Por mais que uma criança esteja doente, ela não deixa de ser criança, nem de estudar, nem de sonhar. Essa é a premissa que sustenta o programa Classe Hospitalar, promovido pelo governo do Acre, por meio da Secretaria de Estado de Educação e Cultura (SEE), que leva o direito à educação a crianças, jovens e adultos em tratamento de saúde nos hospitais do estado.
Com o objetivo de garantir a continuidade da escolarização formal para aqueles que, temporária ou permanentemente, não podem frequentar a escola, o programa atua em ambientes de internação, hospital-dia, hospital-semana, serviços de atenção integral e também em domicílio. A missão é clara: evitar evasão, repetência ou fracasso escolar e, acima de tudo, manter vivo o direito ao conhecimento.
Atualmente, a Classe Hospitalar funciona em três unidades: Hospital da Criança, Hospital do Câncer (Unacon) e Hospital de Saúde Mental do Acre (Hosmac). A média de atendimento chega a 60 crianças por mês, entre 4 e 13 anos. Para cada uma, é elaborado um planejamento pedagógico personalizado, baseado em entrevistas, diagnósticos e, muitas vezes, com o apoio das escolas de origem.

“O importante é não quebrar o vínculo com a escola. Mesmo que a criança não possa ficar quatro horas em aula, esse tempo, ainda que breve, é essencial. Traz acolhimento, rotina, socialização e continuidade nos estudos”, explica a professora Eliana de Oliveira, que atua na unidade do Hospital da Criança.
A Classe Hospitalar vai até os leitos, quando necessário. Atividades lúdicas, contação de histórias, jogos educativos e reforço escolar fazem parte da rotina, sempre respeitando o estado de saúde do aluno. Quando o tratamento exige longas internações, o conteúdo escolar é seguido conforme a escola de origem. Em alguns casos, até avaliações são realizadas e encaminhadas com portfólio completo, garantindo a continuidade da vida acadêmica do aluno.
Histórias de quem aprende entre consultas e cuidados
Gabriela de Lima, de 6 anos, é uma dessas pequenas guerreiras. Em tratamento renal e vinda do município de Xapuri, ela não pode frequentar a escola por risco de infecções. Para a mãe, Grassiana de Lima, o trabalho da Classe Hospitalar tem sido essencial:

“É bom, porque a professora conta historinha, ensina o alfabeto, as palavras, os desenhos. Aí é bom pra ela, que ela vai se desenvolvendo. Para mim tá sendo bom, porque ela não tá sendo prejudicada na aprendizagem”, relatou.
Peterson Silva, de 14 anos, de Santa Rosa do Purus, também aproveita cada aula, mesmo internado. Fã de futebol, ele sente falta das interclasses. “Aprendi matemática, a pintar melhor, contar em inglês, ouvir histórias. Eu gosto muito. Quando eu melhorar, quero voltar para a escola e rever meus amigos”, declarou.

Já Ana Francisca Nunes, de 12 anos, internada para investigar crises na coluna, revela outro lado da importância do programa: “Quero ser fisioterapeuta. A professora já passou matemática, e eu estou fazendo as contas. Espero ficar boa logo e voltar pra escola. Gosto de conversar com os professores. Prefiro gente mais madura”, contou.

A mãe de Ana, Vangelina Nunes, reforça o valor desse suporte. “É bom pra mente dela, pra desenvolver, porque aqui a gente só tem o teto pra olhar. A escola dentro do hospital é um respiro”, disse.
Educação e saúde em sintonia: o simpósio internacional
Pela primeira vez, o Acre sediará o Simpósio Internacional do Programa Classe Hospitalar, evento bienal que reúne especialistas, educadores e profissionais da saúde para debater políticas públicas, metodologias e desafios dessa atuação intersetorial.
Marcado para os dias 21 a 23 de outubro de 2025, no auditório da Ufac, o simpósio contará com palestrantes nacionais e internacionais e terá apresentações de trabalhos científicos, que serão posteriormente publicados em um e-book.

“Estamos com grandes expectativas. Nunca tivemos um evento desse porte aqui no estado. Vai ser um momento de troca, de aprendizado e de valorização de um trabalho que muda vidas”, comenta Clarice Oliveira, responsável pela orientação e acompanhamento do programa.
As inscrições estarão disponíveis a partir do final de maio, em formato híbrido (presencial e online). A organização está em fase final de estruturação e contará com divulgação em breve.
Educar também é cuidar
O Classe Hospitalar é um elo entre o presente e o futuro das crianças, jovens e adultos em tratamento. Ao preservar o vínculo com a escola, o programa cultiva esperança, fortalece a autoestima e mostra que, mesmo em meio a dor, o aprendizado continua sendo possível.

Afinal, como diz a pedagoga Eliana, “quando a criança voltar para a escola, ela vai voltar com segurança, porque aqui, mesmo no hospital, ela nunca deixou de ser aluna”.
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Fonte: Agência de Notícias do Acre