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Superação e vitória marcam jornada de João Peres Sousa até a vitória do Rodeio da 50ª Expoacre

Com uma trajetória marcada por disciplina, fé e amor pelas arenas de rodeio, João Peres Sousa, conhecido no mundo do rodeio como Carrapicho Branco, de 42 anos de idade, se consagrou campeão do rodeio da Expoacre 2025, um dos eventos mais aguardados do calendário cultural do estado. Natural de Rio Branco, Acre, mas residindo em Nova Califórnia, Rondônia. João é hoje reconhecido como uma das grandes promessas do rodeio acreano, representando não apenas um título, mas o esforço diário de quem vive da montaria.

Grande campeão acreano e morando em Rondônia, peão é consagrado, leva título inédito em sua carreira e conquista o coração do público na arena de rodeio. Foto: Marcos Santos/Secom

Desde os 18 anos, João Peres Sousa se dedica à montaria em touros. Criado no campo, em uma família simples de sitiantes, aprendeu desde cedo a montar e desenvolveu respeito pelos animais e pela cultura sertaneja. Inspirado por peões experientes e com apoio da família, construiu sua trajetória como competidor.

Peão possui longa trajetória de emoção e superação. Foto: Arquivo Pessoal

Do campo à arena:

A trajetória de João Peres Sousa tem origem no esforço diário de uma família simples, que viveu do gado, do leite tirado de madrugada e do trabalho no campo. Cresceu em uma família que vivia da produção rural, em meio a poucas condições financeiras.

Campeão do rodeio da expoacre 2025, João representa mais que técnica e coragem, é símbolo de uma história marcada por humildade, dedicação e paixão pela montaria.

Desde pequeno, João acompanhava o pai na lida com o gado, onde o sonho da montaria começou a tomar forma. Montava em bezerros com os amigos por diversão, uma brincadeira que, com o tempo, se transformou em caminho profissional. Ao crescer, seguiu trabalhando com gado, mantendo viva a ligação com o campo.

Incentivado pelo amigo Francisco Nonato, conhecido como Piduca, que já montava em bois, João começou a treinar e montar, enfrentando dificuldades para conseguir equipamentos como esporas e cordas, muitas vezes improvisando. Treinavam em pastos, laçando e derrubando animais para montar em seguida, em uma prática perigosa. Construíram uma pequena arena, e a escassez de bois para treino levava-os a montar até em vacas. Com o apoio constante de Piduca e da família, João foi construindo sua trajetória no rodeio.

João Peres durante a premiação deste ano. Foto: Marcos Santos/Secom

A paixão pela montaria surgiu gradualmente, acompanhando um amigo que já competia profissionalmente. Trabalhando com gado e fazendo diárias, João admirava a habilidade de montar em bois e decidiu seguir o mesmo caminho.

A primeira oportunidade surgiu em um rodeio na sua cidade, na modalidade “Prova Livre”. Com o apoio do amigo, que negociou com o organizador e conseguiu um boi chamado “Vosso”, João fez sua estreia, mesmo sem competir oficialmente. Equipado com itens emprestados, ele conseguiu se manter montado e viveu uma grande felicidade com essa primeira experiência.

Foi o início de uma trajetória de esforço e dedicação. Com pouco mais de 18 anos, João economizou o dinheiro das diárias, que valiam apenas dez reais, para comprar seu primeiro equipamento, mesmo usado. A partir daí, passou a disputar rodeios menores na região de Nova Califórnia, treinando intensamente. Seu verdadeiro desafio, porém, ainda estava por vir.

No início dos anos 2000, João expandiu sua atuação para outros estados, passando por regiões como Campinas e Extrema. Em 2000 ou 2001, participou de um rodeio próximo a Nova Mamoré, atual Dimensão, chegando ao local por caronas e baldeações. Encontrou uma boiada imponente, bem diferente dos bois menores a que estava acostumado, o que causou apreensão, mas seguiu firme na competição.

Mesmo estreando em um rodeio de grande porte, João superou o nervosismo e chegou à sua primeira final, conquistando o terceiro lugar e um prêmio de duzentos reais, quantia significativa na época. Metade do valor foi entregue ao pai, e o restante lhe trouxe sua primeira sensação de conforto financeiro.

Se o touro é tinhoso, João mostra que sabe domar. Foto: cedida

Esse crescimento foi também pessoal. O incentivo do amigo Pinduca foi fundamental para que João participasse de eventos mais distantes, como em Capixaba e Campinas. Mesmo iniciante, construiu importantes amizades e valorizava a integridade e honestidade. Para ele, o rodeio ia além da competição: era uma conexão entre pessoas, com troca de contatos e convivência com comissões e tropeiros.

Durante um rodeio em Campinas, João conheceu Francisco Freire, o Lorim do Rodeio, juiz e proprietário de uma selaria, que se tornou um de seus grandes mentores. A partir dali, criou laços com a equipe e foi convidado a acompanhá-los em outras etapas do circuito.

João deixou Campinas e seguiu com a equipe para Plácido de Castro, passando por Senador Guiomard, Granado e Bujari, onde permaneceu duas semanas durante a exposição de 2002. Já integrado ao grupo, foi incluído por Lorim, responsável por uma das boiadas do Acre, na programação do evento. Mesmo com o acidente aéreo ocorrido naquele ano, o rodeio foi realizado por dois dias, e João conquistou o segundo lugar na classificação geral. A partir dali, firmou-se no circuito, aprimorando suas habilidades e consolidando sua carreira.

Após superar as dificuldades, João retornou à casa dos pais e iniciou uma nova fase. Com foco e maturidade, passou a conduzir seus negócios e questões pessoais com ética, responsabilidade e determinação para seguir seus objetivos.

A partir de 2002, João intensificou sua dedicação às montarias, dando início a uma série de viagens e competições. Já com boa experiência e afinidade com o rodeio, participou da final da expoacre naquele ano e seguiu avançando. Inicialmente, atuava em eventos dentro do Acre, mas também em regiões fronteiriças como a Califórnia, onde, segundo ele, havia uma disputa simbólica entre Acre e Rondônia pela área. “Usávamos dois horários: o do Acre e o de Rondônia”, lembra. Aos poucos, foi conquistando seu espaço na arena e consolidando sua trajetória como competidor.

João Peres é natural de Rio Braco-AC. Foto: Marcos Santos/Secom

João Peres Sousa é natural de Rio Branco, mas foi na região da Califórnia, na divisa entre Acre e Rondônia, que construiu sua história. “Embora nascido na capital, cresci na BR-364, próximo ao Posto Tucandeira, e continuo morando por lá. A Califórnia sempre teve forte ligação com o Acre, e naquela época, tudo, comércio, saúde, educação, era voltado para o lado acreano. Por isso, me considero criado naquela região”, destaca.

Em 2004, João Peres Sousa atravessou o Rio Madeira rumo a Rondônia pela primeira vez, iniciando uma nova fase em sua carreira. Estreou em um rodeio na cidade de Alto Paraíso, onde teve boas montarias. Apesar da performance consistente, não alcançou a final, superado pelo desempenho de outros competidores. A experiência, no entanto, marcou o início de sua trajetória interestadual.

A partir de 2004, João Peres Sousa começou a percorrer o interior de Rondônia, participando de rodeios locais e ganhando reconhecimento. No ano seguinte, 2005, conquistou um dos títulos mais marcantes de sua trajetória: o campeonato da expoacre. A vitória, que completa 20 anos em 2025, consolidou seu nome no cenário do rodeio acreano.

Hoje, a fivela conquistada em 2005 é usada por seu filho, que esteve presente na arena na noite anterior. Guardada por duas décadas, a peça representa não apenas uma vitória, mas um legado. Para João, é uma honra poder dividir essa história com o filho, e a possibilidade de vê-lo seguir seus passos no rodeio é uma de suas maiores realizações.

A partir de 2005, João Peres Sousa intensificou sua participação em rodeios no Acre e Rondônia. Em busca de maior visibilidade, optou por se afastar temporariamente do circuito acreano e concentrar-se nas competições rondoniense. Durante as temporadas, chegava a passar dois ou três meses na estrada, competindo em diferentes cidades e consolidando seu nome no cenário regional.

Uma vida dedicada aos 8 segundos da arena. Foto: Arquivo Pessoal

Nesse período, João conquistou títulos expressivos, como os campeonatos em Buritis (RO) e Humaitá (AM), além de chegar à final em Manaus, com diversas vitórias ao longo da carreira. Mesmo com os resultados positivos, manteve a humildade. Sempre se definiu como um competidor de nível intermediário, que construiu sua trajetória com esforço, persistência e respeito por todos ao seu redor.

Além dos títulos em diversos municípios, João guarda com carinho suas duas vitórias em Acrelândia, cidade que considera de sorte, onde ganhou duas motocicletas. Ao longo da carreira, acumulou sete motos e um carro, conquistas que vão além dos prêmios, simbolizando sua trajetória e dedicação nas arenas.

Nem tudo foi glória na trajetória de João. Como muitos atletas, ele enfrentou uma fase difícil, marcada por instabilidade emocional, perdas de oportunidades e o afastamento de pessoas que antes o acompanhavam. “Nos momentos bons, muita gente se aproxima. Mas na dificuldade, poucos ficam”, costuma afirmar. Apesar do surgimento de novos talentos, como Kiko, João manteve a humildade e continuou lutando pelo seu espaço, mesmo diante das limitações logísticas que dificultavam a participação em rodeios fora do estado.

Para João, competir em viagens distantes era um sonho tão distante quanto hoje é Barretos. Entre altos e baixos, manteve o foco, fez boas escolhas e cultivou amizades verdadeiras. A perda de um amigo e colega durante um rodeio em Vista Alegre marcou profundamente sua vida, levando-o a interromper as competições naquela temporada.

Com a chegada da pandemia, que impactou fortemente o universo dos rodeios, João optou por não participar de eventos fechados ou virtuais. Preferiu dedicar-se à família e a outras responsabilidades, especialmente à criação do filho. Mesmo assim, permaneceu ativo em competições locais, evitando longas viagens.

Força, coragem e resistência marcam a trajetória de do vencedor do Rodeio da Expoacre 50 anos. Foto: Marcos Santos/Secom

Em 2023, após uma conversa em grupo com o tropeiro Adriano Mesquita, do Caquetá, João recebeu um convite para retornar às arenas, iniciando gradualmente sua retomada no cenário do rodeio. “Venha, participe do rodeio!”, disse Adriano Mesquita ao competidor.

Inicialmente hesitante e receoso de não ter o mesmo desempenho, João recusou, preferindo apenas assistir.

Duas semanas depois, João reconsiderou e decidiu participar. Com um amigo em boa fase, foi ao evento e fez duas montarias; embora não tenha permanecido os oito segundos, teve um desempenho que lhe devolveu a confiança. Na semana seguinte, competiu em sua cidade, chegou à final e conquistou o quinto lugar, a motivação e retomada que precisava.

O ano de 2023 terminou com conquistas marcantes para João, foi vice-campeão na Expoacre, ganhando uma motocicleta, e campeão no rodeio de Sena Madureira, onde recebeu outra moto. Retornar às competições e conquistar dois títulos no mesmo ano, após longo afastamento, foi, segundo ele, algo extraordinário.

Evidenciando sua trajetória com a maturidade de mais de duas décadas de experiência, João Peres Sousa reflete sobre seus caminhos, vitórias e aprendizados. Reconhece que, embora algumas memórias se desvaneçam, as marcas das experiências permanecem firmes.

Consagração de João como vencedor do Rodeio da Exposena 2023. Foto: cedida

Ao longo da carreira, João sempre cultivou respeito mútuo e relações saudáveis com colegas, tropeiros, juízes e salva-vidas, formando amizades sólidas. Como em qualquer ambiente profissional, enfrentou atritos e divergências, geralmente pela defesa coletiva da classe dos peões, e não por interesses pessoais. Sua postura combativa e respeitosa é registrada em diversos documentos online, evidenciando seu firme posicionamento em prol dos direitos da categoria.

Hoje, com mais clareza e equilíbrio, João reconhece que, se tivesse tido a maturidade em seus momentos de auge, sua carreira poderia ter sido ainda mais destacada. “Tudo tem seu tempo”, afirma. Após quase 25 anos montando em touros, a conquista do primeiro carro, ocorrida recentemente, representa um marco simbólico em sua trajetória.

Com uma mente mais aberta, João valoriza o diálogo e não hesita em pedir desculpas quando reconhece erros, sempre priorizando o respeito e evitando confrontos desnecessários. Reconhece que cada pessoa tem seu espaço e seu tempo, e acredita que um verdadeiro profissional respeita o próximo, não se guia pela inveja e sabe reconhecer seus próprios limites.

João orgulha-se das amizades construídas e agradece por ser exemplo para muitos jovens que iniciam no rodeio. Para ele, essa admiração é o maior reconhecimento. “Procuro transmitir o melhor, pois acredito que, mais que um bom peão, é fundamental ser um bom ser humano”, conclui.








































 

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Fonte: Agência de Notícias do Acre

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