Amamentar traz diversos benefícios já conhecidos por todo mundo. E isso não é por acaso. Há um esforço internacional para divulgar os ganhos do aleitamento materno, tanto para o bebê, quanto para a mãe e, até para a saúde pública. Há quase 30 anos, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e a Organização Mundial de Saúde (OMS) se uniram para incentivar e criar as condições para que as mães, no mundo todo, se sintam cada vez mais encorajadas e confortáveis para amamentarem seus filhos. Assim teve início a Semana Mundial do Aleitamento Materno, que passou a ser celebrada entre 1º e 07 de agosto, em vários países.
O Brasil abraçou a iniciativa em 1999 e, a partir daí, estendeu a campanha para todo o mês, estabelecendo assim, o Agosto Dourado. Para ampliar ainda mais o alcance e reforçar as ações, em 2017, a Lei nº 13.435 instituiu o mês de agosto como o Mês do Aleitamento Materno, no calendário oficial do país.
Incentivo à amamentação
A deputada estadual Delegada Adriana Accorsi (PT) é uma das grandes defensoras da amamentação. Já apresentou diversos projetos e requerimentos visando incentivar o aleitamento materno e garantir o direito às mães e filhos, à livre amamentação. “A amamentação é um ato que vai ter reflexos para toda vida, então é preciso assegurar que ela seja livre e em qualquer local”, diz a parlamentar.
Um dos projetos da deputada, de número 1062/19, prevê a obrigatoriedade de instalação de sala de apoio à amamentação destinada especialmente às funcionárias para extração e armazenamento de leite materno, por parte das empresas públicas e privadas, com mais de 50 empregadas mulheres, em Goiás. Ela entende que as mães precisam de um espaço adequado para que possam amamentar ou retirar o leite para oferecer ao filho, ao retornar para casa, garantindo o direito da amamentação mesmo quando termina o período de licença maternidade e a mãe precisa voltar ao trabalho.
Em parceria com a deputada, Lêda Borges (PSDB) também apresentou uma matéria propondo que as doadoras de leite materno tenham isenção das taxas de inscrição a concursos públicos. O objetivo é incentivar a doação de leite, que assegura os benefícios do alimento aos bebês de mães que, por algum motivo, não podem amamentar.
Em casa, a deputada tem dois exemplos do quanto a amamentação é importante para a saúde durante toda a vida. Ela conta que a filha Verônica mamou até os 02 anos e até hoje, já adulta, tem uma saúde de ferro. E agora, a pequenina Helena, que está com 2 anos e 8 meses, continua amamentando. Adriana acredita que foi o leite materno que fez com que a menina, que nasceu prematura com 33 semanas de gestação, ganhasse peso rapidamente e ter deixado a UTI em pouco tempo. “A Helena é muito saudável, não tem problema nenhum de saúde, muito por causa da amamentação. E é preciso assegurar esse direito à amamentação a todas às mães”, afirma.
Projeto do deputado Eduardo Prado (DC), instituindo o Agosto Dourado em Goiás, tramita na Assembleia Legislativa. A matéria prevê a realização de ações educativas divulgadas especialmente nos meios de comunicação e afixação de cartazes e folhetos educativos em órgãos públicos, realização de eventos e palestras. O processo nº 3538/20 já teve parecer favorável da Comissão de Constituição e Justiça e agora está sendo analisada pela Comissão de Educação, Cultura e Esporte, onde aguarda o parecer do relator, deputado Coronel Adailton (Progressistas).
A cor escolhida é uma alusão ao “padrão ouro de qualidade”, conferido ao leite materno para a nutrição dos recém-nascidos. O alimento contém todos os nutrientes, proteínas, água, açúcares e vitaminas necessários para o desenvolvimento do bebê nos primeiros meses de vida. E mais: é um alimento que salva vidas, por isso, entre outros motivos, a insistência no aleitamento materno.
Redução da mortalidade
Segundo a pediatra e coordenadora do Departamento de Aleitamento Materno da Sociedade Goiana de Pediatria, Simone Ramos, a amamentação é fundamental para reduzir a mortalidade infantil. Ela revela que desde 2000, o índice de morte nos primeiros anos de vida, caiu em 50%, mas ainda não é o ideal: no Brasil, de 1000 crianças nascidas, 14 ainda morrem antes dos 5 anos de idade. A meta é chegar a zero até 2030.
E o leite materno tem uma importância estratégica para se alcançar esse objetivo. “A amamentação funciona como redutor da mortalidade infantil por proteger a criança de infecções, como doenças respiratórias e diarreias, junto com vacinas, nutrição adequada e tratamento de doenças comuns da infância. Além, evidentemente, de também termos higiene e condições básicas de moradia e saneamento”, resume a pediatra. E esse é apenas o primeiro, ou talvez o mais relevante, dos benefícios do leite materno, mas a lista é extensa.
O caderno “Saúde da Criança: aleitamento materno e alimentação complementar” elaborado pelo Ministério da Saúde, ressalta que a amamentação vai muito além da nutrição. “É um processo que envolve interação profunda entre mãe e filho, com repercussões no estado nutricional da criança, em sua habilidade de se defender de infecções, em sua fisiologia e no seu desenvolvimento cognitivo e emocional, e, em sua saúde no longo prazo, além de ter implicações na saúde física e psíquica da mãe”, resume o documento.
E não são apenas os pequenos que se beneficiam, as mamães também ganham muito com a amamentação. A pediatra Simone Barros explica: “para a mãe não podemos deixar de citar a diminuição da incidência de anemia, de câncer de mama e também, a redução da incidência de depressão pós-parto”. Isso sem falar no fortalecimento do vínculo entre a mãe e o bebê, o que vai refletir positivamente na vida e na relação de ambos.
Todas essas informações estão disponíveis a qualquer pessoa interessada, principalmente na internet. Uma busca rápida e dezenas de sites (plenamente confiáveis) vão aparecer nas sugestões. No mês de agosto, por conta da campanha, as orientações se multiplicam com muito mais intensidade.
Amamentação na pandemia
Simone Ramos explica que as orientações continuam sendo praticamente as mesmas, durante a pandemia, apenas os cuidados devem ser maiores. Sobre as mães contaminadas com covid-19 poderem ou não amamentar, ela é enfática: “O aleitamento materno não deve ser suspenso, mesmo se a mãe positivou após o bebê estar mamando. A mãe deve ter cuidados como usar máscara, lavar bem as mãos, manter o tão difícil, nesse momento, distanciamento social e continuar amamentando”, ensina a médica.
Ela explica, ainda, que ao contrário do medo de muitas mães, alguns estudos já apontam que o leite materno pode ser uma possível proteção para o bebê também contra o coronavírus. “Foi demonstrado que o leite de mães lactantes pode conter anticorpos específicos contra a proteína spike do SARS-COV-2. A presença desses anticorpos indica que as mães podem transmitir imunidade viral a seus filhos. Os estudos continuam a ser feitos, mas o que se sabe até o momento, sugere que os anticorpos podem durar por meses”. Pontinho a mais para a amamentação.
Rede de apoio
A jornalista Dyanne Amorim quando descobriu a gravidez da primeira filha, em 2019, devorou informações sobre gestação, parto, amamentação e outros assuntos relacionados à maternidade. Tudo foi pensado e planejado para que assim que Catarina viesse ao mundo, ela pudesse estar em contato com a mãe e já pudesse ter a primeira mamada na chamada golden hour.
Mas nada aconteceu da forma prevista. Dyanne relembra: “Catarina nasceu com 36 semanas e rapidamente teve que ser levada ao berçário. O leite não desceu no primeiro dia de nascimento. Eu sabia o jeito de segurar o bebê, o modo como a boca devia se encaixar no peito, a chamada ‘pega’, mas o colostro estava bem reduzido”, diz a jornalista.
Nesse momento, foi sugerido a ela o apoio de uma fonoaudióloga, o que foi determinante para que conseguisse amamentar. A profissional detectou os problemas de mãe e filha: a criança estava com prisão de ventre e o peito da mãe estava muito rígido e precisava de massagens e sucção para não empedrar. Também orientou que, enquanto apenas o colostro estivesse descendo, a mãe oferecesse complemento de leite de fórmula por meio de sonda grudada no seio, para ajudar a pequena no costume da sucção e o uso de uma ordenhadeira elétrica para auxiliar na descida do leite.
A jornalista amamentou Catarina até os nove meses e só parou porque engravidou novamente. Agora, já às vésperas do nascimento do segundo filho, Dyanne planeja amamentá-lo por mais tempo e já vai contratar a fonoaudióloga novamente para que o processo seja mais tranquilo. “Eu amei amamentar e realmente não sabia que conseguiria. Valorizo o leite materno e todos os seus benefícios, principalmente a passagem de anticorpos. Compreendo também que não é um processo fácil e que nem todas as mães desejam e conseguem”, analisa a mãe.
A fonoaudióloga e consultora em amamentação Waldirene Pimenta explica que, apesar da grande oferta de informação disponível, a maior dificuldade observada por ela, para a mãe de “primeira viagem”, é a falta de conhecimento e de experiências familiares prévias da amamentação. “Preocupam com o enxoval, com o parto e geralmente esquecem da amamentação ou tem uma visão romântica dela. É preciso munir de conhecimento teórico, saber o que é a amamentação, o que esperar e, poder assim ter o poder da escolha”, esclarece.
Mas ela ressalva que mesmo o amplo conhecimento teórico não é garantia de que a dupla mãe-bebê, não vão ter dificuldades. “Caso elas aconteçam, o ideal é procurar ajuda de um profissional especialista em amamentação o quanto antes para evitar estresse, sofrimentos, lesões mamilares, dores e introdução precoce de fórmulas lácteas”.
Ações em conjunto
Em consonância com o mote da campanha mundial, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) direcionou suas ações focadas na responsabilidade do pediatra no aleitamento materno. Nesse sentido, o Departamento Científico de Aleitamento Materno (DCAM) da SBP está propondo ações para que os pediatras façam a diferença na promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno exclusivo até os 6 meses e complementada até pelo menos dois anos.
Para a pediatra Simone Ramos, o papel dos colegas precisa ser destacado já no pré-natal, porque o aleitamento começa antes do parto e mesmo antes da mãe engravidar. Além disso, o profissional deve ser um elo importante dessa rede de apoio e acolhimento.
Ela chama a atenção também para uma outra parte ainda mais importante nessa rede, que é a família, com destaque para a figura que deve dividir o protagonismo do momento com a mãe: “o pai, parceiro, companheiro se constitui em um fator essencial para o aleitamento materno. Proporciona segurança, apoio e esse é um momento crucial para que ele se sinta parte do processo e tenha conexão com seu filho”.
Opinião compartilhada pela fonoaudióloga Waldirene Pimenta. “Amamentar é um ato apreendido pela mãe e pelo bebê. Uma boa rede de apoio é fundamental!”. A Dyanne Amorim é um exemplo de que informação e apoio, especialmente nos primeiros dias após o nascimento, são essenciais para que a amamentação seja possível. Vencidas as dificuldades iniciais, o momento de mamar passa a ser prazeroso para a criança e para a mãe, apesar de outras adversidades, como o cansaço.
Agosto Dourado em Goiás
Por causa da pandemia, as atividades da campanha, pelo segundo ano consecutivo, foram reduzidas e adaptadas, principalmente, para o ambiente digital. Na Alego, postagens nas redes sociais lembram a importância do aleitamento materno. Além disso, a nova série que será publicada nas redes chamada “Você concorda?” vai questionar os seguidores se concordam com a amamentação em público. Um outro aspecto importante da amamentação que precisa ser discutido.
Já a Sociedade Goiana de Pediatria optou por realizar rodas de conversa, sendo duas presenciais e duas, on-line. O primeiro encontro aconteceu no último domingo, no Parque Vaca Brava e o próximo, será no dia 07 de agosto no Jardim Botânico, a partir das 09 da manhã. Os interessados devem se inscrever gratuitamente pelo WhatsApp (62) 99259-2514. A próxima roda de conversa virtual será no dia 16, às 21h, no Instagram @sociedadegoianadepediatria.
Fonte: Portal da Alego
Fonte: Agência Assembleia de Notícias