Atendimentos são voltados para servidores em vulnerabilidade emocional, causada pelos impactos da pandemia
Com a tensão provocada pela pandemia do novo coronavírus, profissionais da linha de frente não escapam do desgaste causado tanto pelas situações vividas na rotina de trabalho quanto pelas emoções fora do ambiente hospitalar. Este tipo de atendimento na Fundação Centro de Controle de Oncologia do Amazonas (FCecon) é acompanhado por psicólogos da unidade, responsáveis por acolher servidores em vulnerabilidade emocional.
O trabalho é executado pelo departamento de Psicologia em parceria com o Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT), da FCecon. Durante o processo, os profissionais envolvidos agendam atendimentos em grupo ou de forma ambulatorial individualizada para os servidores da fundação, entre eles profissionais de saúde e prestadores de serviço.
Com a pandemia, desde o ano passado, os psicólogos já somam mais de 380 consultas individuais e grupos de 94 servidores procurando o auxílio. O serviço que antes era focado nos pacientes passou a ter novas demandas dos trabalhadores da FCecon, conforme explica o psicólogo Marcelo Bentes.
“São vários processos de luto por conta das perdas, ansiedade, sintomas psicossomáticos, os colegas adoecendo, com medo, porque estão vendo essa exposição de estarem trabalhando e ao mesmo tempo rodeados de contaminações da Covid-19. Então isso deixa os profissionais muito instáveis e necessitando desse apoio da Psicologia”, afirmou Marcelo.
A psicóloga Susan Biscaro acrescenta que os servidores estão sujeitos a se tornarem pacientes, devido ao risco de contaminação da doença. Por conta disso, ela explica, é importante tomar os cuidados emocionais para enfrentar a situação.
“Muitos procuram até para dar continuidade no atendimento. Eles solicitam novas informações e, principalmente em grupo, eles voltam a buscar o serviço para nós continuarmos dando essa assistência às equipes. Eles costumam melhorar no desempenho deles dentro do trabalho, o que é muito bom, porque eles melhoram a qualidade da assistência em saúde e se sentem mais fortalecidos para enfrentar situações do dia a dia”, destacou.
Apoio psicológico – A enfermeira Graça Gondim, de 53 anos, trabalha há mais de uma década na FCecon e nunca imaginou um cenário de pandemia fazendo com que pacientes com Covid-19 de outros locais fossem direcionados para a unidade, referência no diagnóstico e tratamento do câncer. Lidando com a pressão de gerenciar uma equipe de centro cirúrgico e as suas próprias emoções, ela considerou essencial o trabalho do serviço de Psicologia.
“Na primeira onda o meu filho foi acometido pela doença, tendo que ser internado. Realmente foi um momento que foi bem complicado para mim, porque, além de eu estar lidando com a doença em si, próxima a nós (enfermeiros), eu tinha o meu filho internado e tendo que dar apoio à minha família, mas também aos meus funcionários. Foi fundamental também que a Psicologia pudesse me encaminhar e orientar nesse sentido”, disse Graça.
Ainda segundo ela, o acolhimento psicológico em grupo fortaleceu todos os profissionais de saúde. “Eles conseguem fazer com que a gente enxergue coisas que a gente não vê. De certa forma é um apoio que nos fortalece, para continuar trabalhando e tentando enxergar o melhor que está por vir. Sabemos que nem sempre teremos resultados apenas positivos, então temos que estar preparados para isso”, complementa Graça.