolve uma série de ações que visam desenvolver a área no Estado e também impactam diretamente a vida das pessoas. São pesquisas que vão da história do design no Ceará à inovação, mapeamento da produção autoral cearense e formações para estudantes. Grupos de estudo discutem design e gestão pública, mas também o letramento em design, que é uma tentativa de aproximar o design ao público em geral.

Além disso, há programas de mentorias para desenvolver novos produtos ou aperfeiçoar soluções de tecnologia social. Um exemplo é a parceria da Kuya com a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Ceará em um programa de aceleração de startups para desenvolver projetos e produtos. Outro destaque é a atuação junto a um projeto de irrigação inteligente de uma escola em Ocara, gerida pelo MST. Ações como estas mostram como o design pode impactar a vida das pessoas e contribuir com o desenvolvimento do Estado.