Considerada uma das pioneiras da representatividade transexual nos palcos do país, a atriz e cantora Jane di Castro morreu na noite de ontem (22), aos 73 anos, segundo a Direção do Hospital Federal de Ipanema (HFI), em decorrência de complicações de um câncer.
De acordo com o hospital federal, Jane Di Castro havia sido submetida a um procedimento cirúrgico no dia 8 de setembro e teve alta no dia 16 do mesmo mês. No dia 14 de outubro, porém, ela voltou a ser internada, devido à piora no seu estado de saúde. A direção do hospital informa que, desde então, ela estava sob tratamento medicamentoso, mas não foi possível reverter o avanço da doença.
Trajetória
Jane estreou nos palcos em 1966, quando participou do musical Les girls em Op Art, no Teatro Dulcina. Ao longo de sua carreira, a artista trabalhou com grandes nomes das artes cênicas e da música brasileira, como Bibi Ferreira e Ney Latorraca. Em entrevista ao programa Atos, da TV Brasil, no ano passado, a atriz lembrou as dificuldades que enfrentou no início da carreira, quando chegou a ser presa por ser transexual.
“Na época, era uma ferida aberta. Demorou muito a cicatrizar, mas não tem marca nenhuma. Ela cicatrizou totalmente. Hoje, eu sou feliz, porque a felicidade é a realização. Eu me realizei. Eu viajei o mundo como artista. A arte me trouxe essa possibilidade de conhecer o mundo, o Brasil”, disse ela ao programa.
Sua história é contada também no documentário Divinas Divas, que conta como ela, Rogéria e outras artistas revolucionaram a moral da década de 1970 e conquistaram espaço apesar da repressão. A atriz também atuou no cinema e na televisão, onde esteve pela última vez na novela “A Força do Querer”, da Rede Globo.
O ator Silvero Pereira, que atuou ao lado de Jane di Castro na novela, publicou uma homenagem em seu perfil no Twitter.
Jane de Castro
Divina Diva
Obg por sua luta, história e arte pic.twitter.com/vSgGbrh5L5— Silvero (@silveropereira) October 23, 2020
Jane di Castro era viúva desde 2018 e viveu durante mais de 50 anos com Otávio Bonfim, com quem formalizou o casamento em uma cerimônia coletiva voltada à população LGBT em 2014. Considerada uma figura importante na luta pelo respeito à diversidade, a atriz transexual tinha papel de destaque na Parada LGBTI de Copacabana, sendo responsável por cantar o Hino Nacional todos os anos a convite do Grupo Arco-Íris (GAI), organizador da manifestação. O coordenador do grupo, Cláudio Nascimento, lamentou que “morreu a grande diva da Cidadania e Cultura LGBT”.
“Eu e Jane Di Castro tínhamos uma forte amizade, desde o fim dos anos 80. Sempre esteve comprometida com a nossas lutas por direitos. É a grande diva da Parada do Orgulho LGBT do Rio de Janeiro e integrante do Conselho Consultivo do Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBTI”, afirmou. “Jane deixa um enorme legado artístico que nossa comunidade precisará valorizar e divulgar”.
O GAI decretou luto de três dias e pretende realizar uma homenagem virtual à atriz na próxima terça-feira (28), às 19h, e também uma cerimônia interreligiosa comunitária de sétimo dia para que os amigos, fãs e admiradores possam celebrar sua memória.
Edição: Aline Leal