Após semanas de sinalizações de alinhamento com os Estados Unidos por parte do governo brasileiro na política de banir a chinesa Huawei do 5G , as principais operadoras de telecomunicações que atuam no país decidiram cobrar transparência nas decisões a respeito da tecnologia.
A associação das empresas do setor pediu nesta sexta-feira (27) para que as operadoras participem das discussões e solicitou que elas sejam feitas de forma ampla e a partir de critérios técnicos.
“Diante do nosso papel fundamental na implementação da tecnologia no país , e preocupadas com as incertezas geradas por essas discussões, ressaltamos a necessidade de transparência de todo o processo, prezando assim pelo princípio fundamental da livre iniciativa presente em nossa Constituição Federal”, diz a nota do Conexis Brasil Digital.
Mais que uma internet de altíssima velocidade para celulares, a quinta geração de redes móveis de telefonia representará um novo marco para indústria, para agricultura de precisão, na criação de tecnologias para cidades inteligentes, segurança pública e internet das coisas.
No leilão previsto para o ano que vem, as teles vão disputar o direito de operar as bandas de frequência nas cidades e começar a oferecer a tecnologia no Brasil. Ainda não há data para a entrada em operação do 5G no país.
O leilão é apenas o primeiro passo para a implementação do 5G no Brasil , que ainda dependerá da expansão da infraestrutura das operadoras de telefonia. É a definição sobre a infraestrutura o alvo da pressão dos Estados Unidos.
Os EUA pressionam para que países como o Brasil vetem a Huawei na construção das redes de infraestrutura com o argumento da segurança de informações. A empresa é uma das maiores fornecedoras mundiais de tecnologia para 5G e tem como principais concorrentes a sueca Ericsson e a finlandesa Nokia.
No Brasil, os gastos associados a uma decisão como essa ainda não foram levantados, mas a decisão pode atrasar o 5G e comprometer os serviços já prestados, dizem as teles
“Esse ambiente de incertezas pode impactar o desempenho do setor, pois eventuais restrições implicarão potenciais desequilíbrios de custos e atrasos ao processo, afetando diretamente a população”, diz a nota.
As empresas não citam a empresa chinesa, mas mencionam preocupações com preço, escala e inovação.
“Questões como preço, escala mundial e inovações tecnológicas dos fornecedores hoje presentes no país são determinantes para que as melhores soluções e custos competitivos do serviço possam ser oferecidos pelas operadoras aos cidadãos”, diz a nota.
Sem fazer referência direta à Huawei, as operadoras destacam que “todos os fornecedores globais já atuam no país nas tecnologias 4G, 3G e 2G”.
“Uma eventual restrição a fornecedores do 5G pode atingir também a integração com a infraestrutura já em operação, com consequências diretas nos serviços oferecidos e custos associados, mais uma vez prejudicando os cidadãos brasileiros usuários dessa infraestrutura”, afirma a nota.
As teles afirmam ainda que podem contribuir com sua expertise técnica nos debates sobre a nova tecnologia e sobre a política pública para o 5G. Até agora, as discussões no governo acontecem a portas fechadas, sem a participação das empresas.