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Símbolo cultural

A língua de um povo é muito mais que o instrumento da comunicação. É um elemento de identificação e de reconhecimento desse povo. Nas palavras, expressões, regionalismos, sotaques encontramos nossos iguais, nossa identidade. Nada mais justo então, do que se ter um dia para celebrar essa manifestação. 

Mas será que existem motivos para se comemorar um Dia Nacional da Língua Portuguesa, especialmente num momento em que há uma mudança (e é polêmica) na forma em que é a  linguagem escrita é usada nas redes sociais? 

Para o professor de língua portuguesa, Carlos André Nunes, a resposta é afirmativa. “Como diria Olavo Bilac, a língua é minha pátria. Então é preciso comemorar o Dia Nacional da Língua Portuguesa como o dia de um dos símbolos da nossa nação e, principalmente, como um dos símbolos da nossa cultura”, diz ele. 

Mas o professor reconhece que há uma ausência desse reconhecimento da língua portuguesa como o elemento simbólico da nossa cultura. E cita a “aculturação”, processo que valoriza outras culturas, especialmente, a inglesa, inferiorizando os nossos valores culturais, como um fator dessa falta de percepção cultural do brasileiro. Segundo ele, isso pode ser facilmente observado no dia a dia, a exemplo dos nomes de prédios que, notadamente, os mais caros, não têm nomes em português, mas sim, em outros idiomas. 

Esse fenômeno seria uma das dificuldades apontadas pelo professor, no ensino da língua portuguesa. Em seguida, ele cita também a baixa qualidade na formação dos professores. E lembra que as faculdades formativas, como a de Letras, por exemplo, recebem muito menos investimento do que aquelas que oferecem cursos de bacharelado. 

Mas o educador vai além. Ao analisar a forma de ensino da língua portuguesa no Brasil, ele é taxativo: “o ensino da língua portuguesa no Brasil é o pior possível”. E identifica grandes falhas. “Isso é culpa de uma estrutura que é muito ruim. No Brasil, nós ensinamos apenas e, de forma ruim, a gramática normativa. Nós não ensinamos português com base na capacidade de situacionalidade, na capacidade de intencionalidade, nós não ensinamos a língua pensando no receptor, no aspecto contextual… e isso, claro, gera o analfabetismo funcional”, analisa.

Todas essas deficiências levam aos erros na linguagem oral, mas especialmente, na escrita. Lembrando que quando há falhas nesse processo, a comunicação fica prejudicada. Carlos André Nunes revela que entre os principais erros observados estão as chamadas muletas linguísticas, expressões que, via de regra, estão na moda, mas que são locuções, frequentemente vazias, usadas para ligar diferentes partes de um texto (exemplo: a expressão tipo assim) e a incoerência textual. Já os erros gramaticais, os mais comuns são os gráficos, os desvios de concordância e os erros de pontuação, que segundo o professor são os que tendem a gerar mais problemas na estrutura do texto. 

Leitura 

É consenso entre quem trabalha com o ensino da língua portuguesa que um dos requisitos básicos para se escrever bem é a leitura, outra dificuldade do brasileiro. 

A última pesquisa Retratos da Leitura aponta que 44% da população brasileira não lê e 30%, sequer comprou um livro durante a vida. O levantamento mostrou ainda que a leitura fica em 10º lugar na preferência de atividades de lazer, atrás de assistir TV, ouvir música, acessar a internet, entre outros e que os brasileiros leem menos de 5 livros por ano. Números bem baixos se comparados aos dados referentes à França, por exemplo. Segundo o Centro Nacional do Livro, em estudo realizado em 2019, 88% da população francesa se declararam leitores regulares e haviam lido, em média, 21 livros nos últimos 12 meses. 

O professor Carlos André observa uma deformação no hábito de ler no nosso país. Segundo ele, a leitura está voltada para textos rápidos, escritos nas redes sociais. “Isso também é leitura. Ocorre, porém, que faltam leituras densas, leituras reflexivas. Há muita leitura rápida e pouca leitura reflexiva. Crônicas, por exemplo, de Luis Fernando Veríssimo, são pouco lidas. E eu nem diria, romances de Machado de Assis, que seriam o ideal, esses, não são lidos”, analisa. 

O especialista aponta ainda um outro problema, também relacionado às redes sociais. Para ele, há uma falsa polêmica em relação à escrita no meio digital. Nunes não acredita na lógica, que ele credita ao senso comum, de que a forma de escrever utilizada nas redes, seja uma evolução da língua. E entende que “língua viva” não significa torná-la simples ou coloquial. O professor afirma que a falta de conhecimento de palavras, a redução do léxico, é mais um problema grave, que não pode ser visto como uma evolução da língua. 

Projeto na Alego

Preocupada com as falhas no ensino da língua portuguesa e com todas as consequências que elas acarretam, a deputada Lêda Borges (PSDB) apresentou um projeto de lei, que prevê a obrigatoriedade da inclusão da matéria “Redação”, na grade disciplinar da rede pública de ensino do Estado, a partir do 3º ano da primeira fase do ensino fundamental. 

Pelo projeto, a redação deve ser incluída na disciplina da língua portuguesa, com aulas ministradas uma vez por semana e integrando conteúdo obrigatório, com a aplicação de interpretação de texto e aprendizado para manuseio de dicionário, com as novas regras ortográficas. 

Para a deputada, essa é uma forma de combater as dificuldades notórias dos jovens, que não sabem responder perguntas ou apresentam respostas incompletas por ausência de estímulo à leitura e escrita no país. 

A parlamentar acrescenta que é necessário oferecer oportunidades educacionais aos quase 13 milhões de brasileiros com mais de 15 anos que, segundo o levantamento Pnad/lBGE de 2015, se autodeclaram analfabetos e, ainda, garantir que jovens e adultos com escolaridade baixa ou de qualidade insuficiente, aprimorem suas habilidades de leitura, escrita e compreensão da linguagem, de modo a assegurar suas possibilidades de desenvolvimento pessoal e social. “Esses são desafios urgentes que se impõem às políticas educacionais, às redes de ensino e a toda sociedade brasileira”, justifica a parlamentar. 

Vale lembrar que a educação é um direito assegurado pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, que garante: “A educação será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais”. 

Também é um direito basilar previsto na Constituição Federal brasileira, que em seu artigo 205, assevera: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. 

Se a educação é um direito básico do cidadão, em qualquer lugar do planeta, assegurar o direito ao conhecimento da língua pátria é um bom começo para uma educação digna. 

Fonte: Portal da Alego

Fonte: Agência Assembleia de Notícias

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