Os Mananciais da Serra, em Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba, são uma espécie de santuário de libélulas. Preservada pela Sanepar, essa área de Mata Atlântica abriga 113 espécies do inseto, que é considerado um bioindicador, pois sua presença sinaliza rios limpos.
Os mananciais são protegidos desde 1904, quando começaram as obras para o primeiro sistema de captação de água para Curitiba. A Sanepar utilizou a estrutura até 2004 para abastecer a capital paranaense e, em 2020, reativou essa captação por causa da crise hídrica.
Com o nome científico de Odonata, as libélulas foram identificadas por um estudo realizado nos mananciais pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Os pesquisadores registraram recentemente 53 novas espécies, o que fez quase duplicar o número de categorias desses insetos em território paranaense. Antes, eram catalogadas 60. Além disso, cinco espécies até então desconhecidas dos cientistas serão descritas futuramente.
As libélulas têm muita importância para o homem. Além de indicar rios limpos, também sinalizam a saúde geral de riachos, brejos, lagos e reservatórios, visto que são sensíveis a mudanças ambientais dos ecossistemas aquáticos. Predadores vorazes, fazem o controle biológico de outras espécies vetores de doenças para o homem, como o mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue.
ABASTECIMENTO – Os Mananciais da Serra foram construídos entre 1904 e 1908 e formam um conjunto de 17 reservatórios. Foram a única fonte de abastecimento de Curitiba até 1945, passando a operar em conjunto com o sistema de estações de tratamento de água do Tarumã, do Iguaçu e das barragens até 2004.
No ano passado, em agosto, em meio à crise hídrica, foram reativados para ajudar a manter o nível da barragem Piraquara I. O sistema contribui com cerca de 30 a 40 litros por segundo que abastecem aproximadamente 6 mil famílias (ou 24 mil pessoas). O ambiente permanece intacto e preservado pela Sanepar.
PESQUISA – A coleta do material para a pesquisa nos Mananciais da Serra ocorreu entre dezembro de 2018 e abril de 2019. Foram programadas 20 expedições, que resultaram no registro de 1.700 exemplares na área mantida pela Sanepar e que abriga os principais reservatórios de abastecimento de água para Curitiba e região.
Os resultados foram publicados na revista Zoologia e fizeram parte do projeto de mestrado de Breno Rodrigo de Araújo, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas – Entomologia da UFPR. O trabalho teve orientação do professor Ângelo Parise Pinto, do Departamento de Zoologia e coorientação do professor André Adrian Padial, do Departamento de Botânica.
O próximo passo da pesquisa é a elaboração de outros artigos científicos, com o detalhamento das cinco espécies ainda não descritas e os impactos dos reservatórios na fauna pesquisada.
Com os dados levantados, o Paraná passa a ter a comprovação da existência em seu território de cerca de 12% das espécies de libélulas encontradas no Brasil.