A Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) celebrou, na noite dessa terça-feira, 21, o Dia da Consciência Negra, em sessão solene proposta pela deputada Bia de Lima (PT). O evento integrou as atividades que a Casa tem realizado durante todo o mês de novembro, em razão da data, que é celebrada no dia 20. Mesmo com a chuva forte que caiu no início da noite, o Plenário Iris Rezende Machado ficou lotado pelos homenageados com o Certificado do Mérito Legislativo e seus convidados.
Participaram da sessão solene, o delegado especializado no atendimento às vítimas de crimes raciais e delitos de intolerância, Joaquim Filho Adorno Santos, a representante do Ministério da Igualdade Racial, Roseane Ramos, a coordenadora da Juventude do Movimento Negro Unificado (MNU), Natália Cristina Lemes Simão, o coordenador jurídico do MNU, Wanderson Pinheiro, e a coordenadora nacional das mulheres do MNU, Ivana Leal. Também marcaram presença o coordenador do projeto Batuca G e capoeirista Mestre Goiano e a presidente da Associação Quilombola Jardim Cascata, Maria Lúcia.
Ao abrir a sessão, Bia de Lima lembrou que a ideia do evento não era só comemorar o 20 de novembro, mas também fazer com que o Parlamento goiano seja espaço contínuo de homenagem ao povo negro, de enaltecer as valorosas contribuições de toda a comunidade negra do país. “Queremos que esse espaço seja apropriado, no sentido de se apropriar, por parte de todo o povo negro. Nós sabemos que aqui tem poucos assentos, ainda, do povo negro. E muitas vezes os que são negros não se veem como tal, o que é um grande problema”, disse.
A petista lamentou que o projeto apresentado por ela para tornar feriado estadual o Dia da Consciência Negra não tenha sido aprovado pelos pares. E se comprometeu a reapresentar a proposição nos próximos anos. A parlamentar contou aos participantes sobre a realização do Abraço Negro, evento do Sindicato dos Trabalhadores em Educação no Estado de Goiás (Sintego) há mais de duas décadas e que este ano foi realizado na Alego.
Este ano a homenageada do Abraço Negro foi a jornalista Glória Maria. Uma frase dita pela jornalista durante uma entrevista foi usada no evento e citada por Bia de Lima: “Nada blinda o preto do racismo, ainda mais a mulher preta. Nós somos mais abandonadas, discriminadas. Você tem que aprender a se blindar da dor. Se você for esperar o blindamento universal, você está perdida”.
“Eu espero aqui hoje que a gente possa se orgulhar, ter satisfação. Por isso, a minha imensa alegria de ao chegar aqui, como deputada, poder homenagear vocês. Fico muito feliz. Que bom que a gente possa, minimamente, ir corrigindo essas dores, esses preconceitos diversos que todos vivenciam cotidianamente”, afirmou a legisladora.
Na sequência, foram exibidos dois vídeos: o primeiro feito pelo Ministério da Igualdade Racial sobre o 20 de novembro e o outro, uma montagem feita com a música “O Canto das Três Raças”, interpretada por Clara Nunes.
Em seu discurso, o delegado Joaquim Filho Adorno Santos lembrou que foi convidado para participar de muitos eventos e fez uma dura crítica aos que tratam a data de forma hipócrita. “Em novembro todo branco adora ter um negro para chamar de seu. Uma foto, uma coisa assim. Mas no seu evento, deputada Bia, eu venho com muita tranquilidade, porque isso aqui é apenas uma pequena parte da sua história de luta. Você está todos os dias conosco. Isso aqui é só para concretizar isso. Por isso eu venho com orgulho”.
O delegado pontuou que o racismo ainda é negado no Brasil, até por pessoas pretas, porque entre 1495 e 1888 a escravidão era legal. Nesse período a pele preta era tratada como uma commoditie e os negros eram usados até como garantia para empréstimos no Banco do Brasil. Depois criou-se um mito de que o Brasil era uma democracia racial, especialmente, por causa da obra “Casa Grande e Senzala”, do sociólogo Gilberto Freyre.
Para finalizar, Adorno revelou que neste ano já instaurou quase 300 inquéritos de racismo, somente em Goiânia. “Então, o racismo existe, ele está do seu lado. E o grande ‘babado’ dos racistas é o discurso único: racismo não existe. E se não existe, não precisa ser discutido, não precisa resolver, não precisa do dia 20, não preciso disso daqui, porque todos nós somos iguais, embora eu more nos Jardins e tu more na favela”, finalizou.
A representante do Ministério da Igualdade Racial, Roseane Ramos, ressaltou que é primordial que os negros ocupem os espaços de poder, para mudar a situação desconfortável em que vivem há mais de 500 anos. Ela sublinhou que tem orgulho de ter feito parte da criação do Abraço Negro, uma proposta apresentada ao Sintego, por Ieda Leal, que hoje também está no Ministério da Igualdade Racial, e que prontamente foi atendida pelo sindicato. “Hoje nós tivemos aqui na Assembleia mais de 500 estudantes da rede pública participando e conhecendo esse espaço.”
Roseane reafirmou a disposição em estar junto com o movimento negro e que a sessão solene era reconhecimento de tantas pessoas importantes que estão na luta antirracista. “A gente sente muito orgulho em fazer parte disso, porque todos caminhamos juntos pelo mesmo objetivo: um Brasil sem racismo.”
Em seguida, Josivaldo de Oliveira Souza executou, à capela, a música “Tambores de Palmares”, de José Vicente, em homenagem ao povo afro. Outros participantes também fizeram uso da palavra, reiterando o valor da cultura negra e a importância de combater o racismo. Após os discursos, os homenageados receberam o Certificado do Mérito Legislativo.
Fonte: Portal da Alego
Fonte: Agência Assembleia de Notícias