Em alusão ao Dia Nacional da Consciência Negra, o deputado Mauro Rubem (PT) comandou, na manhã desse domingo, 19, uma sessão especial sobre o tema. No encontro, líderes do movimento negro e antirracista foram homenageadas. A reunião teve lugar no Plenário Iris Rezende Machado da Casa de Leis.
Ao iniciar a solenidade, o deputado enfatizou que cada um dos presentes representa aqueles que, sobretudo, lutam pela transformação do país. “Temos um Brasil ainda com uma presença muito forte do racismo. Um país onde ainda existem pessoas totalmente contra às medidas que evitam o prolongamento da escravidão. Temos um país com uma intolerância religiosa descomunal. Não há ser superior que oriente o cidadão a ser intolerante. Isso para mim não é religião, é facismo. E isso tem dado sinais fortes no Brasil, principalmente em Goiás.”
Segundo o parlamentar, a celebração da data na Alego busca a junção de todos aqueles que combatem as “mazelas” citadas. “A população preta desse país é a que menos recebe. As mulheres, menos ainda. Essa sessão visa justamente reafirmar que nós não podemos mais conviver com essas práticas.”
Ao justificar a promoção da sessão solene, o deputado argumentou que ainda há muito o que ser feito, apesar dos avanços importantes da legislação brasileira, para que se construa, no Brasil, uma sociedade na qual vidas negras valham tanto quanto vidas brancas e que as oportunidades sejam iguais para todas as pessoas, sem discriminação ou preconceito racial.
Números
A solenidade foi marcada por uma sequência de apresentações culturais e discursos de diferentes representantes da sociedade civil organizada. Primeira a discursar, a professora Luciene Dias, que além de diretora da Central Única dos Trabalhadores (CUT) é representante do Sindicato dos Docentes das Universidades Federais de Goiás (Adufg), apresentou ao público presente indicadores sobre a atividade da população negra no país.
“Esse público corresponde a 56,1% da população brasileira, o que representa 54,5% das pessoas que estão trabalhando. Somos 53,9 milhões de pessoas negras trabalhando, mas isso infelizmente não é motivo para comemorar, porque é preciso destacar que 46,1% desse porcentual corresponde a pessoas negras trabalhando informalmente”, introduziu Luciene.
Ela continuou: “Entre mulheres negras, nós somos 46,5% sem carteira assinada e, consequentemente, sem condições de contribuir com a Previdência Social. Isso sinaliza um futuro de pobreza. Trazer esses dados é importante porque devemos aproveitar os debates, sempre provocados no mês de novembro, para fomentar essa discussão”.
Luciene Dias fez um apelo aos representantes do povo que ocupam cadeiras na Assembleia Legislativa de Goiás, solicitando sensibiidade. Queremos que a proporção de projetos envolvendo as pessoas negras seja aumentada e que políticas públicas efetivas sejam implementadas.”
Quem segurava o chicote?
Por sua vez, o delegado especializado no atendimento às vítimas de crimes raciais e delitos de intolerância, Joaquim Filho Adorno Santos, disse que o 19 de novembro é um dia de reflexão. “A violência é um reflexo de 500 anos de história. Temos que desconstruir o mito da democracia racial. Todas as vezes que vocês se depararem com uma pessoa branca dizendo que não existe racismo, pergunte a ele quem era o seu bisavô. Questione: ele segurava o chicote ou levava as ‘lapadas’? Aí você vai entender o porquê dessa visão”, disse.
Segundo ele, o sistema é “maldoso”. “Se não tomarmos cuidado, não teremos satisfação alguma ao ver a nossa própria imagem no espelho. Isso porque ao longo da história foi nos ensinado a buscarmos as características brancas. Então, digo a vocês: resistam sempre. Não basta falar contra o racismo. Temos que ser antirracistas”, pontuou.
Caminho da superação
A chefe da Assessoria Adjunta de Cultura da Alego, Ana Rita Marcelo de Castro, também esteve entre os oradores do encontro. A servidora destacou que o Brasil não vai superar o racismo enquanto não houver políticas públicas comprometidas com a causa. “Não vamos superar enquanto o Estado não colocar essa política no orçamento. Não vamos superar enquanto essa bandeira não for também a dos nossos gestores e parlamentares.”
Segundo ela, por isso, devemos ampliar a participação negra nos parlamentos municipais, onde haverá eleições no próximo ano. Precisamos eleger representantes antirracistas. Nossos 300 anos de escravidão precisam ser superados e só conseguiremos isso quando políticas públicas eficientes forem implementadas.”
Antes da entrega do certificado em reconhecimento pela luta em combate ao racismo, à descriminação e às injustiças sociais no Estado de Goiás, também fizeram uso da palavra Michel Felix, do Entorno de Brasília, o presidente da Federação de Umbanda e Candomblé do Estado de Goiás, Salmo Vieira, e a vice-presidente dessa instituição, Mãe Carmen Silvia Valdemar Pinto.
Além das autoridades que discursaram, também tiveram lugar na mesa o assessor técnico do departamento de monitoramento e fiscalização do sistema carcerário, Salomão Neto; a vereadora Luzia Cristina do Carmo (PT), de Professor Jamil; e o delegado do Fórum Permanente de Afrodescendentes na Organização das Nações Unidas, Gabriel Fidelis Santos.
O Dia Nacional da Consciência Negra, vale destacar, é uma data de celebração e de conscientização sobre a força, a resistência e o sofrimento que a população negra viveu no Brasil, desde a colonização. Durante o período colonial, aproximadamente 4,6 milhões de africanos foram trazidos ao Brasil para servirem na condição de escravizados, trabalhando primeiramente em lavouras de cana-de-açúcar e no serviço doméstico, e, posteriormente, na mineração.
Fonte: Portal da Alego
Fonte: Agência Assembleia de Notícias