Com colaboração de Rebeca Martins
“Sentimento de respeito que alguém sente por si mesmo” é uma das definições da palavra orgulho do dicionário brasileiro de língua portuguesa Michaelis e tal sentimento é de extremo significado para a comunidade LGBTQIA+, principalmente neste 28 de junho, onde é celebrado o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+.
A data remonta à revolução ocorrida em Nova York, em 28 de junho de 1969, no bar Stonewall Inn, um dos poucos espaços de acolhimento para a comunidade na época, frequentado principalmente por pessoas marginalizadas. Alvo constante de batidas policiais violentas, o local foi cenário de uma reação histórica naquela madrugada, quando frequentadores decidiram enfrentar a repressão e iniciar uma série de protestos que duraram seis dias, tomaram as ruas da cidade e marcaram o início do ativismo organizado pelos direitos LGBTQIA+, inserindo a pauta no debate público de forma irreversível.
Hoje, 56 anos depois e todos os anos seguintes, são momentos oportunos para marcar o espaço na sociedade, celebrar as vivências e conhecer personalidades que lutam contra preconceitos e vestem o seu orgulho diariamente. Assim como, as ações desenvolvidas pelo governo do Acre na promoção da igualdade, do respeito e da aceitação para todos da comunidade composta por lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, queer, intersexo, assexuais e outras.
Quadrilhas juninas como espaços de liberdade
Durante o Arraial Cultural, promovido pelo governo do Estado, o 23º Concurso Estadual de Quadrilhas Juninas mostra que o São João acreano vai além da dança e do folclore, é também um espaço de cura e acolhimento.
Entre as 15 equipes participantes, destaca-se a tradicional CL na Roça, fundada em 1999 e sediada no bairro Boa União, em Rio Branco. O grupo, que nasceu de uma iniciativa da Paróquia Cristo Libertador, hoje reúne cerca de 100 integrantes de diferentes bairros e se afirma como um espaço de celebração da cultura e da diversidade.

Para Natasha Silva, participante da quadrilha desde 2019, o envolvimento com o grupo vai muito além da arte. “Fazer parte da comunidade LGBTQIA+ e estar dentro da junina é algo que me liberta. O grupo tem um papel muito importante na vida de muita gente, tira pessoas do mundo das drogas, da depressão, de situações difíceis. Muitas de nós carregamos dores escondidas no peito, mas quando chega o São João, quando a gente entra na dança, a gente se inspira, se entrega, e dá o nosso melhor.

Natasha, que atua como ponta da CL na Roça e faz parte da ala das Marias Bonitas neste ano, conclui: “Para mim, que já enfrentei tanto preconceito, dançar São João é como respirar liberdade. Todas nós merecemos ser respeitadas, viver com dignidade e ter o direito de ser felizes.”
Outra integrante do grupo é Luísa Aurora Paparazzo, de 18 anos, atual rainha da diversidade da CL na Roça. Com trajetória na dança desde 2013, Luísa encontrou no universo das quadrilhas juninas um espelho de seus sonhos e da sua identidade.

“Fazer parte da CL na Roça e crescer dentro do movimento junino acreano é algo que me preenche de gratidão”, afirma. “A quadrilha é um espaço que realmente abraça a diversidade, que acolhe, que acredita nos nossos sonhos. Desde pequena, eu via as meninas que eram rainhas e ficava encantada, imaginando o dia em que eu também poderia estar ali, representando. Hoje, com o apoio da minha equipe e com esse espaço que valoriza quem somos, estou realizando esse sonho”, finaliza.
Para ambas, o apoio mútuo entre os membros LGBTQIA+ é o que fortalece o coletivo. “A gente se acolhe. A gente se vê uma na outra. É isso que precisamos: visibilidade, reconhecimento e respeito”, afirma Aurora, que atualmente cursa o terceiro ano do ensino médio. Natasha, que trabalha com serviços gerais e está no segundo período de pedagogia, destaca como a formação acadêmica também a transforma: “Estou aprendendo a cuidar do próximo. Isso também é orgulho”.
Propagando a diversidade
O acolhimento promovido em pequenas comunidades também vai de encontro com as ações de compromisso institucional do governo do Acre com a promoção da igualdade. Por meio da Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos (SEASDH), ações concretas vêm sendo implementadas para garantir o respeito e os direitos da comunidade LGBTQIA+.

A Divisão de Promoção da Diversidade Sexual levanta iniciativas que abrangem diversas áreas. No campo da proteção e informação jurídica, destacam-se o apoio à produção e distribuição da cartilha “O que você precisa saber sobre os direitos da população LGBTQIA+” e a assinatura de um acordo de cooperação entre a SEASDH e o Ministério Público do Acre (MPAC) para ampliar o atendimento às vítimas de LGBTfobia.

Na frente cultural, o estado tem fortalecido a realização de eventos de impacto social e simbólico, como o apoio ao Festival Transamazônico de Cinema, que se consolidou como um espaço de resistência e visibilidade.

Na esfera das políticas públicas estruturadas, foi instituído o Comitê de Oportunidades Econômicas, voltado para a geração de emprego e renda digna para pessoas LGBTQIA+. A 4ª Conferência Estadual LGBTI+, realizada após uma década sem edições, retomou os debates fundamentais sobre violência, trabalho, interseccionalidade e políticas públicas.

Durante o mês do Orgulho LGBTQIA+ em 2025, o Acre promove ainda eventos como o 1º Seminário Estadual de Educação, Empregabilidade e Diversidade e o 1º Encontro “Empreendendo com Diversidade no Acre”.
A Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre) tem investido na qualificação contínua de seus profissionais, com o objetivo de tornar o atendimento cada vez mais humanizado. Como resultado, a Unidade de Referência em Atenção Primária (Urap) Ary Rodrigues, em Rio Branco, implantou um novo fluxo de atendimento voltado ao público LGBT+, com foco especial na população trans e travesti.

A Urap atua como porta de entrada para esse atendimento humanizado, encaminhando os pacientes ao Ambulatório de Atendimento Especializado (AAE), localizado na Policlínica do Tucumã. A Policlínica é a unidade de referência estadual para o processo transexualizador, conforme estabelece a Portaria nº 2.803, de 19 de novembro de 2013. Os primeiros atendimentos no ambulatório especializado tiveram início em janeiro de 2024.
Dignidade para elas
A Secretaria de Estado da Mulher do Acre (Semulher) é outra importante ferramenta do governo do Acre na promoção de direitos e dignidade da população LBT+, com foco especial nas mulheres lésbicas, bissexuais, transexuais e travestis. Suas ações se concentram em iniciativas inclusivas e interseccionais, com atenção às desigualdades de gênero, orientação sexual, raça e condição social.
Um dos principais instrumentos dessa atuação é o programa Sou a Travesti, Existo!, que visa combater a transfobia, ampliar o acesso a direitos e fomentar a empatia social. A cartilha funciona como um material educativo e de conscientização, abordando temas como identidade de gênero, direitos humanos e inclusão social. A segunda edição desse material foi lançada em junho de 2025, reforçando o compromisso com a informação acessível e o enfrentamento à desinformação.

Sobre o programa, a responsável pela Divisão de Diversidade de Orientação Sexual e Identidade de Gênero da Semulher, Dahlia Pagu destaca: “Batemos de frente contra o preconceito munidas com as políticas públicas. Buscamos as mulheres que são deixadas de lado pela sociedade, que sofrem em silêncio, e promovemos cidadania, dignidade e as aproximamos dos seus direitos”.

O programa também realiza ações concretas de sensibilização e apoio direto à comunidade trans e travesti, como a adesivação de leis antidiscriminatórias em espaços públicos e comerciais, os pit-stops noturnos com entrega de kits de saúde para mulheres em situação de prostituição, e a promoção de palestras, workshops e inserção em cursos profissionalizantes, ampliando o acesso a ferramentas de autonomia econômica.
Além disso, a Semulher conduz o Programa Impacta Mulher, que oferece qualificação profissional como meio de geração de renda e superação do ciclo de violência. Embora não seja exclusivo para a população LBT+, mulheres dessa comunidade são contempladas pelas ações, reconhecendo os impactos agravados do preconceito e da marginalização sobre suas trajetórias.
Outro destaque é a realização dos Ciclos Terapêuticos para mulheres negras, que também acolhem mulheres trans e trabalhadoras domésticas. Esses encontros criam espaços de escuta, cuidado e fortalecimento emocional, tratando temas como bem-viver, autoestima, saúde mental e os desafios impostos pela interseccionalidade entre gênero, raça e classe social.

A titular da pasta, Márdhia El-Shawwa, ressaltou que a Semulher está sempre atenta às necessidades da população LBT+. “Nossas ações são desenvolvidas baseadas no diálogo direto com os conselhos da população LGBTQIA+ e de mulheres trans. A representatividade é um princípio que levamos muito a sério. Todas as mulheres devem ser valorizadas. Todas merecem viver com liberdade, segurança e livres de qualquer forma de violência”.

A luta pela igualdade e pelo respeito à comunidade LGBTQIA+ é uma jornada contínua, impulsionada por vozes corajosas e por ações concretas de governos, instituições e cidadãos comprometidos com a justiça social. E a construção deste futuro mais inclusivo não se restringe a legislações e políticas públicas, é uma responsabilidade coletiva que envolve a educação, a conscientização e o fortalecimento de vínculos comunitários e familiares.
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Fonte: Agência de Notícias do Acre