InícioDISTRITO FEDERALSegurança hídrica no DF pode ser replicada no país e no exterior

Segurança hídrica no DF pode ser replicada no país e no exterior


Depois da crise de água em 2016 e 2017, o DF passou a a desenvolver projetos que começaram a mostrar agora seus resultados. É o caso da recomposição de vegetação nativa nas margens do Lago Paranoá | Fotos: Divulgação/Sema

“São projetos-pilotos, mas acredito que servirão como referência para os estados e também, quem sabe, para outros países, já que Brasília tem um lugar importante como capital da República” Sarney Filho, secretário de Meio Ambiente

A segurança hídrica do Distrito Federal reúne experiências implantadas de projetos-pilotos que poderão ser replicadas nos estados do Brasil e em outros países. Foi o que destacaram o secretário de Meio Ambiente, Sarney Filho, e dirigentes de instituições parceiras, durante evento on-line referente às comemorações da Semana Mundial da Água.

As experiências a que se referiram estão sendo desenvolvidas nas bacias do Descoberto e do Paranoá e na Orla do Lago Paranoá. Fazem parte do projeto multilateral CITinova, que busca desenvolver soluções inovadoras para apoiar gestores públicos, incentivar a participação social e promover cidades mais justas e sustentáveis.

“São projetos-pilotos, mas acredito que servirão como referência para outros estados e também, quem sabe, para outros países, já que Brasília tem um lugar importante como capital da República”, disse Sarney Filho. “Alguns embaixadores, inclusive, já manifestaram o desejo de conhecer pessoalmente essas ações, o que não aconteceu ainda em função da pandemia.”

Na avaliação do secretário, o Distrito Federal está encontrando seu caminho para garantir a segurança hídrica. “Assim, colaboramos com o avanço rumo à sustentabilidade e também tomamos medidas de adaptação para as mudanças climáticas que virão, certamente”, complementou.

“Os projetos-pilotos apoiados pelo CITinova ficarão disponíveis e servirão de modelo para ser replicados em larga escala por gestores públicos de todo o país” Antônio Marcos Mendonça, diretor nacional do CTinova do Ministério de Ciência e Tecnologia

Em larga escala

Durante o encontro virtual, realizado na quinta-feira (25), foi detalhado que o CITinova é um projeto multilateral liderado pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). No DF, é coordenado pela Secretaria de Meio Ambiente (Sema) em parceria com o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), com recursos do Global Environment Facility (GEF).

O diretor nacional do CITinova, Antônio Marcos Mendonça, do MCTI, reforçou o caráter de replicabilidade das experiências implementadas pelo projeto. “Em Brasília, inúmeras iniciativas para segurança hídrica estão sendo executadas pela Sema nas bacias hidrográficas do Descoberto e do Paranoá, duas bacias de extrema relevância para o abastecimento e sustentabilidade do DF. Os projetos-pilotos apoiados pelo CITinova ficarão disponíveis e servirão de modelo para ser replicados em larga escala por gestores públicos de todo o país”, disse.

A coordenadora do CITinova no Governo do Distrito Federal (GDF), Nazaré Soares, explicou que, no território, são executados projetos em duas grandes frentes, uma voltada à geração de conhecimento para subsidiar o processo de elaboração de políticas públicas baseada em evidências e outra focada em boas práticas e testes-pilotos.

“É um conjunto de iniciativas que estão sendo implementadas, dentro de uma nova abordagem que precisamos dar ao tratar desses temas”, detalhou.

Ações de recomposição da vegetação nativa podem ser conhecidas nas áreas de proteção permanente (APPs)

Recomposição na fonte

De acordo com a Sema, o público em geral pode conhecer as ações de recomposição da vegetação nativa em áreas de proteção permanente (APPs) de nascentes, cursos hídricos e em áreas de recarga das bacias hidrográficas do Descoberto e do Paranoá. Também podem ser conhecidos o projeto de água estruturada para irrigação da Bacia Hidrográfica do Descoberto e os sistemas agroflorestais (SAFs) mecanizados nas bacias do Paranoá e do Descoberto.

A subsecretária de Assuntos Estratégicos da Sema, Márcia Coura, apresentou o Projeto de Recuperação de APPs da Orla do Lago Paranoá, que envolve o plantio de espécies nativas.

“As cidades têm grande necessidade de água potável e, paradoxalmente, são também grandes fontes de contaminação” Asher Lessels, representante do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma)

Na Orla Sul, detalhou, as ações contam com recursos do Fundo Único de Meio Ambiente do Distrito Federal (Funam). Com diagnóstico já concluído, uma segunda etapa do plantio envolverá a Orla Norte do Paranoá, dentro do programa Recupera Cerrado, que tem recursos da Fundação Banco do Brasil.

A Bacia do Descoberto/Alto Descoberto contempla o Alto Rio Descoberto, o Ribeirão Rodeador e o Ribeirão das Pedras. Já a Bacia do Paranoá inclui o Lago Paranoá – Serrinha do Paranoá e a área do Riacho Fundo conhecida – Área de Relevante Interesse Ecológico (Arie) Granja do Ipê. Juntas, respondem pela maior parte do abastecimento público do DF.

Também presente ao evento, o representante do Pnuma, Asher Lessels, afirmou que não se pode subestimar a importância de gerir de forma sustentável as bacias e fontes de água potável. “As cidades têm grande necessidade de água potável e, paradoxalmente, são também grandes fontes de contaminação”, analisou.

Dessa forma, explicou Lessels, o programa está comprometido a ajudar os países a cumprir o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 6, que trata sobre água potável e saneamento. “Temos muito por fazer e, nesse contexto, o CITinova é um passo importante para as cidades brasileiras”, complementou.

“O DF passou um susto e 2016 e 2017, com uma crise hídrica que trouxe muitos reflexos para a agricultura e para a sociedade urbana, mas que provocou novos comportamentos das instituições, produtores, organizações da sociedade civil” Luciano Mendes, secretário executivo da Seagri

Resultados do susto

O secretário executivo da Secretaria da Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (Seagri), Luciano Mendes, explicou que a pasta executa muitas ações voltadas à segurança hídrica no DF.

“O Distrito Federal passou um susto nos anos de 2016 e 2017, um momento traumático com uma crise hídrica que trouxe muitos reflexos para a agricultura e para a sociedade urbana, mas que provocou novos comportamentos das instituições, produtores, organizações da sociedade civil. A partir disso, muitos projetos foram colocados em prática, e já começamos a ver os resultados”, afirmou.

Segundo a presidente em exercício da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do DF (Emater), Loiselene Trindade, a gestão dos recursos hídricos é um tema que a Emater considera fundamental no momento atual. “Trata-se do bem mais precioso, a água, de grande relevância e importância para todos nós. Na Emater, atuamos em projetos de grande relevância junto aos produtores em várias bacias hidrográficas do DF”, disse.

Para a diretora do CGEE, Regina Silvério, quando o trabalho é feito em parceria e colaboração, os resultados são mais efetivos e, no somatório, é possível apresentar mais e melhores resultados. “A água tem um impacto direto na agricultura, mas reverbera fortemente em vários outros aspectos da vida dos cidadãos; e as iniciativas apresentadas, realizadas pela Sema no âmbito do CITinova, são focadas na melhoria da qualidade de vida do cidadão”, destacou.

Projetos apresentados

Água estruturada para irrigação da Bacia Hidrográfica do Descoberto

Estudo desenvolvido a partir de dois projetos-pilotos, um em área aberta e outro em estufa. A água que será utilizada na irrigação dos cultivos passa por três magnetizadores, sendo dois importados e um desenvolvido por pesquisadores brasileiros.

A água, submetida à Indução Magnética Estática (IME), possibilita uma hidratação maior que altera o metabolismo celular, disponibilizando mais energia para o crescimento das plantas, reduzindo o consumo de água e agrotóxicos. Os magnetizadores de alta vazão de água com baixo custo visam à maior intensidade e eficiência magnética, possibilitando aumento de produtividade em sistemas de irrigação convencionais.

O estudo analisa a intensidade de indução magnética que proporciona maior desenvolvimento vegetativo, produção de fitomassa e produtividade em culturas de milho, rabanete e alface. Os resultados esperados são maior qualidade da produção e redução de consumo de água para irrigação, e serão conhecidos até o final do ano.

Sistemas Agroflorestais (SAFs) mecanizados nas bacias do Paranoá e do Descoberto

A agrofloresta com mecanização testa a eficiência dos pontos de vista ambiental, social e econômico da inserção de maquinário na implantação desse modelo agrícola. O projeto já está implantado em 20 hectares, envolvendo 37 famílias. O foco é garantir que esses sistemas agrícolas, mais amigáveis do ponto de vista ambiental, contribuam para a continuidade de produção de água em qualidade e quantidade nas duas bacias hidrográficas que abastecem a maior parte da população de Brasília. Assim, a substituição de uma agricultura tradicional pelos SAFs com mecanização poderá ser mais atrativa para o produtor rural dessas localidades, melhorando a produção de água para os dois lagos de abastecimento público: Lago do Descoberto e Lago Paranoá.

Foram plantadas por propriedade, em média 400 mudas de diferentes espécies nativas. Para a implementação dos plantios, foram utilizados implementos específicos para Sistemas Agroflorestais, que estão sendo testados pelo projeto e são inéditos para essa atividade.

Áreas de Proteção Permanente (APPs) de nascentes, cursos hídricos e em áreas de recarga das bacias hidrográficas do Descoberto e do Paranoá

O projeto de recomposição de vegetação nativa em 80 hectares de áreas de preservação permanente (APPs) de nascentes, áreas de recarga hídrica e demais APPs degradadas ou alteradas nas Bacias do Rio Descoberto e Rio Paranoá, atua prioritariamente nas unidades hidrográficas (UHs) do Alto Descoberto, Ribeirão das Pedras e Ribeirão Rodeador, bem como nas UHs do Riacho Fundo e Lago Paranoá. Essas unidades são estratégicas para a recuperação ambiental, pois concentram nascentes e cursos hídricos que contribuem diretamente no abastecimento público do Distrito Federal.

Entre as ações, destaca-se o apoio ao pequeno produtor rural, com insumos e assistência técnica, permitindo o uso sustentável nas propriedades rurais, a regularização ambiental e a recomposição e proteção das APPs degradadas ou alteradas.

Durante todo o projeto, as áreas-alvos para a recomposição recebem diferentes técnicas de recomposição, a fim de analisar os diferentes processos naturais de sucessão de vegetação vegetal, o aumento da biodiversidade e a melhoria de habitats. Ao final, haverá capacitações e será elaborado material didático para distribuição, com a sistematização das melhores técnicas empregadas, permitindo a replicabilidade de projetos dessa natureza.

Recuperação de Áreas Degradadas e Danos nas Áreas de Preservação Permanente (APPs) da Orla do Lago Paranoá

Prevê a recuperação da Orla do Lago Paranoá. Na Orla Sul, serão cerca de 65 hectares ao longo das APPs, com ações nos 30 metros às margens do espelho d’água. O investimento é de $ R$ 2.461.710, recursos provenientes do Fundo Único do Meio Ambiente (Funam). A primeira etapa do trabalho na Orla do Lago Sul teve início na Arie do Bosque, na QL 10, no início do ano passado. A área em recuperação tem 4,5 hectares e recebeu plantio de 1.770 mudas de variadas espécies nativas do Cerrado. Desde dezembro de 2020, aproximadamente 40 hectares de áreas receberam ações de recuperação. Até o fim do ano, terão sido plantadas 44.230 mudas.

Na Orla Norte do Lago, as ações de recuperação serão executadas pelo Instituto Espinhaço – Biodiversidade, Cultura e Desenvolvimento Socioambiental, de Minas Gerais, selecionado pelo Edital Recupera Cerrado, lançado pela Fundação Banco do Brasil, em parceria com a Sema e o Brasília Ambiental. Os recursos são da ordem de R$ 1,42 milhões.

O Diagnóstico Ambiental das Áreas Degradadas na Orla Norte do Lago Paranoá apontou 202,90 hectares passíveis de recuperação. Do total, 40 hectares serão recuperados pelo Espinhaço. A instituição ainda está em fase de estudo para apontar as áreas prioritárias para receber o plantio de mudas.

*Com informações da Sema

Fonte: Governo DF

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