As vendas de dispositivos eletrônicos relacionados à saúde saltou durante a pandemia de Covid-19 , ao mesmo tempo em que os gadgets , sobretudo os vestíveis, se tornam ainda mais tecnológicos e com recursos cada vez mais precisos.
Um exemplo de empresa que viu saltar as vendas de gadgets relacionados à saúde foi a Xiaomi . Mesmo com tantos celulares, o dispositivo que a marca mais vendeu no Brasil durante a pandemia foi a balança. Entre abril de 2020 e março de 2021, cresceram 300% as vendas de balanças pela marca em todo o país, taxa que alcançou 950% em algumas regiões.
Outros dispositivos que tiveram bastante destaque foram as smartbands , pulseiras inteligentes que possuem diversas funções relacionadas à saúde e à atividade física.
“Mantivemos um bom desempenho das smartbands, com dois picos de vendas. O primeiro no lançamento em julho de 2020 da Mi Smart Band 5 e o segundo em junho de 2021 no lançamento da Mi Smart Band 6. Esses crescimentos, além de estarem ligados aos lançamentos, tiveram um bom desempenho devido ao fato dos produtos possuírem um modo de esporte indoor”, comenta a companhia, em nota enviada à reportagem.
A prática esportiva dentro de casa, que ganhou força durante o isolamento social imposto pela pandemia, alavancou as vendas do setor de tecnologia. De acordo com a Amazon , notou-se um “aumento expressivo na procura e venda de itens pra fazer exercício em casa e também em smartwatches”.
Mais populares e melhores, mas cuidado!
Além de terem se tornado mais populares, os dispositivos vestíveis como smartwatches e smartbands trazem cada vez mais recursos relacionados à saúde. O acompanhamento dos batimentos cardíacos ficou mais preciso, e ferramentas como oxímetro (grande aliado durante a pandemia) e relatórios cardíacos completos foram implementados. Os dispositivos ainda permitem acompanhamento do sono e de atividades físicas, além de diversas outras funções.
Tudo isso pode ser um grande aliado para a promoção da saúde, afirmam especialistas, mas é preciso que existam limites. Leandro Girardi Shimba, médico ortopedista das Seleções Femininas de Futebol Brasileiro, afirma que esses gadgets podem ser bastante úteis se usados em parceria com o acompanhamento médico.
Você viu?
“Eu gosto muito desses gadgets novos. Tem muitos aparelhos que estão bastante avançados, tem smartwatches que já têm uma proposta de rodar exames como eletrocardiograma, de detectar algumas alterações no batimento cardíaco”, comenta.
O médico afirma que os smartwatches e smartbands podem ajudar médicos cardiologistas nos diagnósticos e médicos preparadores físicos nos treinamentos dos pacientes, por exemplo. Sozinha, porém, a tecnologia pode acabar enganando.
“A tecnologia veio muito para ajudar os médicos nos diagnósticos, mas ela também acaba trazendo um problema. Por exemplo, hoje a gente brinca que tem o Dr. Google . Grande parte dos pacientes acaba chegando no nosso consultório, hoje, com um diagnóstico feito pelo Dr. Google. Com a tecnologia, com esses smartwatches, o que pode acontecer é isso: às vezes a pessoa acha que ela sabe tudo, que ela conhece seu corpo, que ela pode cuidar sozinha da sua saúde, ter controle de alguns parâmetros vitais. Ela fica confiando na tecnologia e acha que não precisa procurar um médico”, alerta Shimba.
O psicólogo Roberto Debski também é favorável ao uso dos gadgets que ajudam na promoção da saúde, desde que com parcimônia. Ele explica que o acompanhamento constante das métricas emitidas pelos dispositivos pode acabar sendo mais uma carga mental para os pacientes.
“Sempre que a pessoa sente a necessidade de avaliar frequentemente alguns parâmetros dos gadgets, imaginando estar doente, sentindo ansiedade, e preocupação excessivas, está ultrapassando um limite saudável e pode gerar mais ansiedade e estresse”, comenta.
Marcas podem ajudar na educação da saúde
Para Shimba, o ideal seria que as fabricantes de dispositivos relacionados à saúde ajudassem na educação relacionada ao tema, sem distorcer a finalidade dos gadgets. “Não dá só para desenvolver [a tecnologia] e não educar as pessoas. Então, as empresas têm que tomar cuidado com a forma que eles vão vender o produto deles, com a forma que eles vão falar. Não falar que aquilo vai substituir um diagnóstico médico, um acompanhamento de um profissional qualificado”.
Além de não comunicar de forma equivocada o uso dos gadgets, o médico diz que as empresas de tecnologia poderiam usar os dispositivos para levar ainda mais informação relacionada ao tema. Ele comenta, por exemplo, que poderiam haver avisos a respeito de exames de rotina para determinadas faixas etárias. Assim, os usuários de dispositivos tecnológicos seriam incentivados a se consultarem com médicos frequentemente. “Nós médicos vamos ter exames de rotina, isso não pode deixar de acontecer só porque a pessoa tem um dispositivo para acompanhar a saúde”, afirma.
“Nada irá substituir a avaliação de um médico ou outros profissionais da saúde. A tecnologia vem como uma auxiliar valiosa, para ser integrada aos cuidados de saúde, não substituí-los”, complementa Debski.