Sensibilizar a população do DF sobre a psoríase – doença inflamatória crônica, com manifestações na pele e nas articulações – foi um dos objetivos de reunião pública da Câmara Legislativa do Distrito Federal que debateu o tema, na tarde desta segunda-feira (26), com especialistas e pacientes com a doença. Um deles, o deputado Fábio Felix (PSOL), autor da iniciativa, relatou ter vivenciado dificuldades para encontrar o tratamento adequado e sofrido com a estigmatização.
Por esse motivo, para o distrital, é necessário desmistificar a psoríase, questão que classificou como “invisibilizada” no universo da saúde. Também defendeu a necessidade de o poder público, além de fornecer informações e estimular o debate, financiar ambulatórios, garantir insumos, e tratamento para os pacientes.
De acordo com a coordenadora do Ambulatório de Psoríase do Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), Letícia Oba Galvão, a doença é desconhecida por muitos, embora seja comum, uma vez que acomete cerca de 2,6 milhões de brasileiros, sendo que 20% dos casos podem evoluir para quadros graves. Devido à sua complexidade (com várias possibilidades de manifestações clínicas), o diagnóstico pode ser retardado, explicou a dermatologista, ao lembrar que a psoríase não é contagiosa e ocorre devido a uma alteração do sistema imunológico.
De base genética, a doença multifatorial está sujeita a influências ambientais e comportamentais – que exacerbam o quadro – entre as quais figuram outros tipos de infecções, queimaduras, alterações hormonais, medicamentos, tabagismo, etilismo, ansiedade, depressão até a variações climáticas, como a baixa umidade. A especialista chamou a atenção para o fato de a doença estar associada a outras comorbidades, a exemplo da hipertensão arterial, diabetes e obesidade.
Também classificada como psicodermatose, em que o impacto psicológico pode exacerbar até 80% dos casos, a doença é de difícil tratamento, o qual deve ser individualizado segundo as características de cada paciente e a manifestação, leve, moderada ou grave, acrescentou. Devido ao elevado nível de estigmatização e estresse, a médica destacou que esclarecer, desmistificar e conscientizar são alvos da campanha deste ano pelo Dia Mundial da Psoríase, estabelecido em 29 de outubro.
Por sua vez, a coordenadora do Ambulatório de Psoríase do Hospital Universitário de Brasília (HUB), Gladys Martins, salientou estudos científicos sobre o impacto familiar e social da doença. Cerca de 80% dos coabitantes do paciente com psoríase são afetados, apontou, ao acrescentar o impacto econômico nos doentes com casos graves, pelo absenteísmo no trabalho, entre outros fatores.
Ela enfatizou ainda os efeitos psicológicos da doença, que causa “vergonha” das lesões em 89% dos acometidos. “Aceitação e acolhimento são fundamentais”, opinou. Ela lembrou que se trata de uma doença milenar, a qual, desde 2014, é considerada grave e uma questão de saúde pública, pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Uma vez que não há cura, o objetivo do tratamento é a remissão prolongada com segurança e a melhora na qualidade de vida, completou.
Tratamento da doença
Além do acompanhamento dermatológico, com medicamentos e equipamentos específicos, o tratamento abarca o controle do peso e a prática de exercícios, de acordo com as especialistas. Nesse sentido, a profissional de Educação Física Adriana Assad disse que a atividade física ajuda a combater o processo inflamatório e o estresse psicológico. Já a nutricionista do HRAN Caroline Calderón afirmou que por meio da alimentação saudável e equilibrada é possível reduzir a inflamação e a gravidade das lesões na pele.
De modo complementar, o representante da Gerência de Práticas Integrativas em Saúde da Secretaria de Saúde, Marcelo Amaral, citou aspectos do fortalecimento do organismo, como as práticas de escuta, empatia e vínculos saudáveis. Na avaliação de Amaral, que é médico psicoterapeuta, o autocuidado e mudanças no estilo de vida são elementos essenciais para a saúde individual, além das práticas comunitárias para a saúde coletiva.
Convivendo com a doença há mais de duas décadas, o representante da Associação Brasiliense de Portadores de Psoríase do DF (Abrapse), Elias Magalhães, disse que a intenção do grupo é acolher, orientar e estimular a manutenção do tratamento. Por outro lado, ele pleiteou ampliar o número de centros de referência no DF, uma vez que os dois ambulatórios especializados são insuficientes para atender a demanda.
Entre os encaminhamentos da audiência, o deputado Fábio Felix sugeriu apresentar um projeto de lei para criar a Semana de Conscientização sobre a Psoríase no DF. A reunião foi transmitida ao vivo pela TV Web CLDF e pelo portal da Casa no Youtube, onde fica arquivada à disposição dos interessados.
Franci Moraes
Núcleo de Jornalismo – Câmara Legislativa