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“Educação em diabetes garante autocuidado e permite que a pessoa esteja no centro das decisões do seu tratamento”, diz especialista

Suzana Mont’Alverne – Ascom Sesa – Texto
Lívia Dantas – Foto

Em entrevista, a enfermeira Lívia Dantas, do Centro Integrado de Diabetes e Hipertensão (CIDH), fala sobre alimentação, medicação, cuidados, além da importância da educação e do entendimento do paciente sobre diabetes

Novembro é marcado pela cor azul, representando a campanha de diagnóstico, tratamento e cuidado com diabetes. A doença não tem cura, mas pode ser controlada, e a pessoa acometida é um agente fundamental para garantia de uma vida com mais qualidade e sem complicações.

A enfermeira do Centro Integrado de Diabetes e Hipertensão (CIDH), unidade referência no tratamento de diabetes da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), Lívia Dantas, fala sobre alimentação, medicação, cuidados, além da importância da educação e do entendimento do paciente sobre a doença crônica.

Acompanhe a entrevista na íntegra abaixo.

Ao serem diagnosticadas com diabetes, as pessoas podem ficar confusas e preocupadas. Neste primeiro momento, qual a orientação?

Lívia Dantas: Ao receber o diagnóstico de diabetes, muitas pessoas apresentam várias reações emocionais, como o choque, a negação da doença, o medo, a raiva e a tristeza. E isso deve ser levado em conta pela equipe multiprofissional para que sejam trabalhadas as principais demandas naquele momento. As preocupações no diagnóstico de diabetes são sobre as complicações decorrentes da doença, alimentação e o próprio tratamento. Então, para aqueles que nunca conviveram com pessoas com diabetes, a primeira dica ao ser diagnosticado é buscar conhecimento sobre a doença: seus sinais, sintomas, entender o objetivo do tratamento e como cuidar para evitar as complicações futuras. Neste momento, o acompanhamento com a equipe multiprofissional é essencial para o sucesso na terapia.

Quando uma pessoa é considerada diabética?

L.D: O diagnóstico de diabetes é estabelecido pela identificação de hiperglicemia em exames laboratoriais, são eles: glicose de jejum a partir de 126 mg/dL; o teste oral de tolerância à glicose, após duas horas da ingestão de glicose, com valores acima de 200mg/dL; exame de hemoglobina glicada a partir de 6,5%. Para tanto, é necessário que dois desses exames estejam alterados. Se apenas um deles estiver alterado, o mesmo deverá ser repetido para confirmação.

A mudança na dieta é algo que assusta. Muitos pensam que o açúcar está apenas no doce, mas a maior parte dos alimentos contém açúcar. A pessoa precisa eliminar o produto totalmente?

L.D: A ingestão de alimentos em pessoas com diabetes segue as recomendações semelhantes àquelas definidas para a população em geral. O açúcar é um tipo de carboidrato que pode ser consumido de 5% a 10% do valor energético total, levando em conta os açúcares ocultos em alimentos industrializados, bebidas e produtos processados. A pessoa não precisa eliminar o açúcar, porém deve consumir com cautela.

A pessoa com diabetes deve optar por alimentos considerados “light”, “diet” e “zero”?

L.D: Os alimentos “diet”, “light” e “zero” podem ser indicados no contexto do plano alimentar, mas não de maneira exclusiva. Até porque a base da alimentação deve ser composta de alimentos naturais e minimamente processados. Ressaltando, claro, as preferências da pessoa com diabetes e de sua família. Lembrando que não existe “alimentação do diabético”, e sim uma alimentação equilibrada como a de qualquer outra pessoa.

Há necessidade de comer de três em três horas? Caso haja, quais consequências podem surgir se a pessoa com diabetes passar muito tempo sem se alimentar?

L.D: Hoje, a orientação da necessidade de comer a cada três horas está mudando. Principalmente com a melhora do tratamento insulínico e de drogas orais disponíveis no mercado. Então, se eu tenho uma pessoa com diabetes em que a glicemia está baixa e ela se sente mal, caso não se alimente em um intervalo de três horas, dependendo do contexto eu posso desconfiar de medicação excessiva. Então, é muito mais interessante mudar o esquema terapêutico dessa pessoa do que ela ficar comendo o dia todo e favorecer o aumento de peso. Mas, claro, isso deve ser visto com a equipe, compreendendo o perfil alimentar e medicamentoso de cada um.

Quais as consequências da hipoglicemia e hiperglicemia, e o que caracteriza cada uma delas?

L.D: Principalmente para aqueles que fazem o uso de insulinas, conhecer e saber identificar quando a glicemia está muito baixa [hipoglicemia, quando o valor é menor que 70 mg/dL], pode prevenir, por exemplo, desmaios e convulsões. Identificar quando a glicemia está alta [hiperglicemia, quando o valor está acima de 180mg/dL], pode ajudá-la a prevenir situações agudas, como a cetoacidose (complicação em que é necessário internação hospitalar para controlar os níveis glicêmicos e eletrolíticos), e futuramente prevenir complicações secundárias, como doenças renais, infartos e outras. Para essa identificação, no entanto, é necessário realizar o monitoramento da glicemia diariamente.

Qual a diferença da diabetes tipo 1 e tipo 2?

L.D: Diabetes tipo 1 é uma doença autoimune, de caráter genético, decorrente da destruição das células pancreáticas produtoras de insulina, ocasionando a deficiência completa de sua produção. É mais frequente em crianças e adolescentes e atualmente é responsável por 5% de todos os casos de diabetes.

Já diabetes tipo 2 corresponde a 90%, 95% de todos os casos. Neste tipo, o corpo não produz uma quantidade suficiente desse hormônio ou a ação da insulina é ineficiente. A causa é multifatorial e envolve componentes genéticos e ambientais. Normalmente acomete pessoas a partir de 40 anos, embora na Pediatria já existam casos. É uma doença com forte herança familiar. Maus hábitos alimentares e sedentarismo são fatores de risco, contribuindo para a obesidade.

O tratamento segue mais tranquilamente se o paciente tiver maior entendimento sobre a doença?

L.D: A educação em diabetes garante o autocuidado e permite que a pessoa esteja no centro das decisões do seu tratamento, evitando, assim, complicações agudas. Tanto é que nós dizemos que a educação é o próprio tratamento e o educador em diabetes, como médico, enfermeiro, nutricionista e psicólogo, deve despertar na pessoa o interesse em entender sua doença e conscientizá-la de que o conhecimento auxilia no autocuidado, sendo capaz de prevenir complicações futuras, além de melhorar a qualidade de vida.

Quais as principais consequências da diabetes?

L.D: As complicações são decorrentes do descontrole glicêmico caracterizado pela hiperglicemia crônica. Elas são representadas pelas doenças que nós chamamos de macro e microvasculares. As patologias contribuem para o aumento da mortalidade e reduzem a qualidade de vida, e algumas dessas complicações são a doença renal, a retinopatia, doenças cardiovasculares, a neuropatia e o pé diabético.

A aferição da glicemia deve ser feita quantas vezes por dia?

L.D: Para pacientes em tratamento intensivo com uso de insulina, como é o caso de pessoas com diabetes tipo 1, a recomendação é de que o automonitoramento da glicemia seja feito, no mínimo, quatro vezes ao dia, podendo chegar até sete vezes. Deve ser feito, geralmente, antes e depois das principais refeições e ao deitar. Nesses casos, a glicemia capilar [quando verifica-se os níveis de açúcar no sangue em determinado momento do dia] ou o uso de sensor de monitoramento contínuo de glicose se mostram essenciais para o tratamento dessa pessoa.

Quanto mais informações sobre monitoramento e valores de glicemia, nós, como equipe, e até mesmo a própria pessoa, teremos melhor resposta ao tratamento.

E pacientes com diabetes tipo 2 em uso de esquemas menos intensivos de insulina, geralmente, podem necessitar de uma frequência menor de verificações por dia. Duas ou três, por exemplo, e isso de acordo com a terapia que se utiliza. A indicação é variável, de acordo com o tratamento.

Fonte: Governo do Estado do Ceará

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