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Audiência debate tráfico de animais, Lei dos Carroceiros e monitoramento de capivaras


O tráfico de animais no Distrito Federal, os possíveis riscos das capivaras do Lago Paranoá para a saúde da população e os maus-tratos sofridos pelos animais de tração foram debatidos em audiência da Câmara Legislativa, na noite desta terça-feira (20). O deputado João Cardoso (Avante), autor da iniciativa, destacou a importância da Operação Snake, que desarticulou um esquema de tráfico de serpentes, e a necessidade de “remanejamento dos animais vítimas de maus-tratos”. Também levantou a possibilidade de um “crescimento desordenado da população de capivaras” e o risco de infecção da febre maculosa pelos carrapatos presentes nestes animais.

O superintendente de Fiscalização, Auditoria e Monitoramento do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), Humberto Wanderley, afirmou que o tráfico de animais é a terceira maior atividade ilegal no mundo. Segundo ele, a mortalidade de animais traficados é de 90% e que, no Brasil, “a sociedade nem sempre trata como algo ilegal”. O coronel Valdeci Ramalho, comandante geral do Batalhão da Polícia Ambiental, observou que a Operação Snake foi deflagrada após uma cobra naja picar um estudante veterinário que traficava animais. Ele ainda ressaltou que a pressão antrópica sobre o habitat dos animais silvestres também contribui para o aumento de captura de animais. Em 2019, foram 2.925 resgates, 24,68% a mais que no ano anterior, incluindo 1.274 aves, 980 mamíferos e 671 serpentes. Em 2020, já somam 2.100.

Conforme a auditora Fiscal do Ibram Karina Torres, não existe um “controle social” e “os órgãos dependem muito das denúncias da população”. Isso porque há uma “normalização” desta atividade ilegal. “As pessoas deixam de considerar todos os sofrimentos e os animais que morreram para aquele estar ali. Também não consideram o papel ecológico de reprodutor: um único papagaio, em 20 anos, poderia gerar outros 664. Não é um papagaio que estão tirando da natureza, são 664”, argumentou.

Segundo o pesquisador da Embrapa José Roberto Moreira, especialista no estudo das capivaras, não há evidências da transmissão da febre maculosa pelo mamífero em Brasília. “Ao invés de ficarmos preocupados com a capivara, deveríamos valorizar o fato de termos um animal icônico de nossa fauna no ambiente em que nós vivemos”, ponderou. A chefe da Assessoria Estratégica da Secretaria de Meio Ambiente (Sema), Suzzie Valladares, afirmou que está em andamento um estudo para monitorar as capivaras. A sensação de que há aumento da população desses mamíferos, segundo ela, pode ser consequência da “desobstrução da orla”, já que as pessoas estão “mais próximas” do habitat destes animais. Apesar de considerar o risco de zoonoses, Valladares avalia que estes mamíferos podem servir de “para-raios para os carrapatos”, impedindo que “invadam” a zona urbana.

A coordenadora geral do Projeto Capivaras, Helga Correia, descartou qualquer remanejamento em relação à espécie e que qualquer medida só será sustentável com engajamento da população e estudo aprofundado, “buscando de forma racional e objetiva ter essas informações que nos levem a tomar a melhor decisão possível”. O deputado Daniel Donizet (PSDB), salientou que, antes desse estudo, “não se pode afirmar que existe uma superpopulação de capivara na região do Lago”. Presidente da Frente Parlamentar em Defesa dos Animais da CLDF, ele defendeu o fortalecimento dos canais de denúncia e a proteção do habitat natural da espécie: “A Orla do Lago é o ambiente ideal para as capivaras”.

De acordo com a analista de Atividades de Meio Ambiente do Ibram, Marina Lopes, estudo prévio contabilizou 238 capivaras adultas e 157 filhotes em 22 pontos da orla do Paranoá. “Com esses dados prévios vamos poder comparar com o estudo da Sema e verificar se houve aumento da população. O ideal é manter esse monitoramento sempre”, enfatizou. Ela recomenda o reflorestamento para “manter o equilíbrio ecológico” e aconselha que as pessoas evitem contato direto, e de seus animais domésticos, com as capivaras. A diretora-presidente do Zoológico de Brasília, Eleutéria Guerra, afirmou que há um monitoramento de três grupos destes animais no local. Por sua vez, o diretor de Mamíferos da Fundação Jardim Zoológico, Felipe Carneiro Reis, informou que há um projeto para “o cercamento da área do zoo”, que garantirá “controle eficaz desse espécime”.

Lei dos Carroceiros

A subsecretária de Defesa Agropecuária do DF, Danielle Araújo, avalia que haverá um aumento significativo de apreensão de animais com a vigência, a partir de dezembro, da Lei dos Carroceiros, que proíbe a utilização de animais na tração de veículos. Segundo ela, o governo está desenvolvendo projetos de inclusão social para que as mais de 3 mil famílias dos carroceiros tenham mais opções de renda, já que “terão de buscar outro tipo de trabalho”. Já Lilian Sena, diretora da Secretaria de Educação, afirmou ser preciso sensibilizar e acolher os carroceiros, “para que entendam a importância de estudar, possibilitando uma qualificação profissional que transforme a sua realidade”. A diretora da ProAnima, Mara Moscoso Cristina, ressaltou que o problema dos animais é de “toda a sociedade” e que não existe alternativa de se usar carroça com tração animal sem incorrer em maus-tratos.

Também participaram da audiência, a superintendente de Conservação e Pesquisa da Fundação Jardim Zoológico, Luísa Helena; a técnica de Planejamento Urbano e Infraestrutura da Unidade de Gestão de Fauna do Ibram, Elenize Silva; e o diretor da Vigilância Sanitária da Secretaria de Saúde, Manuel Silva Neto.

Mario Espinheira
Imagem: Reprodução/TV Web CLDF
Núcleo de Jornalismo – Câmara Legislativa

Fonte: CLDF

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