Entregadores de aplicativos paralisaram as atividades nesta quarta-feira (1) para protestar por melhores condições de trabalho. O protesto faz parte da greve nacional dos entregadores de aplicativos de empresas como de empresas como Rappi, Loggi, Ifood, Uber Eats e James.
Na capital paulista, os grupos se concentraram, pela manhã, nos pontos onde costumam esperar os pedidos. Eles também circularam pelas ruas e avenidas da cidade, buzinando e fazendo barulho com o ronco do motor das motos. Por volta das 14h, as motocicletas e as bicicletas fecharam a Avenida Paulista em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp) e saíram em marcha.
“A pandemia mostrou para todos como nosso trabalho de entregador é essencial. Se o Brasil não parou é porque ele tá andando sobre duas rodas”, diz o texto de um panfleto distribuído nos pontos de concentração para a mobilização, que acrscenta: “Mas corremos muitos riscos, estamos recebendo mal e somos desrespeitados todos os dias pelos aplicativos”.
Rio de Janeiro
No Rio de Janeiro, os trabalhadores se concentraram na Igreja da Candelária, no centro da cidade, e percorreram algumas das principais vias da região no fim da manhã. O protesto passou pela sede do Ministério do Trabalho no Rio de Janeiro, que também fica no centro do Rio, e seguiu para bairros da zona sul da cidade. Segundo o Centro de Operações da Prefeitura do Rio, não houve impacto no trânsito.
Outro ato aconteceu em Niterói, reunindo entregadores do município e da cidade de São Gonçalo. Os entregadores se concentraram na Praça Arariboia, também pela manhã, e seguiram por ruas do centro e zona sul de Niterói, incluindo o bairro de Icaraí.
Brasília
Em Brasília, a mobilização juntou cerca de 200 entregadores, segundo os organizadores. Os trabalhadores se concentraram no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e foram até o Congresso Nacional. Segundo Alessandro Sorriso, da Associação dos Motoristas de Aplicativo do DF, a paralisação teve boa adesão não só na capital mas no país todo. Ele informou que deve haver uma nova greve e que o tema está sendo objeto de votação entre os entregadores nos estados envolvidos na mobilização.
Reivindicações
A principal pauta do movimento é o aumento dos valores pagos pelos aplicativos por entrega. A categoria quer não só o aumento do valor mínimo do serviço como também um reajuste do pagamento por quilômetro rodado. “Com a pandemia e o desemprego, os aplicativos estão ganhando como nunca. Em vez deles repassarem o valor para a gente, que está na linha de frente, correndo risco de pegar covid-19, eles jogaram as taxas de entrega lá embaixo”, diz o panfleto do movimento Treta no Trampo.
Os trabalhadores querem ainda benefícios como seguro contra roubo e acidentes, além de auxílios específicos para o período de pandemia do novo coronavírus, como equipamentos de proteção e licença remunerada para quem ficar doente.
Riscos
Nos meses de quarentena em São Paulo, foi registrado um aumento das mortes de condutores de moto, segundo levantamento feito pelo sistema Infosiga do governo do estado de São Paulo. Em abril e maio de 2019, morreram na cidade de São Paulo 46 motociclistas. No mesmo bimestre deste ano houve um aumento de 24%, para 57 mortes. Na comparação dos dois períodos, houve uma queda de 12,3% no total de mortes em acidentes de trânsito em geral na capital paulista, que passaram de 138 em 2019 para 121 em 2020.
Trabalho e remuneração
A pesquisa Condições de trabalho de Entregadores Via Plataforma Digital Durante a Covid-19, publicada na revista Trabalho e Desenvolvimento Humano mostrou que também aumentou a carga de trabalho dos entregadores durante a pandemia. Antes da crise, 57% dos entregadores trabalhavam mais de nove horas por dia, percentual que chegou a 62% durante a pandemia. Os dados mostram ainda que 7,8% dizem que tem carga diária de 15 horas ou mais.
O aumento de trabalho, no entanto, não foi acompanhado por um acréscimo na remuneração dos entregadores. Segundo o estudo, 58,9% dos trabalhadores disseram que houve queda na renda durante a pandemia. A pesquisa mostra que 34,4% ganham menos do que R$ 260 por semana (aproximadamente, R$ 1.040 mensais) e apenas 26,7% conseguem receber mais de R$ 520 por semana (cerca de R$ 2.080 por mês).
Empresas
À Agência Brasil, o iFood afirmou que apoia a liberdade de expressão e negou que entregadores sejam “desativados por participar de movimentos”, acrescentando que isso ocorre quando há “descumprimento dos termos e condições para utilização da plataforma”. “Os principais casos de desativação acontecem quando a empresa recebe denúncias e tem evidências do descumprimento dos termos e condições que pode incluir, por exemplo, extravio de pedidos, fraudes de pagamento ou ainda cessão da conta para terceiros”.
A empresa acrescentou que o valor médio das rotas é R$ 8.46. “Esse valor é calculado usando fatores como a distância percorrida entre o restaurante e o cliente, uma taxa pela coleta do pedido no restaurante e uma taxa pela entrega ao cliente, além de variações referentes à cidade, ao dia da semana e veículo utilizado para a entrega. Todos os entregadores ficam sabendo do valor da rota antes de aceitar ou declinar a entrega”, disse no comunicado. Sobre seguros, a companhia declarou que oferece aos entregadores desde 2019 o Seguro de Acidente Pessoal.
A Agência Brasil entrou em contato também com as empresas Uber Eats e Rappi, mas não recebeu retorno. A agência ainda busca contato com a firma Loggi. Em sua conta no Instagram, o Ifood publicou que “está ao lado dos entregadores”, que investiu R$ 25 milhões em proteção e segurança. De acordo com a companhia, foram distribuídos 4.500 litros de álcool em gel por dia e 800 mil máscaras reutilizáveis. O post argumentou ainda que em maio cada trabalhador recebeu R$ 21,80 por hora.
Matéria ampliada às 18h05 e às 19h17.
*Colaborou o Repórter da Agência Brasil no Rio de Janeiro, Vinícius Lisboa, e em Brasília, Jonas Valente
Edição: Denise Griesinger